O dérbi tinha a cara de Ugarte até meia hora do final: cinco ações defensivas em 25′ passando ao lado da onda de cartões amarelos que o poderia deixar condicionado, mais ações defensivas do que Weigl e João Mário juntos ao intervalo (9-6), tantos passes como ações defensivas aos 58′ (11). Não fez passes de rutura que desequilibrassem, não rematou à baliza mas Ugarte teve o mérito de fazer esquecer João Palhinha, um dos grandes ausentes do encontro frente ao Benfica. Depois, apareceu ainda mais Matheus Nunes. E em minutos consecutivos o médio mostrou o que acrescenta ao Sporting em vez de… João Mário.

Manuel pegou na tela em branco e desenhou uma obra de (Ug)arte (a crónica do Benfica-Sporting)

Talhado para aparecer em jogos grandes e mais concretamente em dérbis, o número 8 voltou a marcar aos encarnados como tinha acontecido no dérbi em Alvalade da última época (dessa vez nos descontos e a valer vitória pela margem mínima), fazendo o segundo golo da temporada depois de Arouca, também na Liga. Além do 3-0, Matheus Nunes, nesses tais minutos consecutivos que fizeram toda a diferença no dérbi, revelou a grande mais valia para a equipa de Rúben Amorim: depois de um falhanço de João Mário na área com um remate fraco para Adán, o agora internacional português agarrou na bola, cavalgou em progressão pelo corredor central ganhando metros e assistiu Paulinho na diagonal para o 2-0.

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Se dúvidas ainda existissem, o médio que há quatro anos jogava nos distritais ao serviço do Ericeirense voltou a encher o campo num estilo menos rendilhado, de posse e passe curto em relação ao antecessor mas com valências que aumentam e muito a qualidade de jogo verde e branca, pela capacidade de saída, a ajuda ao médio mais recuado e a inteligência para aparecer no último terço. E essa importância é percetível nos números de utilização, levando 22 jogos entre Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga, Supertaça e Liga dos Campeões num total de 1.711 minutos. Tudo na época de estreia na Seleção.

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Depois de ter realizado 39 partidas e três golos na última temporada (mas com 1.715 minutos, muitas vezes saindo do banco de suplente e com um golo vital para o título em Braga, a outra “vítima” preferida) entre Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e qualificação para a fase de grupos da Liga Europa, Matheus Nunes foi tendo um arranque de decisões. Primeiro, a decisão, tomada também pelos responsáveis verde e brancos, de ficar no clube apesar das ofertas e sondagens sobretudo de Inglaterra; a seguir, a decisão, que neste caso foi individual, de optar por Portugal em vez do Brasil; agora, a decisão… de decidir o dérbi.

“O nosso segredo é trabalhar sempre da mesma maneira. Não importa quem vai lá para dentro, somos uma equipa muito unida que trabalha sempre da mesma forma. Acreditamos no processo, acreditamos nas ideias que o mister nos passa e o nosso segredo é o trabalho e a união entre todos”, começou por dizer o número 8 dos leões na zona de entrevistas rápidas da BTV após ter sido eleito o MVP.

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“Crescimento como jogador? Acho que se deve à confiança que me deram desde o primeiro minuto, o mister acredita muito em mim mas quero realçar o trabalho da equipa porque sem eles nada disto era possível, fizemos um jogo muito completo aqui e fomos uns justos vencedores”, acrescentou.

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