Um dia após ser conhecido um relatório do parlamento britânico que arrasa o governo, considerando que a resposta dada à pandemia foi um “falhanço” que custou “centenas de vidas”, e uma grave crise com combustíveis, Boris Johnson foi fotografado a pintar.

Na imagem, o primeiro-ministro surge diante de um quadro e de pincel na mão no exterior da villa onde estará a passar férias com a família em Marbella, Espanha. O exercício do hobby, que já lhe valeu comparações com Winston Churchill (um dos seus quadros foi recentemente vendido por 7 milhões de libras, 8,25 milhões de euros), quando o país enfrenta tantos problemas, não foi bem aceite por muitos.

À CNN, um porta-voz do grupo “Covid-19 Bereaved Families for Justice”, que inclui famílias enlutadas à procura de justiça, diz que é “profundamente perturbador para aqueles que perderam entes queridos ver o primeiro-ministro a pintar numa casa de luxo ao invés de responder às notícias devastadoras que o relatório de ontem [terça-feira] trouxe”.

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Relatório do parlamento britânico arrasa governo: resposta à pandemia foi um “falhanço” que custou “centenas de vidas”

As críticas surgem na sequência do relatório de 150 páginas produzido pela Comissão de inquérito da Câmara dos Comuns, o qual aponta falhas à decisão inicial de seguir a estratégia de “imunidade de grupo” (que acabou por ser mantida apenas pela Suécia), classificando a decisão de atrasar o confinamento — apenas decretado a 23 de março de 2020 — como “um erro muito grave” e apontando o dedo às autoridades de saúde. O Reino Unido concentra uma das maiores taxas de mortalidade no mundo: de acordo com os dados reunidos pela Johns Hopkins University, já morreram mais de 138 mil pessoas na sequência da crise pandémica.

Corrida aos supermercados deixa prateleiras vazias. Centenas de milhares de britânicos já asseguraram entregas para o Natal

Em reação à conclusão do relatório, o “Covid-19 Bereaved Families for Justice” argumentou que as famílias enlutadas teriam acordado naquela manhã a “agonizar”, interrogando-se se os seus entes queridos ainda estariam com eles se o governo de Boris Johnson tivesse tomado decisões diferentes. “Enquanto isso, o próprio Johnson está a relaxar numa praia.” Na ausência do primeiro-ministro coube ao ministro Oliver Dowden pedir desculpa às famílias por ele e por Johnson. “Sentimos muito pelas perdas que todas aquelas famílias sofreram.”

Ainda no final da semana passada era notícia a falta de bens de primeira necessidade nos supermercados: o medo de não encontrar aquilo de que precisam nas semanas vindouras fez com que muitos britânicos deixassem prateleiras vazias de carne, fruta, refeições congeladas, papel higiénico e garrafas de água. Tal acontece após a escassez de combustíveis que obrigou o governo de Boris Johnson a pôr militares ao volante dos camiões de distribuição para colmatar a falta de motoristas. Além das críticas, a fotografia de Boris a pintar gerou também reações nas redes sociais.