Joe Biden prometeu que os Estados Unidos iriam permanecer “vigilantes” a quaisquer ameaças terroristas que se tenham “metastizado pelo mundo” nas últimas duas décadas. E uma delas já foi identificado: o ISIS-K, também conhecido como Estado Islâmico de Coraçone, um grupo terrorista aliado ao Estado Islâmico e inimigo dos talibãs que, segundo as autoridades americanas, está a ameaçar a segurança dos civis no aeroporto internacional em Cabul.
Na primeira comunicação na primeira pessoa ao país após a reunião do G7, o Presidente norte-americano repetiu que os Estados Unidos cumpriram os objetivos que tinham sido delineados quando entraram no país em 2001, após os atentados de 11 de setembro: atacar a Al-Qaeda, particularmente Osama Bin Laden, pela autoria dos crimes; e “impedir que o Afeganistão continuasse a ser um quartel-general de quaisquer ações terroristas” pelo mundo.
Ainda assim, há novos desafios no horizonte. E um deles é esta organização militar ultraconservadora jihadista especialista ativa na região fronteiriça do leste do Afeganistão e norte do Paquistão. O ISIS-K foi o alvo de Donald Trump quando, em 2017, o ex-presidente norte-americano serviu-se de uma arma de destruição em massa, a “Mother of All Bombs” (MOAB), para matar 94 membros daquele grupo jihadista. Os talibãs também têm combatido o Estado Islâmico para proteger território, até porque o ISIS-K considera que o grupo fundamentalista é demasiado brando na aplicação da lei islâmica.
É por causa desta fação do Estado Islâmico, que tem ameaçado a integridade de todos os que se concentram no aeroporto de Cabul, que Joe Biden tem pressa em retirar os militares e cidadãos norte-americanos do Afeganistão o mais depressa possível: “Cada dia que estivermos no terreno é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está de olhos postos no aeroporto e pode atacar os Estados Unidos, forças aliadas e civis inocentes”, avisou Joe Biden.
Mas nem por isso confia mais nos talibãs — mesmo com esse inimigo em comum às suas portas. O líder norte-americano confirmou que o grupo islâmico que toma agora conta do Afeganistão está a trabalhar com os Estados Unidos e a contribuir para a retirada dos militares, mas é “uma situação delicada”, que já foi marcada por trocas de tiros: “Estamos em sério risco de a situação desabar à medida que o tempo passa”, disse Joe Biden: “Quanto mais depressa acabarmos, melhor”.
Foi com estas palavras que o Presidente norte-americano reiterou que os Estados Unidos estão “no caminho” de retirar todas as tropas do Afeganistão até 31 de agosto. Pode ser mais cedo, se os talibãs colaborarem com o acesso ao aeroporto e permitirem uma maior celeridade no processo; mas também pode ser mais tarde, se acontecer o contrário, ressalvou. Se os talibãs complicarem os acessos ao aeroporto em Cabul, os militares norte-americanos têm ordens para continuar no terreno depois dessa data como parte de um plano de contingência do país.
Quanto ao futuro governamental do Afeganistão, os Estados Unidos, as Nações Unidas, a NATO e a União Europeia concordaram que o reconhecimento da legitimidade de qualquer governo afegão dependeria do cumprimento de “obrigações internacionais”, incluindo a capacidade de impedir que o Afeganistão se torne o quartel-general de quaisquer ações terroristas. “Nenhum de nós vai acreditar na palavra de honra dos talibãs”, avisou Joe Biden: “Vamos julgá-los pelas suas ações e vamos continuar em coordenação apertada em quaisquer passos tomados daqui para a frente na resposta aos talibãs”.
Entretanto, o G7 decidiu que vai apoiar uma proposta de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, para garantir um apoio humanitário ininterrupto à população do Afeganistão, adiantou Joe Biden, que também promete tornar os Estados Unidos num “líder” no esforço de proteger e acolher refugiados. O Presidente norte-americano elogiou as iniciativas de alguns países (e Portugal é um deles) para acolher afegãos que tenham ajudado diretamente as suas forças no terreno nos últimos 20 anos — incluindo tradutores, por exemplo. Os Estados Unidos pretendem fazer o mesmo.