O presidente do Centro de Vida Independente (CVI), Jorge Falcato, alertou esta quinta-feira, num protesto simbólico em frente à Assembleia da República, que as pessoas com deficiência são “de desgaste rápido”, apelando para a diminuição da idade da reforma.

“Trabalhar com uma deficiência causa um desgaste muito superior [comparativamente] a quem não a tem. Daí decorre um envelhecimento precoce, para além de que muitas deficiências têm uma esperança média de vida muito menor do que a da população em geral. Há profissões de desgaste rápido, nós somos pessoas de desgaste rápido. E isso é necessário que seja reconhecido”, disse em declarações à agência Lusa.

A ação, que começou às 14h00 e se estende até à manhã de sexta-feira, consiste num velório simbólico do cadáver imaginário de um trabalhador com deficiência que morreu sem ter tido a oportunidade de gozar um único dia de reforma.

“O que nos levou a convocar este velório foi o atraso com que se está a trabalhar para termos o acesso à diminuição da idade da reforma das pessoas com deficiência. No Orçamento do Estado de 2020 foi aprovado um artigo referente a este tema que devia entrar em vigor até ao final desse ano e que dizia que se iria realizar um estudo sobre as condições de aplicação da medida. Por mera coincidência, este saiu hoje”, frisou Jorge Falcato.

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No início do protesto, deputados do PS ouviram as preocupações de cerca de uma dezena de pessoas que se manifestavam em frente ao parlamento.

“Pedimos [aos deputados do PS] um compromisso na apresentação de uma lei no Orçamento do Estado. Esse compromisso não foi garantido. Garantiram-nos, sim, que iam analisar o estudo e promover audições com organizações de pessoas com deficiência”, afirmou o presidente da CIV.

Jorge Falcato considerou que “já é um avanço terem dito que concordam com a diminuição da idade da reforma, porque o PS chumbou por três vezes propostas nesse sentido”, afirmou, sublinhando que já existe “pelo menos um consenso social e partidário”.

Um dos manifestantes, contudo, exaltou-se, condenando o ‘timing’ da publicação do estudo e as promessas do PS, afirmando que foi o sentido de voto dos socialistas que determinou o chumbo das medidas que têm sido apresentadas no Parlamento.

Os deputados acabaram por se retirar após a escalada das acusações.

A organização adiantou que pela noite dentro haverá rodas de conversa informais sobre temas relevantes para as pessoas com deficiência e as suas famílias, e que os manifestantes terão oportunidade de deixar uma mensagem aos parlamentares no livro de condolências.

A ação culminará na manhã de sexta-feira com a entrega do livro ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.

O documento apresentado esta quinta-feira na AR indica que a antecipação da idade da reforma para pessoas com deficiência poderá abranger, numa fase inicial, cerca de 6.700 pessoas, com um valor médio de pensão de 687 euros.

A configuração do regime de reforma antecipada – que segue o cenário proposto no OE2020 – considera a antecipação da reforma para pessoas com deficiência a partir dos 55 anos, com 20 ou mais anos de carreira contributiva, dos quais 15 ou mais correspondam a uma incapacidade igual ou superior a 60%, certificada através de Atestado Médico de Incapacidade Multiusos.

Em declarações à Lusa, esta quinta-feira, a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência disse que o Governo está disponível para uma reflexão conjunta sobre a antecipação da idade da reforma para pessoas com deficiência, após entrega do estudo no parlamento.

Governo disponível para refletir antecipação da reforma para pessoas com deficiência

A secretária de Estado explicou que o Governo reconhece a justiça da medida pedida por um grupo de cidadãos através de uma petição, mas que não concorda com o modelo plasmado porque, apesar de “aparentemente generoso, é altamente penalizador”.

“Dando a ilusão de dar tudo a todos não dará praticamente nada a ninguém. Queremos uma solução que chegue aos que efetivamente precisam”, disse, adiantando que este não é um modelo defendido pelo Governo.

“Cumprimos a nossa obrigação de entrega do relatório na Assembleia da República. Não questionamos de forma alguma a justiça de uma medida desta natureza, não concordamos é com o modelo concreto que pediram para estudar”, frisou.