Em Roma, sê romano. No alto Alentejo, sê defensor da agricultura e do mundo rural. Rui Rio passou o seu nono dia de campanha eleitoral nas cidades de Portalegre e Évora e contou com a grande antipatia do setor primário para com o PAN para ganhar algum fôlego.
Depois de uma arruada assim-assim na cidade de Portalegre, Rui Rio foi até à Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre onde foi recebido por quase de 100 agricultores com bandeiras com a mensagem “Coligações com partidos anti agricultura no Governo, não!”. Rio aproveitou a boleia e deixou a primeira promessa concreta da campanha: “Fica aqui o compromisso: se ganhar as eleições as florestas ficam na Agricultura”.
Um possível acordo com PAN, partido que se têm mantido equidistante ao longo de toda a campanha acabou por dominar grande parte das conversas, quer com jornalistas, quer, mais tarde, nas intervenções dos militantes e simpatizantes que se juntaram à sessão de esclarecimento organizada pelo partido. Apesar de ter garantido sempre que se distanciaria da agenda do PSD, a verdade é que Rui Rio nunca fechou por completo a porta a uma coligação com partido liderado por Inês Sousa Real.
[Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador com a campanha do PSD]
“Não vai morrer ninguém”, mas Rio lembra-se de uma “banhada”
“Só que negociar não é propriamente chegar à mesa das negociações e pôr em cima da mesa um programa derrotado. Negociar é respeitar o programa que ganhou e, depois, pedir, exigir no quadro de negociação, aspetos que são passíveis de negociação”, sublinhou Rio, para logo acrescentar: “Nós temos de ter o bom senso e o equilíbrio e sabemos quais são as linhas vermelhas de quem temos à nossa frente e, relativamente ao PAN em concreto, naturalmente que assim procederemos”
Seja qual for a real intenção de Rio para ponderar uma aliança com o PAN, o partido profundo deixou um sinal claro: “Não queremos estar reféns de agendas extremistas desta natureza. Recusamos isso”, diria mais tarde Arlindo Cunha, especialista do partido para área da Agricultura e que chegou a ser apontado por Rio, em 2019, como ministro da Agricultura num governo PSD.
Já numa conversa informal com jornalistas, durante uma pausa para café, Rio não deu grande conversa sobre o PAN e a proposta do PSD para devolver as Florestas ao Ministério da Agricultura. “Quando o PAN ganhar as eleições, as Florestas ficam no Ambiente”, ironizou.
Por falar em PAN e animais, Rio aproveitou para voltar a atiçar o gato Zé Albino contra António Costa. A propósito das declarações do socialista sobre as alegadas “maroscas” no programa eleitoral do PSD. “Um dos elementos que tem sido notório nesta campanha, um elemento importante, é o Zé Albino [gato de Rui Rio] e eu acho que há aqui candidatos, em particular o doutor António Costa, que devia seguir o exemplo do Zé Albino, consegue ser uma figura central da campanha e não perde uma única oportunidade de estar calado, é que não perde mesmo, e o doutor António Costa, às vezes, perde oportunidades de estar calado”, despachou Rio.
Mais tarde, em Évora, nova sessão de bicharada à bulha. Numa arruada em Évora, onde se fez acompanhar por Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Rui Rio não resistiu a comentar declarações de António Costa, que, no domingo, disse que nos maus momento também era preciso “tratar bem o gado, alimentar o gado, e acarinhar o gado, para que o gado engorde”. “Essas declarações não são muito felizes. Diz que tem de alimentar o gado e fazer mais não sei quê ao gado… Não foram declarações muito elegantes”, lamentou Rio.
Confrontado com a possível falta de elevação de um debate político feito em torno de gatos e gado bovino, Rio devolveu as acusações. “Quem baixou o nível foi o PS. António Costa é que baixa o nível quando diz que eu estou refém da extrema-direita”, sublinhou Rui Rio.
Desafiado a dizer se contaria ou não com o Chega para viabilizar um governo no Parlamento ou um Orçamento do PSD, Rui Rio despachou o assunto. “É uma questão de aritmética simples: nós vamos eleger 230 deputados, se há deputados que querem votar o meu governo ou o meu Orçamento eu não vou interromper os trabalhos para os expulsar”, disse. E se o Chega não estiver convencido, o PSD vai tentar negociar para fechar um Orçamento do Estado? “Se não estiverem convencidos, votam contra”, rematou Rio.
Já na sessão de esclarecimento, desta vez dedicada ao tema da Agricultura, Rio voltou a dizer-se vítima de uma campanha negra contra o PSD. “É fácil vender que somos contra o salário mínimo. Mas isso é mentira, quase difamatório. Quem é que consegue viver aceitavelmente com 700 e 800 euros? É politiqueiro, pode funcionar, mas não é sério. Mesmo em campanha eleitoral, não quero enganar as pessoas. Aumentar os salários é um objetivo central”, atirou Rio. “Queremos subir os salários, mas temos de ser capazes de produzir mais riqueza. O problema não é trabalhar mais, é trabalhar melhor. Esforço as pessoas já fazem.”
Depois de Rio, foi a vez de Arlindo Cunha, especialista do partido em Agricultura e que chegou a ser apontado por Rio, nas legislativas de 2019, como futuro ministro da Agricultura. O social-democrata revelou que o PS terá enviado uma carta aos agricultores a garantir que só alguém pouco sério poderia sugerir que os socialistas não cuidam da Agricultura.
“Significa que alguém está com medo”, disse Arlindo Cunha. “[Os agricultores] assistiram àquelas intimidades todas entre o líder do PS e a líder do PAN”, rematou.