Enviado especial do Observador, em Tóquio

Os olhos ainda estavam embargados, talvez até com uma lágrima ainda escorrer entre as gotas de suor depois de uma prova que, durante os lançamentos, era feita com quase 40º. Na zona de entrevistas rápidas da RTP, Auriol Dongmo tinha assumido a frustração por falhar a medalha no lançamento do peso, adensada pelo facto de ficar no quarto lugar e a cinco centímetros do bronze. “Este é o pior lugar, claro… Mas pronto… Não há nada a fazer agora, já passou…”, começou por atirar na zona mista, antes de tentar explicar o inexplicável para dizer que não existia em concreto uma explicação para se perceber o porquê de não ter conseguido fazer mais do que 19,57.

No meio da brasa esteve tudo menos “on fire” e o sonho acabou por arder: Auriol Dongmo falha medalha nos Jogos por cinco centímetros

“Estava a sentir-me bem, se disser que não me estava a sentir bem não era verdade porque estava mesmo. Até no aquecimento estava a sentir-me bem mas depois não sei o que é que se passou… Há coisas que não consigo explicar… Estava bem… Mesmo com o calor, o calor é na cabeça de todo o mundo e eu estava bem… Mas pronto, é uma coisa que me dói muito, ficar no quarto lugar é a coisa mais horrível da minha vida”, destacou a atleta luso-camaronesa, sem qualquer tipo de justificação ou desculpa para não ter chegado ao pódio que ambicionava.

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“Na minha cabeça estava focada até ao final. Nós temos seis lançamentos e sabia que tinha de ficar focada até ao fim porque o melhor pode sair em qualquer momento, por isso é que estava com esperança até ao fim mas não consegui. Nos treinos já fiz 20 metros, estava com esperança que fosse fazer também na prova mas… Fita no braço? Tenho uma coisa mas não é por isso que fiquei fora da medalha, é uma coisa ligeira. Não é justificação para nada, não foi isto”, explicou, numa prova onde Lijiao Gong passou largamente dos 20 metros mas Raven Saunders ficou pelos 19,79, apenas a quatro centímetros do recorde nacional feito em junho pela atleta.

“Tenho tempo para a medalha nos Jogos. Só posso continuar a trabalhar e pronto… Objetivo dos 20 metros? Eu já cheguei lá… Tenho agora mais Diamond League para fazer e espero que as coisas corram bem. Mas esta custa mais, tão perto do terceiro, mas pronto, não posso fazer nada… As adversárias são fortes, de nível mundial, vencedoras de Mundiais e Jogos Olímpicos. Tinha a ideia de que poderia ganhar uma medalha na mesma. Ser a melhor da Europa serve de consolação? Não, não vale nada. Para mim não vale nada”, assumiu a atleta do Sporting que, nos Jogos do Rio de Janeiro, quando ainda representava os Camarões, acabou o lançamento do peso na 12.ª posição tendo como melhor marca um registo abaixo até dos 17 metros (16,99).

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“Tudo o que acontece na vida é Deus que quer, se Deus não quer uma coisa ela não acontece. Se ele quer uma coisa, acontece sempre porque ele é Deus. Se fico chateada com ele? Como posso ficar chateado com ele se ele é Deus? Não posso… Um bocadinho triste mas não vou ficar chateado com ele. E sim, agora vai continuar a dar-me força para o futuro. Promessa? Não, não tinha feito nenhuma promessa porque não faço promessas, não faço porque a minha relação com Deus não é de promessas, é de santificação do dia a dia. Não é assim com Deus, tu dás-me isto, eu dou-te aquilo, assim não vale a pena”, revelou Auriol, uma devota de Nossa Senhora de Fátima.

Agora, e aos 30 anos, o foco não está em Paris-2024 mas sim no próximo ano de 2022, que promete ser bem mais preenchido do que é normal tendo em conta a normalização do calendário internacional que está a ser feita após todos os cancelamentos e adiamentos provocados pela pandemia em 2020. “Para o ano há Mundiais de Pista Coberta e ao Ar Livre, há Europeus ao Ar Livre e vou ter de trabalhar porque os adversários vão continuar a fazer o mesmo. Vamos ver o que traz para já o ano de 2022…”, concluiu a lançadora nacional.