As empresas, a nível mundial, terão de investir 75 mil milhões de dólares (65 mil milhões de euros) para alcançarem as metas do Acordo de Paris sobre a descarbonização, segundo um relatório debatido esta terça-feira em Lisboa.
Da responsabilidade da empresa de consultoria “Boston Consulting Group” (BCG) e da associação ambientalista internacional “World Wide Fund for Nature” (WWF), o documento desafia as empresas a fazerem mais a favor da natureza.
Apresentada em Lisboa pela Associação Natureza Portugal (ANP/WWF), que trabalha em associação com a WWF, a análise indica que no país só algumas empresas investem financeiramente para compensar as emissões de dióxido de carbono na sua cadeia de valor.
O relatório, “Para além das metas baseadas na ciência: um plano de ação corporativa para o clima e a natureza”, apresenta o que chama um Plano Corporativo de Mitigação Climática (PCMC), com propostas de ações para aliviar os efeitos das alterações climáticas e proteger a natureza.
No documento reconhece-se que redirecionar os negócios e a economia para um futuro sem emissões de gases com efeito de estufa é um desafio a longo prazo e necessita de muita dedicação a nível mundial, mas também se diz que mitigar as alterações climáticas é uma prioridade global.
Num comunicado a propósito do relatório, a ANP/WWF diz que Portugal tem progredido na neutralidade carbónica e que o país está no “top 10 dos países com maior utilização de energias renováveis a nível mundial”, mas avisa que “continuam a ser necessários investimentos relevantes, em especial no setor da energia, que representa cerca de 23% das emissões totais de gases com efeito de estufa”, e nas indústrias cimenteira e química.
Se, por um lado, as empresas portuguesas trabalham diretamente na descarbonização da sua atividade, por outro, ainda são raros os casos em que estas investem financeiramente para compensar as emissões que não lhes é ainda possível reduzir”, diz-se no comunicado.
O PCMP propõe para as empresas ações como a compra de créditos de carbono ou investimentos diretos em projetos que mitiguem o impacto da atividade na natureza.
Não chega plantar árvores. Se queremos reverter a perda de natureza e travar as alterações climáticas, é urgente ter compromissos sérios de todos que efetivem uma mudança de fundo ao longo da cadeia de valor”, afirma Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF, citada no comunicado.
Carlos Elavai, pela BCG, diz, também citado no comunicado, que a maior parte das empresas ainda não tem uma estratégia que responda aos desafios climáticos, sendo o problema maior em Portugal, onde as pequenas e médias empresas têm grande representatividade, mas têm menos recursos para essa estratégia.
As empresas devem investir em soluções climáticas ou financiar créditos de carbono, o que pode ter impacto na natureza e na sociedade, e devem concretamente promover uma política climática, colaborar com outras empresas e tornar-se mais resistentes face às alterações climáticas, sugere o PCMC.
Na análise da situação portuguesa, Ângela Morgado diz que as empresas têm “revelado alguma preocupação com o tema da incorporação da conservação da natureza nos negócios, muitas vezes por uma questão de comunicação e imagem e não tanto por uma questão de verdadeira ação climática responsável, transformadora e inovadora”.
O relatório internacional da WWF em parceria com a BCG foi lançado no final do ano passado. A discussão do documento e a análise da situação em Portugal foram feitas esta terça-feira no Oceanário de Lisboa.