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"É melhor ridículo do que morto": a resposta aos movimentos anti-máscaras que surgiram há cem anos, numa outra pandemia

Este artigo tem mais de 2 anos

"Coloca uma máscara, salva a tua vida", era o conselho da Cruz Vermelha há mais de um século, como consequência da Gripe Espanhola, responsável pela morte de entre 50 a 100 milhões de pessoas.

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Tal como na atual pandemia causada pela Covid-19, também a pandemia provocada pela Gripe Espanhola, há cerca de 100 anos, levou à implementação de medidas para tentar mitigar os contágios. E, tal como hoje, um setor da sociedade recusou acatar as restrições.

A Gripe Espanhola não teve origem, na verdade, em Espanha. Este novo vírus surgiu no Estado do Kansas, nos Estados Unidos da América, em março de 1918. O vírus foi reportado entre diversos soldados que seriam depois transferidos para França, para combater na Primeira Grande Guerra — o que levou à propagação do vírus pelo resto da Europa.

Tendo sido o primeiro país da Europa que verificou um aumento significativo de casos em toda a sociedade, Espanha ficou para sempre associada à pandemia do início do século XX. A 17 de setembro de 1918, segundo a ABC, foram implementadas as primeiras medidas sanitárias contra a Gripe Espanhola, como o encerramento das fronteiras com Portugal e França.

Não nos devemos esquecer que as medidas que funcionaram nesta última pandemia [Covid-19] foram interiorizadas em 1918: a distância de segurança, a ventilação, a higiene, a preferência por atividades ao ar livre e o uso de máscara”, explicou à ABC o virologista e professor de Microbiologia na Universidade de San Pablo, Estanis Nistal.

Coloca uma máscara, salva a tua vida“, era o conselho da Cruz Vermelha para combater a gripe responsável pela morte de entre 50 a 100 milhões de pessoas. Uma parte da população, contudo, recusou o uso da máscara, numa altura em que não existiam nem vacinas contra o vírus, nem terapias farmacológicas eficazes para controlar os infetados, que manifestavam sintomas gripais severos.

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Durante a Gripe Espanhola, em 1918, foram adotadas medidas sanitárias semelhantes às de hoje, como o uso de máscara e a realização de atividades ao ar livre

Estima-se que a Gripe Espanhola tenha matado entre 50 a 100 milhões de pessoas em todo o mundo

MediaNews Group via Getty Images

Na Europa o uso da máscara não foi implementado à escala geral, tendo sido nos Estados Unidos da América que esta medida ganhou mais força, desencadeando, por outro lado, movimentos  que se opunham esta regra sanitária.

Em outubro de 1918, o Serviço de Saúde Pública norte-americano começou a distribuir pela população folhetos relacionados com as novas regras, e a Cruz Vermelha afirmava, nos jornais da época, que “todo o homem, mulher ou criança que não use [máscara] deve ser considerado um negligente perigoso“.

Além disso, eram dadas instruções de como fazer máscaras caseiras, com gaze e fios de algodão. Em Estados como a Califórnia, Utah e Washington, os movimentos anti-máscara consolidaram-se, particularmente após a implementação de medidas mais severas. “Quem espirrar sem cobrir a boca será detido“, podia ler-se na imprensa da época.

Foi em São Francisco que se decretou pela primeira vez o uso obrigatório de máscara. De imediato surgiu um movimento de oposição, liderado pela sufragista E.C. Harrington: a Liga Anti-Máscara.

Os argumentos utilizados pela liga eram semelhantes àqueles utilizados hoje em dia, como a alegada ineficácia da medida e o facto de representar um atentado à liberdade individual. Segundo a ABC, por esta altura, os juízes saíram à rua e começaram a realizar os julgamentos em ar livre, como protesto contra o uso das máscaras.

O então mayor da cidade, James Roph, apelou “à consciência, ao patriotismo e à autoproteção, que exigem o cumprimento imediato e rígido do uso da máscara“. O número de detenções disparou, e o chefe da Polícia de São Francisco informou o mayor que a cidade estava a ficar sem celas vazias. Juízes e oficiais de justiça tiveram de trabalhar horas extra noite dentro e os fins de semana foram ocupados em julgamentos, para reduzir o número de detidos nas cadeias.

Durante a Gripe Espanhola, em 1918, foram adotadas medidas sanitárias semelhantes às de hoje, como o uso de máscara e a realização de atividades ao ar livre

Em São Francisco, os detidos por recusa em utilizar máscara foram de tal ordem que se receou ficar sem espaço nas celas

Gado via Getty Images

Num só dia, segundo o San Francisco Chronicle, foram detidas mais de 100 pessoas por “perturbar a paz” ao não utilizar máscara. O preço a pagar para quem fosse apanhado com a boca e o nariz à mostra eram 10 dias na prisão ou o pagamento de uma multa equivalente, atualmente, a 80 dólares.

As ordens, ainda assim, continuaram a não ser acatadas. A 25 de janeiro de 1919, a Liga Anti-Máscara realizou uma manifestação, com mais de 2 mil membros, no centro da cidade, em oposição ao decreto.

Mais tarde, esta medida sanitária foi estendida a outras cidades norte-americanas, como Denver, Seattle, Sacramento e Phoenix. Escolas, igrejas, teatros e salas de cinema foram encerrados nestas localidades. Em Oakland, o mayor da cidade lançou um apelo aos seus habitantes: “O sensato e patriótico, sem que importem as nossas crenças pessoais, é proteger os nossos concidadãos, unindo-nos nesta prática.”

Já o Conselho de Saúde de Nova Iorque preferiu uma abordagem mais direta: “É melhor fazer o ridículo do que estar morto.”

Do outro lado do Atlântico, na Europa, as regras utilizadas para combater a Gripe Espanhola foram diferentes. Em Espanha, o governo mandou encerrar as salas de cinema e apelou aos líderes locais para que limitassem a lotação dos eventos públicos — o que levou a uma grande revolta por parte da Igreja. Apenas no Reino Unido, e limitada a algumas cidades e grupos específicos, como as enfermeiras, a máscara foi recomendada.

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