O governo britânico acusou a Rússia de tentar substituir o executivo da Ucrânia com uma administração pró-Moscovo, identificando um antigo deputado ucraniano que diz estar a ser considerado pelo Kremlin como potencial candidato. Moscovo nega, e acusa Londres de desinformação, apelando para que “pare de espalhar disparates”.

O governo britânico fez esta acusação com base numa avaliação dos serviços secretos. “Temos informação que indica que o governo russo está a tentar instalar um líder pró-Rússia em Kiev, uma vez que considera a possibilidade de invadir e ocupar a Ucrânia. O antigo deputado ucraniano Yevhen Murayev está a ser considerado como potencial candidato”, disse, em comunicado, a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss. Yevhen Murayev lidera um pequeno partido pró-Rússia, o Nashi, que atualmente não tem nenhum deputado no parlamento.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros identificou vários políticos ucranianos, alguns dos quais Truss disse terem “contacto com agentes dos serviços secretos atualmente envolvidos no planeamento de um ataque à Ucrânia”. Esta informação evidencia “a dimensão da atividade russa, desenhada para subverter a Ucrânia, e revela a forma de pensar do Kremlin”, acrescentou.

Truss instou a Rússia a “pôr termo às campanhas de agressão e desinformação, e a enveredar por um caminho de diplomacia”, e reiterou ainda que o Reino Unido considera que “qualquer incursão militar na Ucrânia seria um enorme erro estratégico com graves custos”.

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Moscovo rejeitou as acusações de Londres. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia escreveu no Twitter que as “nações anglo-saxónicas” da NATO estavam a “escalar a tensão” na questão da Ucrânia. “Instamos o Ministério dos Negócios Estrangeiros a parar de espalhar disparates”, pode ler-se.

A possível invasão russa da Ucrânia tem deixado a Europa em altera. No domingo, França defendeu um diálogo direto entre a União Europeia e a Rússia sobre a arquitetura da segurança no continente.

É necessário que “tenhamos, como União Europeia (…) propostas, um diálogo organizado e regular com a Rússia, ao mesmo tempo que nos mantemos firme”, disse Clément Beaune, secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus.

Na visão de Baume, o Presidente russo, Vladimir Putin, favorece o diálogo com os Estados Unidos porque “recorda os tempos da Guerra Fria e o choque de superpotências” e também porque isso lhe permite, potencialmente, “dividir” os europeus.

O que temos de fazer é manter-nos unidos como ocidentais, estar presentes como europeus. A União Europeia está a fazer o suficiente? Provavelmente não”, disse o secretário de Estado.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, já tinha, num discurso no Parlamento Europeu, pedido um diálogo entre a UE e a Rússia sobre “uma nova ordem de segurança na Europa”.

“Temos de a construir entre europeus, depois partilhá-la com os nossos aliados no quadro da NATO e depois a propormos em negociações com a Rússia”, disse Macron.

Clément Beaune referiu que num futuro imediato, Paris e Berlim estão a tentar “reativar” a sua mediação entre a Rússia e a Ucrânia no chamado formato “Normandia”, evocando, sem mais detalhes, “iniciativas” e um novo encontro entre Emmanuel Macron e Vladimir Putin nos “próximos dias”.

Clément Beaune também considerou “insensato” falar de “barulhos de botas” de tropas russas na Ucrânia, quando o canal diplomático não está esgotado.

As tensões entre Moscovo e Washington sobre a Ucrânia estão a um nível muito elevado, devido à concentração de cerca de 100 mil militares russas na fronteira com o país vizinho com o intuito, segundo a Europa e os Estados Unidos, de um ataque, intenção que a Rússia nega ter.