O Governo português destacou o papel do antigo chefe de Estado sul-africano Frederick De Klerk, que morreu esta quinta-feira aos 85 anos, no fim do regime do apartheid e recordou a sua cooperação com Nelson Mandela.
Numa breve mensagem colocada nas redes sociais do Ministério dos Negócios Estrangeiros pode ler-se: “Frederik de Klerk será recordado pelo seu papel no fim do apartheid na África do Sul e pela cooperação com Nelson Mandela, com quem partilhou o Prémio Nobel da Paz, em 1993”.
O antigo presidente sul-africano Frederik W. de Klerk, o último chefe de Estado da era do apartheid da África do Sul, morreu esta quinta-feira na Cidade do Cabo aos 85 anos, vítima de cancro.
Morreu Frederik Willem de Klerk, último Presidente da África do Sul nos tempos do apartheid
Também o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou esta quinta-feira De Klerk como uma “figura marcante do fim do apartheid e da transição para a democracia” na África do Sul.
Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa “apresenta condolências à família e amigos do antigo chefe de Estado sul-africano e Nobel da Paz, Frederik W. de Klerk”.
Num discurso proferido no parlamento da África do Sul no dia 2 de fevereiro de 1990, De Klerk anunciou que aquele que viria a ser o primeiro Presidente negro da África do Sul seria libertado da prisão após 27 anos de cativeiro.
O anúncio eletrizou na altura o país, que durante décadas tinha sido desprezado e sancionado por grande parte da comunidade internacional pelo seu brutal sistema de discriminação racial conhecido como apartheid.
Com o aprofundamento do isolamento da África do Sul e a sua economia outrora sólida a deteriorar-se, De Klerk, que tinha sido eleito presidente apenas cinco meses antes, anunciou também no mesmo discurso o levantamento da proibição do Congresso Nacional Africano (ANC) e de outros grupos políticos anti-apartheid.
Vários membros do parlamento abandonaram nesse dia a câmara enquanto o presidente discursava.
Nove dias mais tarde, Mandela saiu em liberdade e quatro anos depois seria eleito o primeiro presidente negro do país, em resultado de os negros terem pela primeira vez exercido o direito de voto.
De Klerk e Mandela receberam o Prémio Nobel da Paz em 1993 pela sua cooperação, muitas vezes intensa, no processo de afastamento da África do Sul do racismo institucionalizado e em direção à democracia.
Num vídeo divulgado pouco após a sua morte pela fundação com o seu nome, De Klerk pede “desculpas pela dor e o sofrimento, a indignidade e os danos” causados aos negros, mulatos e indianos.
Reconhecendo que defendeu a segregação do apartheid na juventude e mesmo como deputado e ministro, De Klerk garante que a sua opinião “mudou completamente” no início dos anos 1980, evocando uma experiência próxima de uma conversão.
No fundo do meu coração, tomei consciência de que o apartheid era um erro, que tínhamos chegado a um local moralmente injustificável”, conclui.