O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Iraque, Mustafa al-Kadhimi, devem anunciar esta segunda-feira um acordo para pôr fim à missão de combate norte-americana no Iraque até ao final do ano.

De acordo com um alto funcionário do governo dos EUA, o plano de alterar a missão militar norte-americana, cujo propósito declarado é ajudar o Iraque a derrotar o grupo “jihadista” Estado Islâmico (EI) – com uma função estritamente de consultoria e de treino até ao final do ano – sem tropas em combate -, será explicado num comunicado a ser divulgado pelos dois líderes após uma reunião esta segunda-feira na Casa Branca.

A mesma fonte disse ainda que as forças de segurança iraquianas estão a ser “testadas em batalha” e provaram ser “capazes” de proteger o seu país, mas, ainda assim, as autoridades norte-americanas reconhecem que o EI continua a ser uma ameaça considerável. A organização “jihadista”, que controlou grande parte do território iraquiano entre 2014 e 2017, foi oficialmente derrotada, mas as suas células adormecidas continuam presentes nas montanhas e regiões desérticas do Iraque, mantendo ataques ocasionais.

Washington e Bagdade acordaram, em abril, que a transição do perfil da missão militar norte-americana para um papel de treino e consultadoria implicaria o fim do papel de combate das forças dos Estados Unidos no terreno, mas não ficou definido um cronograma para essa transição. No encontro desta segunda-feira na Casa Branca, Al-Kadhimi deve referir os problemas que enfrenta, com milícias apoiadas pelo Irão a operar no Iraque que estão a intensificar os ataques contra as forças de coligação, no meio de uma pandemia que está a ter um impacto devastador nos hospitais.

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Para al-Kadhimi, a possibilidade de anunciar à população iraquiana uma data para o fim da presença de combate dos EUA no país pode ser um trunfo político para as eleições legislativas que se realizam em 10 de outubro. O primeiro-ministro iraquiano, sob pressão de poderosas fações pró-Irão, tem negociado com Biden a retirada dos cerca de 2.500 soldados norte-americanos que foram destacados para ajudar as forças iraquianas na luta contra o EI, mas nunca conseguiu estabilizar um cronograma.

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Em junho, o Rei da Jordânia, Abdullah II, e o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, visitaram Bagdade para reuniões conjuntas — tendo sido a primeira vez que um presidente egípcio fez uma visita oficial desde os anos 1990, quando as relações diplomáticas foram rompidas depois de Saddam Hussein ter invadido o Koweit. Em março, o Papa Francisco fez uma visita histórica ao Iraque, orando entre as igrejas em ruínas de Mosul, um antigo reduto do EI, e reunindo com o influente clérigo xiita Ali al-Sistani na cidade sagrada de Najaf.

O anúncio de encerrar a missão de combate dos Estados Unidos no Iraque ocorre quando o exército norte-americano está em fase final de retirada do Afeganistão, quase 20 anos depois de o ex-Presidente George W. Bush ter lançado o conflito em resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A missão dos EUA de treinar e aconselhar as forças iraquianas tem as suas origens mais recentes na decisão do ex-Presidente Barack Obama, em 2014, de enviar tropas de volta ao Iraque.

Contudo, a distinção entre tropas de combate e soldados envolvidos no treino e aconselhamento pode ser confusa, já que as tropas dos EUA continuam sob ameaça de ataques. No domingo, as autoridades iraquianas informaram que os responsáveis do EI pelo ataque a Bagdade na passada semana estavam a preparar novas ações terroristas para a altura da celebração do festival muçulmano Eid-al-Adha.

Um ataque suicida na segunda-feira da semana passada, reivindicado pela organização “jihadista”, matou 30 pessoas num mercado popular em Sadr City, um enorme subúrbio xiita da capital, onde muitas famílias se aglomeraram na véspera do festival Eid-al-Adha, a Festa do Sacrifício, o mais importante dos feriados muçulmanos.

Durante anos, funcionários do Pentágono tentaram conciliar o que consideram ser uma presença militar necessária para apoiar a luta do governo iraquiano contra o EI com a sensibilidade política interna do Iraque à presença de tropas estrangeiras, mas sempre sob enorme suspeição política.

Em abril, numa declaração conjunta após uma reunião entre representantes dos EUA e do Iraque, em Washington, o governo norte-americano confirmou que “a missão das forças dos EUA e da coligação” fora transferida para “tarefas de treino e consultoria”, permitindo assim a redistribuição de quaisquer forças de combate remanescentes no Iraque, num momento a ser determinado posteriormente.