O Presidente norte-americano Joe Biden aposta na transição para a mobilidade eléctrica, mas no processo quer garantir que a mudança de paradigma na mobilidade não vai prejudicar a indústria automóvel do país. Produzir baterias é um factor-chave para evitar a dependência de outros países, mas para isso é necessário que haja lítio (e outros materiais) em quantidade suficiente para dar resposta ao aumento da procura.
Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos da América, isso não será um problema graças ao lago Salton, também conhecido por mar de Salton, sob o qual existe uma das maiores reservas de lítio do mundo. De acordo com a Automotive News, estima-se que de lá será possível – entenda-se, economicamente viável – retirar cerca de 600.000 toneladas de lítio por ano.
Actualmente, a exploração de lítio em grande escala nos EUA ocorre apenas numa mina situada no estado do Nevada, o que significa que o lítio de que o país precisa é fornecido por países como a China ou a Austrália. A existência deste metal em depósitos maciços em bolsas geotérmicas sob o lago de Salton não é uma novidade em si, mas sim o repentino interesse na exploração desta riqueza. E isso tem uma explicação: num ano, o preço do lítio quadruplicou.
Face a este incremento do preço, que é expectável que se mantenha, a General Motors (GM) e a Controlled Thermal Resources juntaram-se para extrair o novo ouro “verde”. Isto numa área muito peculiar, algures posicionada entre o incrível da natureza acidental e um iminente desastre ambiental. Localizado na falha de San Andreas, sul da Califórnia, o Lago Salton foi formado em 1905, depois de uma subida do nível das águas do Rio Colorado devido a um erro de cálculo de uma obra. As cheias formaram o lago salgado e este funciona como uma espécie de depósito. Sem escoamento, os pesticidas e os fertilizantes utilizados na agricultura “desaguam” aí, pelo que quando o nível da água desce deixa expostos esses “venenos”. Para contrariar a formação de um lodo ultrafino e tóxico, há que “encher” artificialmente o lago, o que tem custos. Com a agravante de que área em volta é estéril e a zona é das mais pobres do estado da Califórnia.
Neste quadro, extrair o lítio existente nas bolsas geotérmicas até soa promissor, do ponto de vista social e ambiental. Só para os dois estágios iniciais da empreitada, a Controlled Thermal Resources fala na criação de 1400 postos de trabalho. Por outro lado, o projecto parece sustentável, pelo menos no papel. A ideia é extrair o lítio que se encontra a uma profundidade de cerca de 2400 metros e aproveitar o facto de estar nessas bolsas superquentes (316ºC) para alimentar as turbinas que geram electricidade com o vapor. Daí resultará uma salmoura concentrada de onde se retira o lítio mediante um processo de troca iónica, voltando a água a ser “injectada” no solo.
As obras de perfuração já arrancaram, prevendo-se que o complexo gere, numa fase inicial, 50 MW de electricidade renovável e se extraiam 20.000 toneladas de lítio por ano. Mas estes são apenas os números para o arranque. A Controlled Thermal Resources estima que quando os diversos pontos de extracção estiverem a operar em pleno, deverá ser possível colectar 300.000 toneladas de lítio, sendo mesmo possível extrair o dobro, segundo o Departamento de Energia dos EUA.
Em declarações à Automotive News, o director da organização não-governamental New Energy Nexus, Danny Kennedye, sinalizou a importância deste mar de lítio. “Se Joe Biden quer fabricar baterias nos Estados Unidos, esta é a sua única hipótese a grande escala”, disse.