O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, sublinhou esta segunda-feira a importância de levar a filosofia africana “ubuntu” para as escolas para ajudar os alunos a aprenderem melhor e a serem melhores.

A palavra com expressão em diferentes línguas africanas, não tem tradução direta para o português, mas significa “eu sou, porque tu és”, uma filosofia de vida humanista, assente em valores como a ética do cuidado, a construção de pontes e a liderança servidora.

Através da “Academia de Líderes Ubuntu”, estes valores entraram nas quatro paredes da escola e o projeto, que começou em apenas alguns agrupamentos, foi agora alargado a todas as escolas interessadas, no âmbito do plano 21|23 Escola+ do Governo para a recuperação das aprendizagens afetadas durante a pandemia da Covid-19.

“Este plano de recuperação das aprendizagens é um plano de recursos, mas também é um plano de pessoas e de valores. E o ‘ubuntu’ o que nos vem trazer são esses valores, estas pessoas, que acrescentam às pessoas que estão nas nossas escolas e que podem dignificar cada uma das nossas escolas e que as podem magnificar ainda mais”, sublinhou Tiago Brandão Rodrigues.

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O ministro falava no encerramento do Encontro Nacional das Escolas Ubuntu, que juntou esta segunda-feira em Lisboa milhares de professores e alunos, em número que excedeu largamente a capacidade do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, onde decorreu o evento, obrigando muitos a assistirem noutra sala.

“Aqueles que estão nas escolas (…) sabem que a verdadeira recuperação das aprendizagens não acontece sem uma recuperação do bem-estar socio-emocional que tem de acontecer também ao longo dos próximos tempos”, acrescentou, sublinhando que aquela filosofia africana é um contributo valioso para esse trabalho.

Momentos antes, na mesma sessão, essa ideia já tinha sido lançada pelo secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, que defendeu que para muitos alunos eventuais dificuldades na aprendizagem têm origem em barreiras de dimensão social e emocional.

“Quantas vezes eu já tropecei em muitos pequenos no primeiro ciclo que já não acreditam que são capazes, que já dizem ‘Eu sou mau aluno'”, relatou o secretário de Estado, acrescentando que “quando alguém mete na cabeça que é mau, desiste de si próprio” para sublinhar a importância do “ubuntu” como uma estratégia fundamental para a recuperação das aprendizagens.

Falando sobre o plano 21|23 Escola+ , João Costa acrescentou que era intenção definir como uma das prioridades a inclusão e o bem-estar social e emocional e, nesse sentido, foi preciso “procurar, em vez de inventar a roda, quem já faz isto muito bem”.

O secretário de Estado, que ao longo do seu discurso sublinhou também a importância da educação inclusiva e para a cidadania, referia-se ao projeto Academia de Líderes Ubuntu – Escolas Ubuntu, que agora está presente em 150 municípios e cerca de 400 agrupamentos.

Sabemos, através deste programa, que a escola, bem para além de autoridade, é liderança e, por isso, é importante ter os diretores que temos, os professores que temos, e que os nossos entendam o que é isto de servir, de poder liderar e de ser líder ‘ubuntu'”, acrescentou depois o ministro da Educação.

“Parece que em cada um de nós existe um espelho, parecido com o espelho da Alice, e que para lá do espelho podemos ver um mundo fantástico em que podemos ver nos outros aquilo que nós também queremos ser e é através daí que vemos como temos de cuidar de cada uma das pessoas, das nossas comunidades e do nosso planeta”, concluiu.

No início do encontro foi transmitida uma mensagem em vídeo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que sublinhou também a relevância da filosofia “ubuntu” e deixou elogios ao Ministério da Educação e ao Instituto Padre António Vieira, parceiros no projeto, por levar esses valores para o interior das escolas.

“E que chegue a todo o Portugal aquilo que é tão simples, mas que é a chave do relacionamento entre pessoas e da afirmação da liderança: Eu sou, porque tu és”, apontou o chefe de Estado.