Delegações dos Estados Unidos e da Rússia continuaram esta quarta-feira, em Genebra, o diálogo iniciado na mesma cidade pelos respetivos presidentes, Joe Biden e Vladimir Putin, em junho, para discutir a estabilidade estratégica entre as duas potências.
A reunião, realizada à porta fechada e sem os meios de comunicação social, teve início de manhã cedo e deverá durar a maior parte do dia, segundo a agência France-Presse.
As delegações são chefiadas pela secretária de Estado Adjunta norte-americana, Wendy Sherman, e pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov.
A representação norte-americana em Genebra divulgou duas fotos da reunião, numa das quais se vê Sherman e Riabkov a tocar os cotovelos, a saudação habitual devido à pandemia de Covid-19, em frente a uma bandeira de cada um dos países.
A segunda imagem mostra os dois diplomatas de máscara, de frente um para o outro.
Na véspera, as duas partes acalmaram as expectativas em torno da reunião.
“Através deste diálogo, procuramos lançar as bases para futuras medidas de controlo de armas e de redução de riscos”, explicou o Departamento de Estado ao anunciar o encontro.
Na terça-feira, Riabkov disse que a reunião deve servir para “lançar o processo e analisar em profundidade as diferenças, procurar áreas de trabalho comuns e ver onde há perspetivas” de progresso.
“Eu não colocaria a fasquia das expetativas demasiado alta”, advertiu, no entanto, Riabkov, que também liderou as negociações sobre a renovação do tratado de desarmamento nuclear, New START, com a administração do ex-Presidente Donald Trump.
Nessa altura, os dois países não conseguiram chegar a um acordo sobre o tratado, o único que permanece em vigor entre as duas grandes potências nucleares, já que o governo de Trump também queria trazer para a mesa de negociações a China, que recusou categoricamente.
De acordo com o Instituto Internacional de Estudos para a Paz (SIPRI, na sigla em inglês), a China terá mais de 350 ogivas nucleares, um número superior ao da França ou do Reino Unido, mas bem abaixo dos 5.550 ainda ativos nos Estados Unidos e mais de 6.257 da Rússia.
Com a chegada de Biden à Casa Branca, em janeiro passado, o New START foi prolongado por cinco anos, até 2026, mas há ainda diversos pontos de divergências que deverão ser abordados no encontro desta quarta-feira em Genebra.
Perante o surgimento de novas armas, incluindo armas hipersónicas, a Rússia propôs aos EUA ampliar a agenda e incluir todas as armas ofensivas e defensivas, nucleares e convencionais, capazes de resolver desafios estratégicos.
A Rússia também propôs a introdução de uma moratória sobre o lançamento de mísseis de curto e médio alcance na Europa.
A reunião desta quarta-feira ocorre no meio de tensões em várias frentes entre as duas nações, com Washington a ameaçar Moscovo com ações se a Rússia não travar uma onda de ataques cibernéticos que os funcionários norte-americanos dizem ser em grande parte originários do seu território.
A Rússia nega a responsabilidade, mas Putin elogiou os esforços de Biden para tornar as relações mais previsíveis.
Mas, na terça-feira, o Presidente dos EUA atacou sem rodeios o seu homólogo russo e acusou Moscovo de mais uma vez trabalhar para influenciar as eleições norte-americanas da mesma forma que a campanha em 2016.
“Isto é uma violação flagrante da nossa soberania”, acusou Biden, num discurso dirigido à comunidade dos serviços secretos.
Putin “tem um problema real, é o chefe de uma economia que tem armas nucleares e poços de petróleo e nada mais”, disse Biden, acrescentando: “Isso torna-o ainda mais perigoso na minha opinião”.
Na sua cimeira histórica de 16 de junho, Biden e Putin tinham insistido na necessidade de falarem um com o outro, sublinhando que mesmo no auge da Guerra Fria, Moscovo e Washington dialogavam para evitar o pior.