O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, pediu esta sexta-feira ao Governo que encare a demissão do diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal como “um grito de alerta” e resolva os problemas da unidade.

O diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, apresentou a demissão do cargo na quinta-feira, justificando a decisão com a falta de condições existentes no hospital, designadamente a situação de rotura nas urgências.

“Infelizmente, dada a incapacidade que o Ministério da Saúde tem tido em resolver os problemas, estando mais preocupado nas ações de propaganda, a situação no Hospital de Setúbal, para a qual temos vindo a chamar à atenção há cerca de um ano, […] teve ontem um desenvolvimento [quinta-feira] que estaríamos à espera”, afirmou Roque da Cunha, em declarações à agência Lusa.

Salientando que o diretor clínico tem a “total solidariedade” do sindicato e recordando a demissão do diretor do serviço de Obstetrícia ocorrida em agosto, Roque da Cunha defendeu que “este grito de alerta deve obrigar o Ministério da Saúde”, tutelado por Marta Temido, “a encarar o problema”.

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Diretor do Serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal demite-se

“Apelamos para que se invista no Serviço Nacional de Saúde e se passe das palavras de amor ao Serviço Nacional de Saúde para os atos”, reforçou.

Relativamente à substituição de Nuno Fachada, o presidente do sindicato disse que ainda não haverá substituto, frisando que os problemas devem ser solucionados independentemente do novo diretor, “porque qualquer pessoa que vá para a direção clínica irá debater-se com os mesmos problemas”.

Numa informação enviada por Nuno Fachada aos colegas na quinta-feira, o médico alega um conjunto de dificuldades no centro hospitalar como justificação para a sua saída. A “situação de rotura e agravamento nas urgências médicas, obstétrica, EEMI [Equipa de Emergência Médica Intra-Hospitalar]”, assim como “dificuldades noutras escalas como a pediátrica, cirúrgica, via verde AVC, urgências internas, etc”, são algumas das razões apontadas pelo diretor demissionário.

A mesma informação refere também a “falta de condições de atratividade dos médicos”, “insuficiência ou não abertura de vagas sinalizadas”, “dezenas de cortes mensais de salas operatórias” e “rotura em vários serviços por êxodo” de profissionais de várias especialidades.

Nuno Fachada justifica ainda a demissão com a “não resposta sobre a requalificação e financiamento do CHS [Centro Hospitalar de Setúbal] para grupo D”, “afastamento e colapso dos cuidados primários de saúde, agravando as dificuldades dos doentes”, assim como “incertezas quando ao ecletismo, adaptação e capacidade das obras das urgências”.

“Assim, só restaria a solução de romper com a situação vigente. Romper com a aceitação de continuarmos a ver o estertor do SNS [Serviço Nacional de Saúde], capturado por uma estrutura burocrática pesadíssima e crescente, que asfixia e parasita aquilo que melhor foi feito nas últimas quatro décadas e que tornou Portugal num país avançado, longe das altas taxas de mortalidade infantil e da baixa esperança média de vida”, salienta o diretor num email institucional enviado aos colegas.

Em agosto, o diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, Pinto de Almeida, também se demitiu do cargo devido à falta de profissionais, o que obrigou ao encerramento da urgência naquele mês, revelou a Ordem dos Médicos. No mesmo mês, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) alertou que a falta de clínicos no hospital de Setúbal estava a pôr em risco a segurança das urgências e apelou ao encerramento deste serviço quando “os critérios mínimos não estejam assegurados”.