A indústria automóvel foi a primeira a ser chamada para servir de exemplo, mas a transição da mobilidade para soluções mais amigas do ambiente vai estender-se à aviação e ao transporte marítimo. Projectos em cada uma das áreas há muitos, mas a Alemanha assoma-se com aquele que será o primeiro ferry eléctrico para transporte de pessoas alimentado a energia solar.

Trata-se de um catamarã com 30 metros de comprimento e 8,26 metros de boca (largura máxima), capaz de receber 300 tripulantes e 18 bicicletas, tendo sido projectado para a realização de passeios turísticos e para assegurar a travessia do Lago de Constança (Bodensee, em alemão), que se situa na fronteira da Alemanha com a Áustria e a Suíça, sendo o terceiro maior lago da Europa Central, com 63 km de comprimento.

O barco está a ser construído pelo estaleiro alemão Ostseestaal KG, a pedido da empresa Bodensee-Schiffsbetriebe (BSB), que navega precisamente no sul do país. Ainda não há muitos detalhes acerca da embarcação, nomeadamente a potência dos motores eléctricos ou a faixa de autonomia, mas é garantido que o pack de baterias (960 kWh) vai ser alimentado por painéis fotovoltaicos. E a produção já foi iniciada, prevendo-se que a viagem inaugural aconteça dentro de pouco mais de um ano, em Julho de 2022. Se tudo correr como planeado, a BSB fez saber que vai avançar com a encomenda de uma outra embarcação deste tipo.

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Apesar de inovar por prever a alimentação das baterias com energia solar, o barco eléctrico alemão perde em dimensão para o Ellen, o maior ferry a bateria do mundo, que navega desse 2019 deixando de emitir, a cada ano de operação que passa, 2520 toneladas de dióxido de carbono. Mas a poupança nas emissões não se fica apenas pelo CO2 que, não sendo um poluente, contribui para o efeito estufa. Anualmente, o Ellen priva-se de lançar para a atmosfera 14,3 toneladas de óxidos de azoto (NOx), 1,3 toneladas de dióxido de enxofre (SO2) e 2,5 toneladas de partículas, pelo simples facto de ser exclusivamente eléctrico. Conta com um gigantesco pack de baterias com 4,3 MWh de capacidade, que energizam dois motores eléctricos de 750 kW cada e dois bow thrusters de 250 kW, responsáveis por fazer deslocar as 650 toneladas deste ferry a uma velocidade máxima de 12,1 nós (22,4 km/h). A autonomia, essa, é de 22 milhas náuticas – ou seja, com uma só carga, o Ellen consegue percorrer o equivalente a 40,7 km, com a vantagem de o custo de operação ser 1/4 do de um ferry a gasóleo da mesma bitola.

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O impressionante e-ferry navega no sul da Dinamarca e demorou quatro anos a ser concebido, tendo implicado um investimento de 21,3 milhões de euros, 15 milhões dos quais financiados pela União Europeia (UE) no âmbito do programa Horizonte 2020. A Organização Marítima Internacional determinou que as emissões dos barcos devem cair para metade até 2050, face aos valores de 2008. Contudo, a UE prepara-se para discutir essas metas em 2023, esperando-se que a revisão europeia passe por baixar as emissões do transporte marítimo em 70 ou mesmo 100% até 2050.