Não há melhor ocasião para testar um Ferrari do que durante um Europeu de Futebol, com a consciência de que a maioria dos jogadores tem um exemplar da marca do Cavallino Rampante como o seu brinquedo favorito estacionado lá na garagem. O F8 Spider, a versão com tejadilho escamoteável electricamente do coupé F8 Tributo, é um dos mais recentes veículos da casa e logo da gama mais divertida de conduzir, com o motor V8 biturbo colocado ao centro, pelo que foi com prazer que respondemos afirmativamente à possibilidade de o conduzir em Portugal, país com que a marca tem das mais antigas relações de representação.

O F8 é o substituto do 488, mas com profundas alterações na carroçaria e no interior para melhorar a estética e a eficiência, pois, na perspectiva dos estilistas da Ferrari, estas duas características caminham de mãos dadas. Na secção dianteira, uma S-Duct ajuda a colar a frente ao solo, sem prejudicar a aerodinâmica, para na traseira surgir uma asa e um extractor de ar sob o chassi, este último com a capacidade de regular a eficiência, para maximizar a aderência ou diminuir o apoio, incrementando a velocidade máxima. No acumulado, são mais 10% de downforce, o que permite curvar 6% mais depressa, segundo a Ferrari, o que pode ser significativo num modelo capaz de atingir 340 km/h.

Como é ao volante? Entre divertido e apaixonante

Como convém quando nos sentamos aos comandos de um superdesportivo que extrai 720 cv de um motor 3.9 V8 biturbo, começámos com calma, tanto mais que pretendíamos saber se o F8 Spider lidava bem com uma utilização no dia-a-dia. Em estrada, ou até mesmo em cidade através de ruas com o pavimento em bom estado, o Ferrari não se revela desconfortável. Mas mesmo quando surge o piso menos bom, o carro italiano coloca à disposição um sistema que suaviza as irregularidades. As zonas mais degradadas permitiram-nos confirmar a boa qualidade de construção, pela ausência de ruídos parasitas, com o F8 Spider a exibir um interior similar à versão coupé de carroçaria fechada e a oferecer ecrãs digitais através dos quais é possível confirmar o estado da mecânica, os sistemas multimédia e até a navegação.

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Mas os Ferrari nasceram para proporcionar uma utilização dinâmica, pelo que a fase seguinte levou-nos a recorrer ao magnettino, o selector de modos de condução rotativo em tudo idêntico ao utilizado na competição. Além da opção WET, reservada para quando o piso está molhado ou mais escorregadio, com as ajudas electrónicas mais presentes, testámos a SPORT e a RACE, sendo a primeira a de utilização mais universal com piso seco e a segunda mais divertida, mas a requerer alguma atenção. Contudo, é nestas condições que o F8 surpreende, pois as perdas de tracção e as ‘atravessadelas’ são menos frequentes do que esperávamos devido ao grande grip mecânico, sendo progressivo nas suas reacções apesar de ser apenas um tracção traseira, em virtude da mecânica posicionada centralmente entre os dois eixos.

O F8 Spider disponibiliza ainda os modos CT OFF e ESC OFF, o primeiro a desligar o controlo de tracção e o segundo a cortar todas as ajudas electrónicas, com a rápida caixa de dupla embraiagem e sete velocidades a contribuir para o gozo ao volante. O condutor tem apenas de seleccionar o botão R (marcha-atrás), A (automático) e Launch (arranque), para de seguida trocar de mudanças através da patilhas no volante.

0-100 km/h em 2,9s e de fechado a aberto em 14s

O motor deste que pode ser o último Ferrari exclusivamente com motor de combustão, pois a electrificação já começou a chegar (para já com o SF90, mas vêm aí mais surpresas, como pode ver aqui), é o 3.9 V8 Biturbo que fornece 720 cv. Além da potência, impressiona a capacidade deste motor fazer rotação, ele que tem acumulado o título do melhor motor do mundo nos últimos quatro anos. Ao conseguir girar até às 8000 rpm (corta às 8400 rotações), este V8 sobrealimentado revela-se rápido a subir de regime, devido a um volante do motor particularmente ligeiro, a umas bielas em titânio e a uns colectores de admissão mais curtos, para melhorar a resposta ao acelerador.

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Como sobrealimentado que é, o motor do F8 necessitou de montar um filtro de partículas, o que abafaria o roncar da mecânica. Dizemos abafaria, pois para o evitar a Ferrari concebeu o que denominou um hot-tube, que vai buscar o ruído do escape antes do filtro e o conduz até ao pilar, junto ao ombro do condutor, tornando as vibrações mais audíveis e emocionantes.

Com 185 cv/litro, não é fácil bater este V8 da Ferrari em termos de rendimento específico. Juntamente com a potência, a marca concentrou-se na refrigeração e na ventilação, como se pode ver pelas entradas de ar para os travões anteriores, colocadas logo por cima dos faróis de LED, ou as generosas admissões de ar para os intercoolers, junto às rodas traseiras.

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O chassi é leve e rígido, apesar de o F8 Spider – sobretudo quando circula sem capota – apresentar algumas vibrações no pilar A, que contudo não comprometem a eficiência do comportamento. Mas este conta também com sistemas como o Ferrari Dynamic Enhancer Plus, que utiliza as ajudas electrónicas para optimizar o desempenho em modo RACE. E, quando o condutor se quer divertir, o F8 disponibiliza o Slide Slip Angle, que ajuda alguém com menos experiência, ou a desejar correr menos riscos, a prolongar a gosto as derrapagens de traseira.

314 mil euros e mais 50% de “miminhos”

Os Ferrari nunca serão automóveis baratos, pois não só são tecnologicamente muito complexos e sofisticados, tanto em termos de chassi como de mecânica, como são ainda fabricados em pequenas quantidades para assegurar a exclusividade que os potenciais clientes tanto apreciam. Daí que exigir cerca de 314 mil euros por um F8 Spider, mais 28 mil euros do que o F8 Tributo, é o preço a pagar para quem aprecia superdesportivos, que assim fica na posse de uma obra de arte – como se tratasse de um Matisse sobre rodas.

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Mas a Ferrari sabe que os seus clientes, tradicionalmente, querem personalizar os seus desportivos, tornando-os diferentes do modelo do vizinho. Daí que proponha uma série interminável de acessórios e opcionais que lhe mudam o carácter e o “vestem” ao gosto do proprietário. Aí é que se vai grande parte do orçamento, que facilmente pode duplicar o valor original do modelo. O F8 Spider que nos colocaram à disposição incluía extras que aumentavam em cerca de 150 mil euros o preço desta versão, sem alterar minimamente a capacidade deste Ferrari acelerar de 0-100 km/h em 2,9 segundos, ou superar os 340 km/h.