Está confirmado um encontro entre russos e ucranianos para negociar a paz no território ucraniano, agendado para segunda-feira. Zelenksy já fez saber que não acredita no sucesso das negociações com o país invasor, mas quer que “nenhum cidadão ucraniano duvide” que tentou “parar a guerra quando ainda havia uma hipótese de o fazer, por muito pequena que fosse”. O que dizem os russos? O que sabe até ao momento e como é que se chegou aqui?

Sábado, 26 de fevereiro. Terceiro dia da invasão

A primeira vez que se ouviu falar sobre eventuais negociações de paz foi o sábado, através do Kremlin. A Rússia garantia que a Ucrânia se tinha recusado a negociar com o país invasor e que, por isso, depois de umas horas de pausa no conflito os russos retomaram os ataques. Isto na noite de sexta-feira para sábado, a terceira noite de confrontos.

Na resposta, o Presidente ucraniano acusou a Rússia de querer levar as eventuais negociações para parar a guerra para um “beco sem saída, mesmo antes de começarem” e frisou ser “falso” que Kiev se tivesse recusado a negociar na noite anterior e que em caso de negociações haveria condições a colocar.

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O assessor do chefe do Gabinete da Presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak veio depois a público dizer que Zelenksy “não aceita categoricamente quaisquer condições e ultimados (…), apenas negociações completas” enquanto, do outro lado, se mantinha a versão do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Sergei Lavrov, tinha deixado claro na sexta-feira que a Rússia negociaria  “após a restauração da ordem democrática na Ucrânia”, ou seja, após uma mudança de governo em Kiev.

Domingo, 27 de fevereiro. Quarto dia de invasão

Poucas horas depois de o sol nascer e depois de uma noite de intensos confrontos entre os invasores russos e os defensores ucranianos, a agência estatal russa RIA Novosti afirmava que uma delegação russa tinha chegado à Bielorrúsia para negociar com a Ucrânia.

A agência estatal avançava que tinham sido dadas informações através do porta-voz do governo Dmitry Peskov. “Estaremos prontos para iniciar estas negociações em Gomel”, alegava acrescentando que nas negociações estariam o ministro dos Negócios Estrangeiros, o ministro da Defesa e outros departamentos, incluindo a administração da presidência russa.

Pouco tempo depois Zelensky fazia saber que se recusava a negociar com Rússia na Bielorrússia. Zelensky dizia estar disponível para negociações em território que não seja contra a Ucrânia e que as conversações poderiam ter acontecido em Minsk se a Rússia não tivesse atacado a Ucrânia a partir do território bielorrusso.

Em alternativa, Zelensky apresentava as cidades de Varsóvia, Bratislava, Istambul, Baku ou Budapeste para negociar com os russos rejeitando veementemente que as conversas acontecessem em território favorável ao Kremlin.”Qualquer outra cidade está bem para nós, desde que não existam mísseis a voar para este país”, disse Zelensky num vídeo onde frisava que queria “paz e conversar”: “Nós queremos acabar com a guerra.”

Na resposta, o Kremlin deu como limite as 15 horas de domingo para que a Ucrânia decidisse se queria ou não negociar na BielorrúsiaAntes que esse limite de tempo fosse esgotado a Rússia voltou a pressionar a Zelenksy divulgando uma conversa de Putin com o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett.

Segundo o Kremlin, Putin teria informado Naftali Bennett sobre “o desenvolvimento de uma operação militar especial para proteger Donbass”, e que, durante essa chamada telefónica, apontou que “a delegação russa está na cidade bielorrussa de Gomel e está pronta para negociações com representantes de Kiev que, mostrando inconsistência, ainda não aproveitaram esta oportunidade.”

Pouco tempo depois a Rússia voltou a informar que a Ucrânia tinha aceitado negociar na Bielorrúsia através da televisão estatal RT. Em comunicado, Zelensky confirmava ter aceitado negociar na fronteira da Bielorrúsia, sem pré-requisitos. 

“Concordámos que a delegação ucraniana se iria encontrar com a delegação russa sem pré-requisitos, na fronteira Ucrânia-Bielorrússia, perto do rio Pripyat”, diz o comunicado da presidência ucraniana. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou que o homólogo bielorrusso lhe deu garantias que as negociações entre a Ucrânia e a Rússia em Bielorrússia vão acontecer em condições de segurança perto do rio Pripyat, junto à fronteira com a Ucrânia.

“Alexander Lukashenko assumiu responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis estacionados em território bielorrusso permanecem no solo durante a visita, conversações e regresso da delegação ucraniana”, diz Zelensky em comunicado.

A decisão ucraniana foi tornada pública depois de se saber que a Rússia tinha colocado as forças de dissuasão nuclear em alerta máximo. O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que o comando militar colocasse as forças de dissuasão nuclear em alerta máximo após as declarações “agressivas” dos países da NATO o que já mereceu também uma reação do ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano.

Dmytro Kuleba, o homem que tutela a pasta das relações externas, considera que a ameaça nuclear de Putin é uma “tentativa de pressão” sobre as negociações.  Se a Rússia usar armas nucleares contra a Ucrânia será “uma catástrofe para o mundo”, diz o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, acrescentando que “não vão quebrar” a resistência do país.

“Esta ordem do Presidente Putin surgiu pouco depois de ter sido feito um anúncio sobre as duas delegações estarem prontas para se encontrar [para negociações]. Vemos este anúncio, ou esta ordem, como uma tentativa de pôr pressão adicional na delegação ucraniana”, disse Kuleba, em conferência de imprensa.

Nesta altura, é difícil avaliar as reais intenções do Kremlin. Nas últimas horas, terão sido disparados mísseis contra uma cidade ucraniana a partir da Bielorrússia e Zelenksy já deixou claro que não acredita no sucesso das negociações com o país invasor.