As distritais escolheram os nomes dos candidatos a deputados, foram entregá-los à São Caetano à Lapa na última semana e as conversas foram genericamente pacíficas. Ao que apurou o Observador, do lado da direção do PSD não foram comunicados vetos aos dirigentes distritais, mas também não foi garantida a aceitação das escolhas das estruturas distritais e concelhias. “O Salvador [Malheiro] mandou umas ‘bocas’ sobre termos de aceitar a estratégia do líder, mas sempre na desportiva”, disse um dos dirigentes não alinhados com Rui Rio ao Observador. Outro líder distrital confirmou a postura saudável nas reuniões: “Não abriram o processo negocial, mas foram cordiais”.
Apesar de um primeiro impacto positivo, os críticos temem agora que haja um “saneamento” e que esse seja comunicado — de forma estratégica — perto da hora do Conselho Nacional, o que reduzirá o tempo de reação. Aí, os conselheiros afetos às distritais têm de decidir se reprovam a lista (por não serem respeitadas as indicações) ou se têm de a viabilizar para não prejudicar a imagem do partido (dada a proximidade das legislativas). Tudo isto pode fazer escalar a tensão no Conselho Nacional que vai aprovar as listas, e se realiza esta terça-feira em Évora.
Ao que o Observador apurou, o candidato derrotado das últimas diretas, Paulo Rangel, marcará presença. O eurodeputado afastou-se por completo de qualquer processo negocial e de jogos de bastidores, mas sente o dever de estar ao lado de quem o apoiou e contribuir para a pacificação do partido e, por isso, não faltará à reunião do órgão máximo entre congressos.
As distritais não se coibiram de apresentar nomes de apoiantes de Paulo Rangel nas listas à Assembleia da República, como o caso de Alberto Machado e Cancela Moura (no Porto), de Carlos Peixoto (na Guarda) ou de Cristóvão Norte (em Faro) — indicações que estarão em perigo. Há três dias, fonte da direção de Rio disse ao Diário de Notícias que considerava uma “afronta” alguns dos nomes escolhidos em Lisboa e Porto. No mesmo artigo era dada uma advertência ao facto de, em ambos os distritos, não estarem apoiantes de Rio (o secretário-geral adjunto, Hugo Carneiro, e Catarina Rocha Ferreira, no Porto; e Ricardo Batista Leite, Isabel Meirelles, em Lisboa).
Uma fonte que acompanha o processo de elaboração de listas próxima de Rui Rio diz que há “muito nervosismo” nas distritais, mas que “o alegado saneamento não será tão grande como se julga”. A mesma fonte acrescenta: “Nem se pode chamar de saneamento. Nem vão ser muitos. Vão sair algumas pessoas que traíram o líder e os presidentes que lideram distritais em que os militantes votaram maioritariamente contra o candidato escolhido pelo líder distrital”.
O processo está a ser gerido por um quarteto composto Salvador Malheiro, Paulo Mota Pinto, Francisco Figueira e José Silvano. Entre a noite desta segunda-feira e a manhã de terça-feira os quatro vão reunir-se com o líder e afinar a lista final. Segue-se depois a reunião da Comissão Política Nacional pelas 15h00 e a ratificação no Conselho Nacional, que começa às 21ho0 em Évora.
Mota Pinto apontado a Leiria (e Rio ao Porto)
Aviso prévio: os nomes ainda podem ser alterados, mas o Observador teve acesso a uma lista preliminar de escolhas da direção de Rio para cabeças de lista em várias distritais nas legislativas de 30 de janeiro: Joaquim Miranda Sarmento, em Viseu (embora também circule o nome de Hugo de Carvalho, que foi cabeça de lista no Porto há dois anos); Paulo Mota Pinto, em Leiria; Luís Gomes, em Faro; Gustavo Duarte, na Guarda, Artur Soveral Andrade, em Vila Real; Isaura Morais, em Santarém; Mónica Quintela, em Coimbra. António Topa Gomes, em Aveiro; Jorge Mendes, em Viana do Castelo. Pelas regiões autónomas, devem ser escolhidos os mesmos cabeças-de-lista de 2019: Paulo Moniz (Açores) e Miguel Albuquerque (Madeira).
O líder do PSD, Rui Rio deve, desta vez, ser cabeça de lista pelo Porto. Em Lisboa ainda há incertezas, embora Ricardo Batista Leite seja um nome falado para os lugares cimeiros. As decisões finais serão tomadas nas próximas horas pelo presidente do PSD.