Cinco ex-paramilitares do Guatemala foram condenados esta segunda-feira a 30 anos de prisão por violarem 36 mulheres indígenas na década de 1980.

O julgamento teve início no dia 5 de janeiro e analisou os crimes cometidos às vítimas, que na altura tinham entre 12 e 52 anos, na localidade de Rabinal. Os casos ocorreram entre 1981 e 1985.

“Houve massacres. Muitas mulheres foram violadas”, afirmou, citada pela BBC, Antonina Vale, uma das sobreviventes dos crimes. “Temos muita dor nos nossos corações”.

Estima-se que tenham morrido 200 mil pessoas e que tenham desaparecido outras 45 mil pessoas durante os conflitos que ocorreram no Guatemala entre 1960 e 1996, onde grupos paramilitares de direita apoiados pelos militares defrontaram grupos de guerrilha de esquerda.

Guatemala. 40 anos depois, cinco paramilitares julgados pela violação de 36 mulheres

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O julgamento, que durou cerca de três semanas, contou com testemunhos de sobreviventes do grupo de mulheres Achi — um povo indígena descendente dos Maias — assim como familiares das vítimas.

Um dos juízes encarregues do caso, Gervi Sical, explicou que as sentenças tinham sido aplicadas por crimes contra a a humanidade e detalhou ainda que os cinco homens acusados “despacharam” os homens que residiam na vila, e depois prenderam, violaram e ameaçaram as mulheres Achi, conta a Reuters, citada pela BBC. Depois de terem violado a mulheres, os cinco homens terão urinado sobre vítimas.

Antonina Vale explicou que estava grávida na altura em que foi violada e que o bebé acabou mais tarde por morrer. “Eu pedi aos paramilitares que me poupassem, mas eles não em ouviram”, afirmou. “O que aconteceu com as nossas vidas e os nossos corpos não é justo.”

Outra das sobreviventes, Maxima Garcia, afirmou que foi “violada quando estava grávida de sete meses.”

Eu perdi o meu bebé. A minha mãe foi violada quando estava grávida de oito meses e foi depois morta. Eles deixaram-na enforcada na casa”, contou a vítima.

Pedrina López tinha apenas 12 anos na altura em que foi violada. “O que nos aconteceu nunca nos deixou”, explicou a testemunha durante uma sessão na segunda-feira de manhã no tribunal. “O meu corpo foi marcado por tudo o que aconteceu”.

Pedrina López fez ainda um apelo aos sentenciados para que entregassem os restos dos seus pais, que foram levados pelos paramilitares e dados na época como desaparecidos.

A socióloga e coordenadora do programa de combate à violência de género Impunity Watch Guatemala, Brisna Caxaj, afirmou, segundo o The Guardian, estar “muito satisfeita com o resultado [do julgamento]”.

O tribunal reconheceu o uso de violência sexual durante o conflito armado de uma forma sistémica, e também estabeleceu o modo como o exército utilizou os paramilitares para cometer esses crimes”, explicou a socióloga.

O julgamento foi realizado num tribunal dedicado a casos de risco, que envolvam crime organizado e casos de corrupção. Estes tribunais foram criados com o apoio das Nações Unidas, e visavam implementar uma reforma estrutural no combate ao crime organizado e à corrupção do Guatemala, depois da guerra civil que assolou o país durante mais de 30 anos. A missão da ONU foi dissolvida em 2019, com o fim do mandato do então Presidente, Alejandro Ciammattei.

Dois outros homens tinham já sido condenados em 2016 a uma pena combinada de 360 anos por crimes que incluíam escravatura sexual e homicídio, num caso reportado por 15 mulheres Q’eqchi — descendentes, tal como as mulheres Achi, do povo Maia.