O efeito independente do consumo de vegetais crus e cozidos não é suficiente para diminuir a probabilidade de ocorrência de um ataque cardíaco ou de um acidente vascular cerebral (AVC), conclui um estudo das universidades de Oxford e Bristol e da Universidade Chinesa de Hong Kong, que analisou as dietas de quase 400 mil adultos do Reino Unido. Foi publicado esta segunda-feira na revista científica Frontiers in Nature.

Com recurso a dados da plataforma UK Biobank, os participantes responderam a um questionário sobre a dieta adotada, em particular a quantidade diária de vegetais cozidos e crus que ingeriam. A partir das respostas, os investigadores monitorizaram a saúde dos inquiridos durante mais de 10 anos na tentativa de perceber se a alimentação aumentou ou reduziu o risco de problemas cardíacos.

Ainda que o risco de morte por doença cardíaca tenha caído cerca de 15% no grupo de participantes que comeram mais vegetais – particularmente aqueles que os comeram crus e em grande quantidade – em comparação com os que consumiram menos, os autores justificam esta realidade de outra forma, de acordo com a BBC. Qualquer benefício desapareceu quando equacionados factores de estilo de vida, tais como tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas e regularidade de prática de exercício físico, e situação socioeconómica, tais como a renda que pagam.

Em média, os inquiridos assumiram que comiam cinco colheres de vegetais por dia – o que representa apenas 71 gramas ou um terço de uma xícara. Especificamente, cerca de duas colheres e meia eram de vegetais crus, as  restantes três eram de vegetais cozidos.

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É demasiado pouco”, considera Andrew Freeman, co-presidente do Colégio Americano de Cardiologia, à CNN. Aliás, as diretrizes dietéticas do Reino Unido recomendam cinco porções de frutas e verduras por dia, com cada uma delas a rondar as 80 gramas (uma xícara). Traduzindo xícaras em colheres de sopa, uma ingestão saudável de vegetais incluiria até 15 colheres de sopa de vegetais por dia.

Então, a questão é: se as pessoas [que participaram] no estudo estavam a comer uma quantidade tão reduzida de legumes, o que mais comem e quanto é que isso confundiu os resultados?”, pergunta Freeman.

Especialistas duvidam dos resultados obtidos

Isto não significa que devemos parar de comer vegetais”, avisa Victoria Taylor, nutricionista sénior da British Heart Foundation, citada pela CNN. Já para Naveed Sattar, professor de medicina metabólica da Universidade de Glasgow (Escócia), as conclusões podem ser debatidas porque “os autores podem ter ajustado demais [os resultados] para fatores que explicam a menor ingestão de vegetais”. Recorda ainda que há “boas evidências” de que comer alimentos ricos em fibras, como vegetais, “pode ajudar a diminuir o peso e melhorar os níveis de fatores de risco conhecidos por causar doenças cardíacas”.

Os resultados não são surpreendentes. Escolher um único elemento e adicioná-lo apenas à dieta, por exemplo, vegetais, provavelmente não resultará no efeito desejado”, sublinha Alice Lichtenstein, professora e cientista sénior na Universidade Tufts. “Uma coisa que ficou clara na última década é que não devemos olhar para alimentos ou nutrientes isolados, mas sim para toda a dieta alimentar”. 

Gunter Kuhnle, professor de nutrição da Universidade de Reading (Reino Unido) alerta que é preciso ter em conta as trocas feitas. “Substituir um lanche açucarado por palitos de cenoura provavelmente melhora a saúde — e tem um efeito benéfico no risco de AVC. Este não seria o caso ao substituir um lanche de grãos integrais por cenouras”, garante.