A Hyundai assinalou, recentemente, o facto de ter já ter comercializado um milhar de unidades do Nexo na Europa, o seu SUV eléctrico impulsionado pela energia gerada a bordo com recurso a uma célula de combustível a hidrogénio. Mas se o número parece (e é) muito pequeno, acaba por não o ser tanto considerando as graves lacunas na rede de abastecimento europeia, com poucos países a viabilizarem esta solução. Já as ambições da marca sul-coreana para esta alternativa às baterias, na mobilidade zero emissões, são grandes e vão muito além dos automóveis convencionais. Daí que o construtor de Seul se prepare para liderar a produção mundial de células de combustível, razão pela qual destinou 1,1 mil milhões de dólares (o equivalente a cerca de 950 milhões de euros) à construção de duas fábricas na Coreia do Sul, que lhe permitirão quadruplicar a actual produção in house.

Chungju, que é capaz de fabricar aproximadamente 23.000 sistemas de células de hidrogénio por ano, vai ser reforçada com a entrada em actividade de mais duas unidades fabris, uma em Incheon e outra em Ulsan, na Coreia do Sul. As obras arrancaram na passada semana e espera-se que o início da actividade ocorra no segundo semestre de 2023, estando o objectivo anual de produção fixado em 100.000 fuel cells.

A maior capacidade de produção de células de combustível do mundo ajudará a Hyundai Mobis [empresa que pertence ao Hyundai Motor Group e que fornece peças e serviços à Hyundai, à Kia e à Genesis] a diversificar os negócios e explorar o potencial desta tecnologia em máquinas de construção e noutros equipamentos de logística”, refere o gigante sul-coreano.

Recorde-se que o plano estratégico a longo prazo da Hyundai, denominado ‘Fuel Cell Vision 2030’, almejava uma capacidade de produção de 700.000 unidades por ano de sistemas de células de combustível para automóveis, bem como para outros transportes, de navios a comboios, passando pelos drones e geradores de energia até 2030.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Hyundai prepara desportivo a hidrogénio com 680 cv

No Salão de Munique, há cerca de um mês, o Grupo Hyundai anunciou que em 2023 vai fazer dois lançamentos a hidrogénio, o sucessor do Nexo (apresentado em 2018) e um MPV. Mas embora os veículos eléctricos a fuel cell continuem a fazer parte do plano de produto da Hyundai – o desportivo com 680 cv baseado no Vision FK concept também é prova disso -, a marca sul-coreana tem ambições para lá dos ligeiros de passageiros. Nos pesados, já chegou à Europa o XCIENT Fuel Cell, “o primeiro camião do mundo para serviços pesados movido a hidrogénio a ser produzido em série”, com a marca a balizar a entrega de 1600 unidades até 2025. E está igualmente em pipeline um tractor para longas distâncias, capaz de percorrer 1000 km com uma só carga, a ser comercializado globalmente.

Chegam à Europa os camiões a hidrogénio da Hyundai

O investimento de 1,1 mil milhões de dólares em fábricas para produzir fuel cells, assinalado com toda a pompa e circunstância – o Presidente Moon Jae-in e o vice-primeiro-ministro Hong Nam-ki participaram na cerimónia de inauguração das obras – traduz a vontade da companhia sul-coreana em alargar o leque de aplicações desta tecnologia. A chave para rentabilizar o investimento passa pela diversificação do negócio, o que a Hyundai planeia fazer entrando nos sectores da maquinaria para construção (retroescavadoras, por exemplo) e na aviação para curtas deslocações. Basicamente, a ideia por detrás desta vontade em liderar a produção mundial de células de combustível é maximizar as aplicações da tecnologia, ganhar escala e, com isso, reduzir os preços para que os sistemas a fuel cells possam efectivamente constituir-se como uma alternativa acessível, mais prática e com menos limitações do que a recarga de baterias. A Hyundai antecipa que, em 2030, o preço de um veículo a fuel cell vai ser equivalente a um concorrente directo a bateria.

Mas para que os eléctricos a fuel cell passem para o top of mind dos que querem um carro zero emissões, há que apostar na ampliação da infra-estrutura de abastecimento. E é precisamente isso que a Hyundai anunciou agora que vai fazer na Califórnia onde, ao abrigo do chamado Projecto Neptuno, a marca sul-coreana, juntamente com outros dois construtores de automóveis, vai apoiar a construção de mais 48 estações da Shell para o abastecimento de hidrogénio e a renovação de duas já existentes. Esses novos postos serão co-financiados por fundos públicos da Comissão de Energia da Califórnia.

Em 2020, a Hyundai anunciou que iria investir 6,7 mil milhões de euros para se tornar líder nas fuel cells a hidrogénio.