Um partido focado na governação, com vontade de agarrar a ‘bazuca’ e apresentar-se como a (única) referência do regime e da estabilidade. É assim que o PS parte para mais um congresso, em Portimão, a apenas um mês de uma nova prova eleitoral; e foi assim que Carlos César, presidente dos socialistas, situou o partido, pedindo união e uma “atitude reformista” para completar a “obra” que o Governo já foi construindo.

Num congresso em que o assunto mais falado — mas já adiado, no mínimo, até 2023 — é a sucessão de António Costa, César fez questão de pôr fim aos debates internos e olhar para fora das fronteiras do partido. “No nosso PS, não vivemos numa ‘paz fria’”, assegurou. “Chegámos aqui, ao contrário de outros partidos, unidos e a trabalhar com muito entusiasmo, nas autarquias como no Governo, para recuperarmos rapidamente Portugal e merecermos, ainda mais, a confiança das portuguesas e dos portugueses”.

[Pode ouvir aqui o discurso de Carlos César na abertura do congresso do PS:]

Congresso do PS. César: “No nosso PS, não vivemos numa paz fria”

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A farpa seguia direta para Rui Rio: se, há semanas, o líder do PSD dizia ao Expresso ter a convicção de que, no dia em que Costa deixar de ocupar o cargo de secretário-geral do PS, o partido “parte-se todo”, César já tinha feito questão de deixar o recado logo à chegada ao congresso e ironizar — Rio deveria estar a falar por “experiência própria”.

Arrumado o assunto, César focou-se no futuro e no trabalho que o Governo — e Costa em particular — tem pela frente. O PS precisa de assumir uma “atitude reformista”, explicou, nomeando áreas — corrupção, clima, direitos laborais — que considera prioritárias.

Mas mais: entre as “imensas responsabilidades” que o partido tem, conta-se também a de garantir a “estabilidade política e a cooperação interinstitucional”, “para que o país não desperdice as oportunidades que terá agora”. Um discurso que cola com a ideia que o PS tem passado: antevendo, como já disse Costa, um “pântano” político à direita depois das autárquicas, o PS será o partido capaz de assegurar a governação nos próximos anos.

O PS reuniu-se numa festa de família e celebrou-se a si próprio: “Arriscamo-nos a ser o futuro do país durante muito tempo”

“É a sensação de uma obra incompleta que nos deve inquietar e mover”, resumiu César. O recado ficou: os socialistas têm de se preparar para “governar para o futuro e não para ganhos efémeros”, aproveitando a bazuca e o contexto de recuperação para dar energia a este segundo mandato de Costa. Para isso, será conveniente que o partido permaneça unido, pelo menos até chegar a hora do sucessor ou sucessora de Costa  — e mesmo que isso provoque “o desconsolo do líder da oposição”.