O historiador Fernando Rosas alertou este sábado para uma radicalização social e política que pode levar a direita tradicional a substituir a extrema-direita, atacando o 25 de Abril e defendendo a ditadura salazarista.
“Estamos perante uma deriva de radicalização social e política que, em muitos aspetos, sobretudo no que respeita a esta nova direita neo-liberal, autoritária, agressiva, racista, poderá marcar as comemorações do 25 de Abril”, afirmou Fernando Rosas, em Óbidos, onde foi orador numa mesa de escritores no âmbito do Folio — Festival Literário Internacional.
À conversa com Lilia Schwarcz, sobre as semelhanças entre Portugal e o Brasil, Fernando Rosas lembrou que “até agora, a direita, o mais longe que ia era dizer que a democracia não veio do 25 de Abril, mas do 25 de novembro”, admitindo a suspeita de que nas próximas comemorações passe a “atacar a democracia, se não mesmo a elogiar a ditadura salazarista em Portugal”.
De acordo com o historiador, este fenómeno em que Portugal e o Brasil se assemelham, tem por base, “não só a emergência da extrema-direita”, mas o facto de ser “a própria direita tradicional que se radicaliza, política e ideologicamente, ao ponto de pretender mesmo substituir, em certos aspetos, a extrema-direita”.
Dando como exemplo a vitória do Partido Popular em Espanha, substituindo o Vox, de extrema-direita, Fernando Rosas afirmou: “Ninguém nos diz que em Portugal o processo de reconstituição da direita clássica não nos possa empurrar para uma radicalização da direita”.
Para o historiador, “esse processo de aliança da direita tradicional, da direita histórica, da direita clássica, com a extrema-direita, é um processo historicamente repetível”, que aconteceu nos anos 1930 e que, surge agora com “fenómenos que anunciam uma radicalização global agravada por um fator muito importante que são as redes sociais” e a “utilização manipulatória destas, como forma, não só de organizar a mentira, mas de incentivar à capitulação”.
E por isso, concluiu Rosas, a suspeita de que as comemorações da revolução de abril possam ser marcadas “por esta realidade radicalizante, oligarquizante, de escorregamento autoritário”.
O FOLIO — Festival Literário Internacional de Óbidos decorre até ao dia 24, reunindo na vila 175 autores e escritores que participam em mais de 160 atividades, entre as quais 16 mesas de autor e debates, 23 concertos e 12 exposições.