A vacina da BCG, contra a tuberculose, não fornece uma proteção de longa duração contra os sintomas da Covid-19 nem contra as formas mais graves da doença, concluiu uma equipa de investigadores do Canadá.

A probabilidade de os vacinados com BCG serem hospitalizados ou morrerem como resultado da infeção com SARS-CoV-2 foi tão grande como para os não vacinados, no grupo estudado, concluem os autores num artigo publicado na revista científica Vaccine (online desde agosto).

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As conclusões contrariam a ideia lançada no início da pandemia de que os países com maior cobertura da vacina da BCG estariam mais protegidos contra a doença causada pelo coronavírus — Portugal incluído. Os primeiros estudos foram lançados em 2020, muito antes das piores vagas da pandemia e antes de Portugal ter registados mais de cinco mil mortes com Covid-19 em janeiro de 2021.

A esperança residia no facto de a vacina desencadear uma resposta no sistema imunitário inato contra alvos não específicos e mostrar-se protetora contra outros vírus que atacam os humanos, como o herpes, o papilomavírus humano ou o vírus que causa bronquiolites.

Os investigadores usaram os dados de 920 pessoas que tiveram infeção (entre maio e outubro de 2020) e 2.123 que não estiveram infetadas com o coronavírus (grupo de controlo), nascidas entre 1956 e 1976. Mais de 60% das pessoas em cada grupo tomou a vacina da BCG na infância e o objetivo era avaliar se teria efeitos de prevenção, na idade adulta (mais de 40 anos depois), contra o SARS-CoV-2. A conclusão foi que não.

Cada caso positivo de SARS-CoV-2 foi comparado com outras duas pessoas (do grupo controlo) que apresentavam características semelhantes em termos de género, idade ou profissão, por exemplo, para tornar as comparações fidedignas e reduzir o número de fatores que poderiam influenciar os resultados.

Novos estudos reforçam ideia de que vacina BCG pode evitar sintomas graves de Covid-19

Uma das principais limitações dos mais de 20 artigos sobre o potencial da vacina da BCG na prevenção da severidade da Covid-19 é que olham para os países como um todo, comparando taxas de vacinação e infeção entre países, sem possibilidade de compararem grupos de pessoas com as mesmas características, critica o grupo canadiano.

Outra das limitações, é que os países de baixo e médio rendimento, onde a vacina da BCG ainda é amplamente usada, realizam menos testes de diagnóstico para o SARS-CoV-2 e têm mais dificuldade em reportá-los em plataformas centralizadas com dados acessíveis publicamente, logo são um fator em falta nos estudos.

A equipa canadiana destaca que não encontrou uma proteção de longa duração, superior a 40 anos, mas que não estudou se existia uma proteção de mais curta duração — um fator que consideram importante para os países de baixo rendimento.

Há ensaios clínicos em curso, conduzidos por outras equipas, que estudam o potencial da proteção de curto prazo em profissionais de saúde e idosos. Os investigadores sugerem também a possibilidade de se verificar se a vacina da BCG dada semanas antes da vacina contra a Covid-19 poderia potenciar a resposta imunitária.