Os cidadãos de etnia cigana são mandados parar na rua pela polícia com maior frequência do que a generalidade da população em Portugal ou imigrantes com origem na África subsariana, sentindo-se, na maioria dos casos, vítimas de discriminação racial.

De acordo com o Relatório da Agência dos Direitos Fundamentais (FRA, na sigla inglesa) da União Europeia, a maioria dos cidadãos de etnia cigana ouvidos no inquérito em análise no relatório declarou ter a perceção de ter sido mandado parar pela polícia — de carro ou quando se deslocava a pé — por questões de discriminação racial.

“A perceção de ser vítima de discriminação racial ao ser mandado parar pela polícia nos cinco anos anteriores ao inquérito é mais comum entre imigrantes e descendentes de imigrantes do sul da Ásia na Grécia (89%), e de pessoas de etnia cigana nos Países Baixos (86%) e Portugal (84%)”, de acordo com o relatório da FRA, que se baseia num inquérito de 2019 relativo a discriminação e minorias na União Europeia (EU-MIDIS II).

A percentagem é bastante superior à apurada relativamente aos imigrantes e descendentes de imigrantes da África subsariana em Portugal, com 35% a declararem-se vítimas de discriminação racial nestas situações com as forças policiais.

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Os dados compilados pela FRA revelam que na maioria dos países as pessoas de origem cigana ou povos nómadas são mandados parar pela polícia com mais frequência do que a generalidade da população, uma desproporção que se acentua quando as deslocações se fazem a pé e não de carro, algo que também pode ser explicado, segundo o relatório, pelo facto de, em comparação com a generalidade a população, haver menos proprietários de veículos entre os cidadãos pertencentes a minorias étnicas.

Em Portugal, nos 12 meses anteriores ao inquérito, entre a generalidade da população houve 16% de pessoas a declarar ter sido mandada parar pela polícia, mas a análise por etnias mostra uma percentagem maior entre os cidadãos de origem cigana (19%) e menor entre os imigrantes ou descendentes de imigrantes da África subsariana (12%).

Segundo o relatório europeu, quando mandadas parar de carro, as minorias são mais sujeitas a pedidos de identificação e de comprovativo de permanência legal no país, mas também a revistas aos veículos.

Em Portugal, apenas 10% dos cidadãos de etnia cigana afirmaram sentir ter sido respeitados pela polícia quando abordados nestas situações, contra 92% da população geral. A perceção maioritária entre as pessoas ciganas é de desrespeito das autoridades (66%), mas 25% dizem não ter sido tratados nem com respeito nem com desrespeito.

Nos Países Baixas, por exemplo, a percentagem é ainda mais baixa, de apenas 3% a sentirem-se respeitados, que compara com 76% entre a generalidade da população. No que diz respeito a minorias africanas em Portugal, quase metade (47%) dos inquiridos declarou sentir-se respeitada pela polícia e 19% desrespeitada.

Entre a população geral em Portugal, a perceção de que a polícia trata os cidadãos com respeito é maioritária (72%), com apenas 3% a declarar a perceção de que isso raramente ou nunca acontece.