A pouco mais de um mês das eleições legislativas, o Bloco de Esquerda foca-se sobretudo em apontar as baterias ao PS e em tentar não deixar o eleitorado de esquerda escapar. Argumento? Falta “clareza” estratégica a quem admite fazer acordos “tanto à esquerda como à direita”; do lado do Bloco, afirma-se claramente que o caminho passa por “abrir um novo ciclo” que conte com um programa à esquerda para uma legislatura inteira.
Foi esta terça-feira, na apresentação oficial do programa eleitoral do partido, que a coordenadora, Catarina Martins, criticou o que diz ser uma pré-campanha feita de “muito jogo”. E lá vieram as críticas a quem “diz que pode acordar tanto à direita como à esquerda” (destinatário: António Costa, que abriu a porta ao PSD) e a quem “falta uma visão para o país”.
“Tem vindo a faltar clareza. As pessoas estão cansadas e não precisam de umas eleições sobre jogos políticos”, atirou a líder bloquista, enunciando, por seu lado, os objetivos “claros” do Bloco: não permitir que a direita chegue ao poder, “abrir um novo ciclo político”, debater “um programa de Governo para uma legislatura”, conquistar mais força à esquerda.
A definição desses objetivos chega numa altura de incertezas que inspira cuidados à esquerda: o Bloco já veio definir o objetivo principal de se manter como terceira força política nacional, marco que algumas sondagens colocam em risco, com a subida do Chega.
Além disso, António Costa dá cada vez menos garantias de querer conversar com a esquerda – no fim de semana, pediu claramente uma maioria do PS para não ter de andar a pedir à esquerda “o favor” de lhe viabilizar os orçamentos, explicando que neste momento “não há” esse entendimento com Bloco e PCP.
O Bloco segue, por isso, o seu caminho definindo o que considera ser o programa certo para chamar os eleitores à esquerda. Como o Observador tinha antecipado, estas serão algumas das prioridades do programa eleitoral do partido, destacadas por Catarina Martins (aqui encontra-se o programa na íntegra):
Leis laborais, SNS e salários. As bases do programa eleitoral do BE para enfrentar as legislativas
– Programa de combate ao trabalho informal, “um dos maiores problemas do país”, com “o mesmo empenho que nos anos 1980 contra o trabalho infantil”;
– Revogação das leis da troika no código do Trabalho;
– Aumento do salário mínimo a 10% do ano, chegando aos valores de Espanha no fim da legislatura (em Espanha, é atualmente de 965 euros);
– Medidas para o SNS, como autonomia nas contratações, exclusividade dos profissionais e concretização da Lei de Bases, “reformulando todo o SNS” tendo em conta a população envelhecida que é, hoje, a portuguesa;
– Transformar as prestações sociais, numa altura em que “a direita cavalga um discurso discriminatório de perseguição aos mais pobres”;
– A criação de um Serviço Nacional de Cuidados, que seria uma rede pública de cuidados para infância, velhice e deficiência;
– Investimentos para a crise climática, “a crise do nosso tempo”, fazendo do transporte coletivo “norma e não exceção” e ligando os concelhos dentro das áreas metropolitanas;
– O combate às rendas excessivas na energia, acabando com os lucros que caem do céu”.