Tendo presente que a compra de um automóvel novo é, a seguir à compra de casa, o segundo maior investimento/despesa que a maioria das pessoas faz, importa garantir que essa aquisição não se traduzirá numa fonte de problemas. Para percepcionar a qualidade associada ao veículo, a JD Power recolhe anualmente o feedback de proprietários ou locadores e é com base nas queixas recolhidas que elabora um ranking de fiabilidade relativamente simples: quanto menos problemas, maior é a pontuação. Em 2022, o Estudo de Fiabilidade de Veículos (VDS, de Vehicle Dependability Study) da JD Power, realizado nos EUA, colocou a Kia pelo segundo ano consecutivo na liderança da tabela entre as marcas generalistas e, mais relevante ainda, no topo da classificação geral, que pela primeira vez na história deste ranking não é ocupado por um construtor dito “premium”.

A Kia, pertença do Hyundai Motor Group, saltou assim do 3.º lugar que conquistou em 2021 na classificação geral, para a posição cimeira do pódio em 2022. No processo, além de se impôr entre outros 31 construtores cujos modelos foram escrutinados, o fabricante sul-coreano destacou-se da concorrência alemã em solo norte-americano. Marcas como a Porsche, BMW, Mercedes e Audi, cuja qualidade na construção de automóveis é habitualmente valorizada, pelo menos junto dos europeus, viram-se relegadas para trás do construtor de Seúl, ocupando respectivamente a 7ª, a 15ª, a 19ª e a 26ª posições na classificação geral. O 911 foi considerado o modelo mais fiável no estudo, mas nem isso impediu a Porsche de se ver ultrapassada pela Genesis e pela Lexus, isto no restrito leque dos fabricantes premium.

“Com uma pontuação de ‘problemas por 100 veículos’ (PP100) de 145, a Kia superou a média do sector em 47 pontos”, refere a marca, e contribuiu para que o Hyundai Motor Group estivesse em alta neste VDS, pois a Hyundai estabeleceu-se no 3º posto e a Genesis, a insígnia de luxo dos sul-coreanos, ficou em 4º da geral, mas em 1º no que toca aos construtores premium. Pela negativa, realce para a Land Rover, com uma pontuação de 284, Volvo (256) e Alfa Romeo (245), que surgem na cauda da classificação. A Tesla não consta do ranking “devido ao reduzido tamanho da amostra”, segundo a JD Power.

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Foram inquiridos 29.487 indivíduos, entre compradores e clientes de leasing, com automóveis e veículos comerciais ligeiros do model year 2019, após três anos de propriedade. Nesta última edição do VDS, a 33ª, os critérios em análise foram revistos para melhor se adaptarem às tecnologias disponíveis nos veículos actuais. Foram considerados 184 pontos, distribuídos por nove categorias, incluindo as actualizações de software, com a JD Power a defender que quem dominar as actualizações over-the-air beneficia de uma “enorme vantagem” face à concorrência, devendo os construtores explorar essa via para “corrigir problemas e melhorar ou adicionar recursos e, assim, manter os proprietários satisfeitos”.

Nota para o facto de os sistemas de infoentretenimento serem a área que continua a alimentar mais críticas. Diz ainda a JD Power que “as marcas premium normalmente incorporam mais tecnologia nos seus veículos, o que aumenta a probabilidade de ocorrerem problemas”.

Os fabricantes generalistas registaram, em média, 190 problemas por 100 veículos, ao passo que os construtores de luxo foram visados, também em média, com 204 problemas por 100 veículos. A conclusão da JD Power é que quem compra um carro de uma marca generalista tem menos dores de cabeça com o seu novo automóvel: “A qualidade de construção dos veículos de ‘massa’ melhorou substancialmente e agora equipara-se à das marcas premium.”

Recorde-se que a Kia começou por oferecer sete anos de garantia para “convencer” os clientes fora do seu mercado doméstico e já se arrisca a estender esse prazo até aos 10 anos com o novo Sportage. A estratégia tem vindo a dar frutos, pois em 2021 a marca teve o seu melhor registo de vendas na Europa.