Boris Johnson enfrenta mais um dia complicado. Esta quarta-feira, irá ao debate semanal na Câmara dos Comuns, onde a oposição voltará a falar nas festas realizadas durante o confinamento em Downing Street. Mas o maior perigo vem da sua própria bancada, um dia depois de alguns deputados conservadores se terem juntado para conspirar, num encontro que já ficou conhecido como a trama da “Empada de Porco”. Parece cada vez mais claro que o primeiro-ministro britânico vai acabar por enfrentar uma moção de censura interna — a grande questão, neste momento, é quando, com alguns deputados a afirmarem à imprensa britânica que o processo pode ser aberto ainda esta quarta-feira.

Os jornais dão conta que mais de 20 deputados tory, a maioria dos quais estreantes no Parlamento que entraram em 2019, se reuniram na noite desta terça-feira para discutir o possível afastamento de Boris Johnson. O encontro terá tido lugar no gabinete da deputada Alicia Kearns, deputada da região de Rutland and Melton, conhecida pela empada de porco local, razão pela qual o momento já foi apelidado de “putsch da Empada de Porco”. De seguida, mais de 100 deputados jantaram juntos no Carlton Club, onde a discussão sobre o futuro de Boris terá continuado.

As reuniões tiveram lugar depois de uma entrevista televisiva em que o primeiro-ministro falou sobre o caso das festas em Downing Street e voltou a rejeitar responsabilidades. O antigo aliado Dominic Cummings garante ter avisado o primeiro-ministro que o evento de maio de 2020 não cumpria as regras, mas Boris Johnson nega. “Assumo total responsabilidade pelo que aconteceu, mas ninguém me avisou. Sou categórico: ninguém me disse que este era um evento que quebrava as regas”, disse o primeiro-ministro na entrevista.

Vários deputados garantiram ao The Times que vão entregar cartas ao Comité 1922, responsável por convocar uma moção de censura interna ao primeiro-ministro caso receba 54 cartas. Fontes do partido disseram ao jornal que creem que o número 54 pode ser atingido ainda esta quarta-feira. Outros media receberam a mesma informação: “Estamos quase lá”, disse um dos revoltosos à Sky News. “Se acho que há a possibilidade de muitas pessoas entregarem a sua carta? Sim, acho mesmo”, disse outro ao Telegraph.

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A grande dúvida é se serão suficientes para abrir o processo de moção de censura de imediato. Outras fontes ouvidas pela Sky News apontam que a maioria dos deputados irá esperar pela conclusão do inquérito interno às festas, liderado por Sue Gray. Ainda não é sabido quando será publicado o relatório. Boris Johnson já foi ouvido por Sue Gray, que quer agora entrevistar Dominic Cummings.

“Operação Carne Vermelha”. Boris tenta relaxar regras da Covid para apaziguar deputados

O primeiro-ministro vai esta quarta-feira ao Parlamento britânico, para participar no habitual debate semanal, e deverá aproveitar o momento para fazer um anúncio relacionado com a Covid-19. A Sky News garante que Boris irá anunciar o relaxamento das regras de combate à Covid-19, a que se opuseram muitos deputados do seu próprio partido, num plano a que fontes de Downing Street já chamam de “Operação Carne Vermelha”, em oposição à “Empada de Porco”.

A cadeia de televisão garante que o primeiro-ministro irá anunciar o fim da obrigatoriedade de apresentar certificado Covid em estabelecimentos, bem como a recomendação de teletrabalho obrigatório. O uso de máscara no interior, porém, deverá manter-se. “As decisões sobre os próximos passos continuam a ser alvo de um equilíbrio delicado”, afirmou um porta-voz do governo.

Apesar disso, a oposição deverá aproveitar o momento para manter a pressão sobre o primeiro-ministro relativamente às festas em Downing Street, garante o The Guardian.