Brittney Griner, uma das basquetebolistas mais conhecidas dos Estados Unidos, foi presa no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscovo (Rússia), após os serviços alfandegários terem alegadamente descoberto vaporizadores que continham óleo de haxixe na bagagem. A detenção aconteceu em fevereiro e, se a jogadora de 31 anos for condenada pelo crime de tráfico de droga, pode enfrentar uma sentença de cinco a dez anos de prisão.

As autoridades russas da alfândega confirmaram este sábado apenas a “detenção de uma jogadora profissional de basquetebol”, sem revelar o nome, em comunicado, de acordo com o The New York Times. Foi a agência russa TASS que identificou a basquetebolista como sendo Griner dos Phoenix Mercury da WNBA, e que ajudou os Estados Unidos a conquistar duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e de Tóquio.

Não está claro há quanto tempo Griner está detida, já que a nota só referia que a detenção ocorreu no mês passado, quando chegava de um voo proveniente de Nova Iorque. Os serviços de fronteiras divulgaram ainda um vídeo, onde se vê a inspeção das malas da atleta e, no início, aparecem cães farejadores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, garantiu este domingo que o governo de Biden nomeou uma equipa para trabalhar no caso, numa conferência de imprensa com a Presidente da Moldávia, Maia Sandu. “Sempre que um norte-americano é preso em qualquer lugar do mundo, é claro que estamos prontos para fornecer toda a assistência possível, e isso inclui a Rússia”, citado pela Reuters.

Também a congressista Sheila Jackson Lee, do Texas – estado natal de Griner – saiu em defesa da jogadora, assumindo que vai exigir a sua libertação.

Deixem-me ser muito clara (…)  Não quero desconsiderar uma nação soberana, mas Putin desrespeitou as nações soberanas do mundo inteiro”, atirou. “Qualquer um que está a matar, a atacar e a destruir a Ucrânia, um país vizinho que não os está a incomodar, não tem o direito de prender Griner. Ponto final”, cita-a o The Guardian.

Abordando os perigos, Evelyn Farkas, vice-secretária assistente de defesa dos EUA para a Rússia e a Ucrânia de 2012 a 2015, teme que Griner se torne uma “refém de alto nível”, ao Yahoo Sports.

Se a quisermos fora da prisão, a Rússia terá algumas condições”, começou por salvaguardar. “Poderá ser uma troca de prisioneiros. Também podem usá-la como uma ameaça implícita ou como [forma de] chantagem para levar-nos a fazer algo ou a não fazer. De qualquer forma, eles acham-na útil.”

William Partlett, professor associado da Melbourne Law School e especialista em política russa, corroborou as palavras de Farkas, recordando que “há muito menos presença consular dos EUA na Rússia agora para ajudar”. Não é, por isso, esperado um julgamento justo. “É provável”, prosseguiu Partlett, “que o juiz e os investigadores estejam à espera de instruções de cima sobre como proceder e isso pode incluir uma tentativa de usar a libertação como moeda de troca”. Contudo, “as sanções e a ajuda à Ucrânia não serão diminuídas”, alerta o especialista no momento mais tenso das relações entre os EUA e a Rússia desde a Crise dos Mísseis de Cuba.

Estados Unidos anunciam novas sanções contra oligarcas russos

O analista de segurança nacional, John Sipher, apontou igualmente o estado “dizimado” da embaixada dos EUA na Rússia como fator decisivo na situação de Griner. “É importante divulgar o caso dela porque é a melhor coisa que a mantém segura, porque os russos tendem a não tratar muito bem as pessoas que estão sob custódia”, justificou Sipher em entrevista à MSNBC.

“Isto segue um padrão da Rússia de deter e aprisionar injustamente cidadãos dos EUA, incluindo Trevor Reed”, escreveu o congressista Joaquin Castro, no Twitter. “Os cidadãos dos EUA não são peões políticos. Brittney, Trevor e outros americanos devem regressar em segurança”, lê-se ainda.

Em 2020, um tribunal em Moscovo condenou Trevor Reed, reformado fuzileiro naval, a nove anos de prisão por acusações de agredir e colocar em risco a vida de dois polícias.

A agente da basquetebolista, Lindsay Colas, garantiu que estão “em contacto próximo” com ela, com a família e com as entidades necessárias, em comunicado. “Como este é um assunto judicial em curso, não podemos adiantar mais detalhes sobre o caso, mas podemos confirmar que, enquanto trabalhamos para trazê-la para casa, a sua saúde mental e física continua a ser a nossa principal preocupação”, citado pelo The New York Times.

A Federação de Basquetebol dos Estados Unidos “está a par, e a acompanhar de perto, a situação legal que enfrenta Griner na Rússia”, mencionou numa publicação no Twitter, na qual o organismo se mostrou “convicto” da “segurança e bem-estar” da jogadora.

A liga norte-americana de basquetebol feminino (WNBA) também já se pronunciou: “Brittney Griner tem o total apoio da WNBA e a nossa prioridade passa pelo seu regresso em segurança aos Estados Unidos”, referiu em comunicado.

O grupo de defesa dos direitos LGBT, Athlete Ally, demonstrou preocupação pela detenção da atleta assumidamente lésbica num país como a Rússia, em nota no site. Por sua vez, a sua mulher, Cherelle Griner, revelou que está num dos “momentos mais fracos” da sua vida, no Instagram.