Cotoveladas destas Rui Rio agradece. O sexto dia de campanha do PSD acabou por ficar naturalmente marcado pelas declarações de Rosa Mota, que classificou o líder social-democrata como um “nazizinho”. O candidato do PSD chamou-lhe um figo e passou o dia a lamentar a “falta de elevação” dos socialistas em campanhas eleitorais, uma narrativa que o social-democrata tem vindo a esforçar-se por passar nesta corrida às legislativas.
E nem a absolvição de Rui Moreira, que Rui Rio transformou em alvo durante a campanha autárquica, atrapalhou. Desta vez, a assessoria de imprensa do PSD fez saber que o presidente do partido não ia falar sobre o tema por se tratar de uma questão local.
A estratégia de Rui Rio, como detalhava o Observador, tem sido evitar entrar no bate boca direto com António Costa, a tal “berraria” que o social-democrata diz frequentemente desprezar, para não forçar um cerrar de fileiras no eleitorado do PS — o que acabaria por mobilizar os socialistas e bipolarizar ainda mais a campanha.
[Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador com a campanha do PSD]
Sem correr riscos e apostado em esperar que o adversário cometa erros, Rio vai levando a campanha em modo de passeio pelo país, com duas arruadas (uma de manhã e outra à tarde) e uma sessão de esclarecimento ao final do dia. Não existe roteiro da carne assada — como se convencionou chamar à forma clássica de fazer campanhas eleitorais –, nem exaltações de espírito — quanto mais moderado parecer Rio, mais facilmente entrará no eleitorado do centrão, que costuma balançar entre um e outro partido, acredita-se na comitiva que a acompanha o líder social-democrata.
Não há carne assada, mas Rio aproveita todos os ataques de que é alvo para fazer croquetes e tentar passar a imagem contrastante de um António Costa “nervoso”, a jogar “feio” e a fazer a política do bota-abaixismo. “Com este nível de elevação penso que não vamos muito longe. Vão continuar a chamar o que entenderem, como tenho dito, fica a falar sozinho, porque não vejo outra alternativa que não seja deixá-lo a falar sozinho“, atirou Rio já durante a sessão de esclarecimento organizada pelo partido em Coimbra, já depois de o ter dito aos jornalistas na Figueira da Foz.
Seria quase assim, não fosse Rio não ter resistido à tentação. “Até podia processar por difamação, mas depois também o advogado do outro lado podia dizer assim — intelectuais aonde? Realmente era uma defesa interessante porque não é intelectual quem diz coisas destas”, sugeriu o social-democrata. Cereja no topo do bolo: Costa foi obrigado a demarcar-se das declarações de Rosa Mota, o que, para os homens de Rui Rio, é prova do desnorte da campanha socialista.
Antes, num desfile demorado (e novamente muito preenchido) desta vez pela baixa de Coimbra, Rio permitiu-se a tudo: parar num café para beber água, entrar numas quantas lojas, comprar uma moeda comemorativa dos 20 anos da União Económica e Monetária… valeu tudo sobretudo não arrancar olhos. “Pelo que vou sentindo e vou vendo, acho que a probabilidade de o PSD ganhar é mais elevada que o PS, mas vamos ver”, foi dizendo aos jornalistas.
Sem levantar grandes ondas, com umas referências ao gato Zé Albino, não explorando casos sensíveis com o levantamento da imunidade parlamentar de Eduardo Cabrita, Rio vai seguindo a campanha, que de tão profissional que é nem parece ser campanha. E as sondagens parecem estar a acompanhar o ritmo do líder social-democrata: devagar, devagarinho, mas a ficar cada vez mais perto. “As pessoas entenderam-me com o tempo, a minha coerência, já quando fui presidente da Câmara do Porto foi a mesma coisa. O tempo é o aliado que nós temos”. Faltam nove dias.