A presidente da Comissão Europeia assumiu esta quarta-feira que a União Europeia é atualmente demasiado dependente das importações de gás e apelou a um “verdadeiro trabalho de equipa” dos 27 para tornar a Europa mais resiliente no domínio energético.
Num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, sobre o Conselho Europeu que decorrerá na quinta e sexta-feira em Bruxelas, Ursula von der Leyen focou a sua intervenção num dos principais pontos na agenda dos líderes, “particularmente importante para os cidadãos”, a atual escalada dos preços da energia.
“Deixem-me começar com dois factos simples. Primeiro facto: os preços do gás são cíclicos, e são fixados pelos mercados globais. Mas devido ao aumento do preço do gás, muitas famílias estão a sentir dificuldades para conseguir pagar as contas e as empresas estão em risco de fechar. Segundo facto: a energia solar é hoje dez vezes mais barata de produzir do que há 10 anos, e mesmo a energia eólica – que é, por definição, mais volátil – é hoje 50% mais barata do que há uma década”, começou por referir.
Segundo a presidente do executivo comunitário, “estes dois factos mostram que a transição para a energia limpa não é apenas vital para o planeta”, mas também para a economia europeia e para a capacidade de resistência aos choques de preços da energia.
Von der Leyen reforçou que este é um fenómeno global — “na verdade, os preços na Ásia são ainda mais elevados do que aqui na Europa“, assinalou —, apontando que “a economia global recupera da pandemia e a procura de energia está a aumentar em todo o mundo”, sendo que “um inverno invulgarmente longo e frio foi seguido por um verão invulgarmente quente e seco em todo o hemisfério norte”, pelo que “o mundo inteiro é afetado, independentemente das políticas energéticas e climáticas dos países ou da conceção do mercado de eletricidade”.
As medidas de Bruxelas para travar preço da luz e como Portugal até foi mais longe em algumas
No entanto, admitiu que “existe algo específico da situação europeia”, já que, embora a empresa russa Gazprom tenha honrado os seus contratos a longo prazo com a UE, “não respondeu a uma maior procura como nos anos anteriores”.
“Hoje em dia, a Europa é demasiado dependente do gás e demasiado dependente das importações de gás. Importamos 90% do gás que consumimos. E isto torna-nos vulneráveis. A resposta tem a ver com a diversificação dos nossos fornecedores. Mas também manter o papel do gás natural como combustível de transição e, crucialmente, com a aceleração da transição para a energia limpa”, afirmou então.
Sustentando que “o Pacto Verde Europeu é, a médio e longo prazo, um pilar da soberania energética europeia no século XXI”, Von der Leyen reconheceu que os cidadãos europeus “também esperam, e com razão, respostas rápidas”, elencando então algumas medidas que podem ser implementadas num horizonte de curto prazo, designadamente reduções nos impostos sobre a energia, algo que já está a ser feito por 20 Estados-membros, além de apoios possíveis ao abrigo das atuais regras comunitárias.
O imposto não ia baixar, mas baixou (pouco). O que mudou na política para os combustíveis?
No médio e longo prazo, reiterou que a Comissão “atuará em cinco áreas cruciais”, desde o reforço da supervisão dos mercados do gás e do carbono, para pôr fim à especulação, a uma avaliação do mercado da eletricidade, passando por “contactos com fornecedores de gás estrangeiros”, como a norueguesa Equinor.
“Vamos analisar a questão do armazenamento de gás. Não existe atualmente um quadro europeu para reservas estratégicas de gás como o que temos para o petróleo. Poderíamos preparar-nos melhor, por exemplo, testando regularmente as nossas capacidades de armazenamento e resposta. Iremos também explorar o potencial da aquisição conjunta de gás, possivelmente numa base voluntária. Poderíamos beneficiar de economias de escala no mercado se uníssemos forças a nível europeu. Mais uma vez, uma abordagem europeia comum pode ter um efeito de alavancagem positivo”, disse.
Por fim, argumentou que esta crise mostra que a UE precisa “de mais rapidez no investimento em energias renováveis”, pois estas constituem não só “um seguro contra o aumento dos preços da energia”, como “também ajudam a reduzir a dependência das importações”.
“O que precisamos no caminho para o futuro é de um verdadeiro trabalho de equipa europeu”, concluiu.
Portugal é um dos seis Estados-membros da União Europeia que já avançou com medidas de apoio para enfrentar a crise energética após orientações da Comissão Europeia para travar a escalada de preços, disse na terça-feira à Lusa fonte comunitária.
Dias depois de Bruxelas ter apresentado uma “caixa de ferramentas” com eventuais medidas que os países poderiam adotar para aliviar os cidadãos numa altura em que os preços da luz e do gás atingem máximos, fonte comunitária revelou à Lusa que, até ao momento, 15 Estados-membros informaram estar a tomar ou a planear ações.
Entre os países que já adotaram medidas estão Portugal, Espanha, Grécia, França, Itália e Eslovénia.
Este será um dos temas fortes da cimeira de chefes de Estado e de Governo que tem início na quinta-feira em Bruxelas.