O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou na quarta-feira que a Etiópia atravessa uma “enorme crise humanitária” e pediu ao Governo local o acesso “sem entraves” para a ajuda internacional.

O país enfrenta uma enorme crise humanitária que exige atenção imediata“, apontou o diplomata português, citado pela agência AFP, durante uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU.

António Guterres destacou também que a expulsão daquele país na semana passada pelo Governo etíope de sete funcionários da ONU, a maioria trabalhadores humanitários, é “particularmente importante” neste momento. Depois desta “expulsão sem precedentes, apelo às autoridades etíopes para que nos permitam entregar ajuda humanitária sem entraves e que facilitem o nosso trabalho com a urgência que esta situação exige”, acrescentou.

Esta expulsão sem precedentes deve ser motivo de profunda preocupação para todos nós, porque toca o cerne das relações entre as Nações Unidas e os estados-membros”, insistiu António Guterres.

O diplomata frisou ainda que “não foram respeitados” os procedimentos que devem ser seguidos caso haja um problema com o comportamento de um funcionário das Nações Unidas em determinado país. Salientou igualmente que a ONU considerou ilegal declarar os sete funcionários em causa persona non grata e contrário à Carta das Nações Unidas.

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Etiópia. ONU aponta níveis de subnutrição “sem precedentes” no estado de Tigray

De forma a facilitar a ajuda humanitária, Guterres referiu que os vistos devem ser concedidos rapidamente à ONU e seus funcionários, lembrando que isso “significa também que os seus colaboradores são tratados com dignidade e respeito dentro do país no desempenho do seu trabalho fundamental”.

“Qualquer nova escalada do conflito só tornaria a situação mais trágica”, alertou ainda, indicando que 400 mil pessoas estão em situação de fome em Tigray e que a ONU ainda não tem acesso total a estas. Guterres salientou que há também necessidades humanitárias nas províncias de Amhara e Afar e que o único corredor para chegar a Tigray está em Afar “onde o movimento é severamente limitado por postos de controlo oficiais e não oficiais, insegurança e outros obstáculos e desafios”.

Em 01 de junho, o Programa Alimentar Mundial advertiu que um total de 5,2 milhões de pessoas, mais de 90% da população de Tigray, necessita de assistência alimentar de forma urgente devido ao conflito.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 100.000 crianças poderão sofrer de desnutrição aguda potencialmente mortal durante os próximos 12 meses, 10 vezes a média anual.