O parlamento da Catalunha vai perdoar postumamente cerca de mil pessoas, a larga maioria delas mulheres, condenadas por bruxaria na região autónoma há 400 anos.

O presidente catalão descreveu a caça às bruxas que ocorreu no passado como “um femicídio institucionalizado“, conta o The Guardian. Estima-se que cerca de 40 mil mulheres tenham morrido na Europa acusadas de bruxaria, entre 1580 e 1630. Espanha, à semelhança de Portugal, não tinha esta prática regularizada.

A caça às bruxas, fortemente implementada no norte da Europa, era incomum na Península Ibérica, uma vez que a Inquisição, presente no sul do continente, focava especialmente a sua atenção em casos de heresia entre judeus e muçulmanos convertidos ao cristianismo — apelidados na época de cristãos-novos.

A Catalunha, contudo, manteve uma tradição de caça às bruxas que persistiu até ao século XVIII. Segundo o professor de História Moderna da Universidade de Barcelona, Pau Castell, a condenação de supostas bruxas era uma prática comum na região da Catalunha.

Sobretudo as áreas rurais, governadas por sistemas feudais, eram propícias a condenações de mulheres por crimes de bruxaria baseadas exclusivamente em confissões arrancadas, na maioria dos casos, com recurso a tortura.

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O professor de História Moderna explicou ainda que era frequente a condenação de mulheres por bruxaria com base em mortes de crianças ou catástrofes de origem natural, como fracas épocas de colheita agrícola. Estas mulheres — que na Catalunha eram enforcadas (não queimadas na fogueira) — eram praticantes de medicina tradicional ou mulheres independentes marginalizadas pela restante sociedade.

Quatro parques infantis na vila catalã de Palau-solità i Plegamans foram nomeados em homenagem a mulheres condenadas de bruxaria, e estão em curso projetos para nomear diversas ruas e praças da região autónoma espanhola em memória de mais pessoas acusadas desta prática.

Escócia poderá perdoar quase quatro mil vítimas de bruxaria

Decorre igualmente na Escócia um movimento, intitulado “Bruxas da Escócia”, que pretende obter o perdão do governo escocês em relação às 3.837 pessoas condenadas de bruxaria no país. Cerca de 84% destas, segundo o The Scotsman, eram mulheres.

A petição criada com o objetivo de ser apresentada ao parlamento escocês pede o perdão póstumo de todas as pessoas que morreram sob pretexto de bruxaria, assim como a criação de um monumento nacional que preste homenagem a estas vítimas.

Claire Michell, advogada responsável pela criação do movimento, explicou ao jornal escocês que havia várias opções para homenagear as vítimas, mas um pedido de desculpas público seria a amis viável.

o “Perdão Real da Rainha” foi abandonado, porque “não é uma questão de um perdão em casos individuais […] uma vez que os processos de julgamento foram realizados pelo Estado escocês“.

A opção de recorrer à Comissão de Revisão de Casos Criminais da Escócia também foi colocada de parte. Isto porque “perdoar pessoas individuais não seria viável, uma vez que não existe ninguém que pudesse ser considerado como ‘pessoa de legítimo interesse’” em virtude dos séculos que separam os dias de hoje do período em que as vítimas foram condenadas.