O irmão mais velho desaparecido em combate na ceia de Natal (Rui Rio) voltou como se nunca se tivesse ido embora e deixou o melhor presente para o fim para o seu irmão mais novo (Francisco Rodrigues dos Santos): “Se não quiserem votar em mim, podem votar no CDS“. A última frase do debate para as legislativas entre os líderes de PSD e CDS, na TVI, resume bem a postura simpática e cooperante de Rui Rio, que diz que “o primeiro partido com quem vai falar” se não tiver maioria é com o CDS. E até lhe ofereceu mais uns aviões na prenda pós-Natal: o líder do PSD disse pela primeira vez de forma taxativa que, tal como os centristas, concorda com a privatização da TAP.

Francisco Rodrigues dos Santos, ainda tentou, qual irmão mais novo irreverente, provocar o irmão mais velho, mas sem êxito. Acusou Rui Rio de fazer “arranjinhos com o PS”, dizendo que o voto que garantidamente não vai parar às mãos do PS é no CDS. Ao estilo de Paulo Rangel nas diretas disse que só o CDS pode garantir que “o PSD não vai por maus caminhos e os seus votos não vão para o bolso de António Costa“. Mas nem isso desmanchou Rio que confirmou que é verdade, que está disponível para viabilizar um governo do PS: “Os que perderem devem estar disponíveis para construir a governabilidade“.

Rio discordaria, porém, na questão do voto útil — ao qual apelou sucessivamente — puxando dos galões de irmão mais velho para dizer que é ele quem nada na piscina dos adultos: “Quem não quer António Costa no Governo, tem de votar PSD“. E se Francisco Rodrigues dos Santos queria vincar que era ele o garante de direita, Rio desarmou-o no início do debate ao marcar ele mesmo essa diferença: “Não é debate entre dois partidos de direita. É entre um partido de direita e um de centro. Acho que o Francisco concorda com isto“. E concordou.

Até quando chegou o debate sobre a ceia de Natal em que Francisco dos Santos, Rui Rio respondeu com fair play e simpatia: “Achei engraçado, está bem feito“. A agência de comunicação que fez o vídeo trabalha também, aliás, com vários candidatos do PSD, inclusive às legislativas de 2022. E se o presidente do PSD tinha sido cauteloso quanto a uma privatização tout court da TAP no debate alinhou com o CDS, que quer privatizar a TAP, e lembrou quando ambos os partidos o fizeram em 2015.

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“A TAP é uma vergonha”, começou por dizer. Questionado sobre se é para privatizar é claro: “Sim, sim. Acha que a TAP fica neste estado a destruir as finanças públicas? E acrescentou: “No Governo PSD e CDS privatizaram e bem. Costa reverteu mal (…) A TAP vai levar mais 3 mil milhões de euros, dá 300 euros a cada português.”

Nada fazia Rio irritar-se, que ceava com com grande fraternidade. Mesmo na eutanásia (Rio é a favor, a bancada do PSD maioritariamente contra), o líder do PSD concordou com Francisco Rodrigues dos Santos. Apesar dos dois partidos serem “contra a eutanásia”, Rio registava uma “diferença gigantesca entre PSD e o CDS”, que afinal não é assim tão grande. Enquanto o “CDS impõe o voto”, lembrava Rio, o PSD dá liberdade de voto. A liberdade de voto é a tal ponto de eu, que sou o líder voto contra a maioria.”

Francisco Rodrigues dos Santos foi tentando irritar Rio: “Quem é do centro é tudo e o seu contrário”; “Quis estar mais perto de António Costa do que de Sá Carneiro”; “Tiveram acordos com o PS nas CCDR”. Rui Rio, sempre numa postura de irmão mais velho e mais paciente só sorria, com algum paternalismo à mistura. O líder do PSD mostrou no debate que está disposto a levar o irmão mais novo para a piscina dos adultos, mas para isso tem de crescer (em votos).

O diálogo mais revelador

Rui Rio – Se querem que o primeiro-ministro não seja do PS, só têm um – não é que eu seja melhor do que os outros, mas represento o partido que o pode fazer.

Francisco Rodrigues dos Santos – O CDS não se vai extinguir no dia 30 de janeiro. Estará cá certamente com um objetivo: derrotar António Costa e a extrema-esquerda, encontrar uma solução alternativa mas também dar a garantia de que um voto no CDS será a única opção possível para termos um Governo de direita em Portugal, coisa que o doutor Rui Rio não conseguiu garantir neste debate.

Rui Rio – E se não quiserem votar no PSD podem votar no CDS, isso aconselho (risos).