O novo ministro dos Transportes alemão, Volker Wissing, deu uma entrevista à publicação germânica Tagesspiegel, a quem confessou que o Governo que integra “aposta na mobilidade eléctrica e não aconselha a compra de modelos com motores de combustão, sejam eles a gasolina ou a gasóleo”. Wissing, do partido liberal FDP, defende que “temos de utilizar as diferentes fontes de energia onde elas são mais eficientes e, no caso dos carros, é a mobilidade eléctrica”.

Esta posição do ministro dos Transportes colide frontalmente com o interesse dos construtores locais, os grupos BMW, Mercedes e Volkswagen. Recorde-se que a União Europeia agendou inicialmente para 2035 a proibição da venda de novos automóveis com motor de combustão, mas agora pretende antecipar a medida para 2030. E essa intenção pouco favorecerá os interesses dos fabricantes germânicos – quando muito, à excepção da VW –, que até poderiam contar, pelo menos parcialmente, com o apoio do Governo anterior, liderado por Angela Merkel, da CDU.

As declarações de Volker Wissing, que integra o Governo que tomou posse no início de Dezembro liderado por Olaf Sholz, do SPD, prova que há uma mudança nas orientações gerais, favorecendo o ambiente. Tudo isto se explica, em parte, pela presença dos Verdes na coligação que actualmente está à frente dos destinos do país.

Além da postura antimotores de combustão, o novo Governo revela-se igualmente contra a adopção de combustíveis sintéticos, os denominados e-fuels. Isto coloca Volker Wissing numa posição diametralmente oposta ao seu antecessor, Andreas Scheuer, que abriu a porta a este tipo de gasolina e gasóleo fabricados em laboratório, a partir de carbono capturado na atmosfera.

Esta resistência aos e-fuels, que se aproxima da posição defendida pela União Europeia, representa mais uma machadada nos interesses dos construtores germânicos, pois alguns – especialmente os que produzem veículos mais potentes – contavam com os e-fuels para continuar a vender motores de combustão. Sobretudo porque isso, pelo menos a curto prazo, lhes permitiria evitar investimentos mais volumosos e, assim, fazer uma distribuição mais generosa do lucro pelos accionistas.

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