Ernesto Santos, presidente da junta de freguesia de Campanhã, avançou para a recandidatura depois de Rui Moreira lhe ter garantido que não apresentava candidato à freguesia se optasse por se recandidatar. Sem a sombra de um combate eleitoral difícil — já que há quatro anos perdeu a maioria absoluta na freguesia com os votos que o candidato do movimento de Rui Moreira conseguiu — Ernesto Santos avançou seguro da vitória.

Para o movimento encabeçado por Rui Moreira, e tendo em conta as “excelentes relações institucionais e a cooperação que sempre foi mantendo com o atual executivo”, não fazia sentido apresentar uma oposição a Ernesto Santos. Rui Moreira disse mesmo que o presidente de junta de Campanhã tem sido “um parceiro essencial” para a estratégia local e vice-versa.

Apesar da relação próxima (e até pessoal) que ambos mantêm, Ernesto Santos disse ao Observador que “não sabia” que Rui Moreira iria colocar a sua imagem no jornal de campanha, mas deixou também claro que a situação “incomodou mais o PS” do que a ele.

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No entanto, antes de a polémica rebentar em plena campanha eleitoral, Ernesto Santos informou os presidentes da concelhia e da distrital do PS/Porto, Tiago Barbosa Ribeiro e Manuel Pizarro, respetivamente, da intenção de Rui Moreira de não apresentar candidato. “Na altura ninguém achou mal”, nota. E, perante este cenário, Ernesto Santos admitiu que “só um louco rejeitaria um apoio desta ordem”.

Ainda assim, apesar de frisar a importância deste apoio de Rui Moreira, Ernesto Santos é claro: O meu candidato é o Tiago Barbosa Ribeiro e sou candidato pelo Partido Socialista.”

Ernesto Santos não pretende criar confusões com ninguém — nem com o seu partido nem com o movimento de Rui Moreira —, mas reconhece que a sua imagem no jornal de campanha “não devia ter sido usada”. Daí até “fazer disso um cavalo de batalha” vai uma longa distância, diz.

“Se a campanha do Tiago quer fazer disso um cavalo de batalha, faz. Estou com ele e garanto-lhe que o apoio”, insiste. “Não estou na campanha para combater ninguém e estar contra ninguém. Estou de forma clara, honesta como sempre estive, é assim que continuarei a ser. Não esqueço nem quero esquecer que é ao Partido Socialista que pertenço”, afirma.

Do jornal de campanha à queixa do PS na CNE

Tudo começou quando, no primeiro dia oficial de campanha eleitoral, o movimento encabeçado por Rui Moreira divulgou um jornal em que, nas páginas dedicadas aos candidatos às juntas de freguesia da cidade do Porto, surgia Ernesto Santos, candidato socialista à junta de freguesia de Campanhã.

A fotografia do autarca do PS surgia ao lado dos seis candidatos independentes e com uma declaração de apoio: “Como Rui Moreira não está refém de lógicas e lutas partidárias decidiu apoiar Ernesto Santos, o atual presidente da junta de freguesia de Campanhã e recandidato socialista, até porque o presidente da câmara valoriza o trabalho desenvolvido por este autarca, bem como a sua coragem, caráter e dedicação à sua freguesia.”

Por outro lado, na mesma coluna dedicada a Ernesto Santos era também relembrado que o atual presidente de Campanhã “nunca escondeu o elogio ao atual executivo” e que disse até numa entrevista ao jornal Audiência que “era para não concorrer” a mais umas eleições e que apenas decidiu fazê-lo pelo “incentivo do presidente da câmara”.

O PS/Porto não gostou do que viu e apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE) pela utilização “abusiva” da imagem do candidato do PS, acusando o movimento de ter agido de “má-fé”. Os socialistas pretendiam a “proibição da distribuição”do jornal e justificaram-no com o facto de na página em que aparece Ernesto Santos estar uma “simulação do boletim de voto numa candidatura que não aquela que encabeça”.

Rui Moreira está de consciência tranquila e, numa ação de campanha nesta terça-feira, afirmou que “o bom PS não estará muito preocupado”, nem sequer o presidente da junta de freguesia de Campanhã.

“Julgo que Ernesto Santos não está nada preocupado com nós o apoiarmos e o bom PS também não estará muito preocupado. O PS dos diretórios naturalmente fica muito ofendido, mas isso são coisas internas do Partido Socialista que vão ter de resolver, se calhar, a seguir às eleições”, referiu o líder do movimento em reação à queixa feita pelos socialistas.

Rui Moreira recordou ainda que “o que aparece no jornal de campanha são citações relativamente aquilo que o senhor presidente da junta de Campanhã fez a um órgão de comunicação social”. E diz mesmo que Ernesto Santos tem “uma coisa engraçada” nessa entrevista, em que diz que “não faz parte dos diretores partidários”.

Ele dá a entender que resolveu candidatar-se porque sabia que contava com o meu apoio como tem contado, realçou Rui Moreira, argumentando que o movimento que o apoia é “diferente” e tem uma “forma de governação diferente”.

“A junta de freguesia de Campanhã tem sido um parceiro essencial naquilo que é a nossa estratégia para a freguesia e nós temos sido para a junta um parceiro essencial como ele próprio diz. Não faria sentido nenhum apresentarmos uma candidatura contra aquele que tem sido o nosso aliado e parceiro”, concluiu o autarca.