A invasão russa à Ucrânia começou há 14 dias e esta manhã a Rússia prometeu parar os ataques entre as 7h e as 19h (hora de Portugal Continental) para permitir a retirada de civis através dos corredores humanitários nas cidades cercadas. Estes corredores humanitários já foram detalhados pelas autoridades ucranianas, que anunciaram que os percursos previstos para retirar civis são os seguintes:

  • De Mariupol para Zaporíjia
  • De Energodar para Zaporíjia
  • De Sumy para Poltava
  • De Izyum para Lozova
  • De Volnovakha para Pokrovsk
  • De várias cidades nos arredores de Kiev, como Vorzel, Borodyanka, Bucha, Irpin e Hostomel para a capital

A tensão entre as duas partes, porém, e esta manhã a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiro russo, Maria Zakharova, deu uma conferência de imprensa a ameaçar o Ocidente e os EUA que acusa de estarem a fazer um programa de “armamento biológico” na Ucrânia.

Imagem atualizada a 9 de março

A informação sobre o que se está a passar no leste da Europa é atualizada ao minuto no liveblog do Observador e está a ser contada pelos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Cátia Bruno e João Porfírio.

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O que aconteceu durante a noite

  • O ministério da Defesa russo acusa os militares ucranianos de atacar as linhas que fornecem energia a Chernobyl e uma subestação que alimenta a central nuclear de Chernobyl, classificando o ato ucraniano como uma “provocação perigosa”;
  • O ministério da Defesa britânico afirmou hoje que a Rússia usou armas termobáricas na Ucrânia falando num “impacto devastador” no local onde são usadas. Estas armas funcionam através de um explosivo interno que usa o oxigénio do ar à sua volta para gerar uma explosão de elevada potência. Além disso, criam uma onda de explosão e as temperaturas que atinge são suficientes para esmagar órgãos internos;
  • Mais tarde nesta noite seria a Casa Branca a deixar um alerta: a Rússia pode mesmo usar armas químicas na Ucrânia. “Devemos estar todos alerta para a Rússia possivelmente usar armas químicas ou biológicas”, disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.
  • Horas antes, cerca das 19h30 (21h30 em Kiev), terminava o cessar-fogo nas regiões de Mariupol, Kharkiv e nos arredores de Kiev para retirar civis. De acordo com um dos membros da delegação ucraniana envolvido nas negociações de paz, conseguiram sair do país 40 mil pessoas pelos corredores humanitários;
  • Na Rússia, a Human Rights Watch denunciou detenções “violentas” de milhares de manifestantes anti-guerra frisando que a “escalada da violência policial ilustra a tentativa de silenciar a dissidência”;
  • O Reino Unido exortou todo o G7 a proibir importações de petróleo russo;
  • Ainda no Reino Unido, os órgãos de comunicação social começaram a divulgar que há militares ingleses a sair para a frente de guerra na Ucrânia e que podem ser considerados desertores pelo país. Já os ex-soldados, onde se insere o filho de uma deputada do Parlamento britânico, também se estão a mobilizar para ajudar a Ucrânia no terreno e podem chegar a uma centena;
  • Finlândia e a Suécia pediram proteção à União Europeia em caso de invasão russa, através de uma carta que as primeiras-ministras endereçaram ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel;
  • Zelensky deu uma entrevista à Sky News onde voltou a pedir o encerramento do espaço aéreo ucraniano. “Se estão unidos contra os nazis e este terror têm que fechar [o espaço aéreo], não esperem que peça um milhão de vezes. Fechem o espaço aéreo e parem os bombardeamentos”, disse o Presidente ucraniano;
  • Uma das notícias que Zelensky não queria acabou por chegar poucas horas depois: Os Estados Unidos decidiram não enviar caças para a Polónia. Numa conferência de imprensa o porta-voz do Pentágono justificou a decisão com o receio de que uma “reação russa significativa aumentasse as perspetiva de escalada militar com a NATO”;
  • Da Rússia, através da agência estatal RIA soube-se que a delegação que está a negociar a paz com a Ucrânia “não vai conceder um único ponto de negociação”;
  • Outra das informações que chegou da Rússia diz respeito ao ataque à maternidade ucraniana. Os russos não o negaram, mas optaram por apontar o dedo aos “nacionalistas ucranianos” que, alegam, usavam a maternidade para se posicionarem de forma a abrir fogo contra o exército russo;
  • De volta ao território ucraniano, a Agência Internacional de Energia Atómica anunciou ter ficado sem acesso aos dados de Zaporíjia. Isto depois de já ter tornado público durante a tarde que também havia dificuldades com a central de Chernobyl;
  • O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres condenou o ataque à maternidade em Mariupol classificando-o de “horrível”. “Os civis estão a pagar um preço elevado por uma guerra que não tem nada a ver com eles. Esta violência sem sentido tem de parar”, escreveu no Twitter;
  • Zelensky voltou a falar sobre o ataque à maternidade, considerando-o um “genocídio” e dirigindo-se aos europeus: “Vocês não são capazes de dizer que não viram o que aconteceu com os ucranianos, o que aconteceu com os moradores de Mariupol. Vocês viram, vocês sabem.”
  • A UNICEF avançou que mais de um milhão de crianças já saíram da Ucrânia desde o início da invasão Russa;
  • O autarca de Mariupol avançou que mais de 1.200 civis já foram mortos nos nove dias de cerco à região;
  • A nível internacional o FMI aprovou um financiamento de emergência de 1,4 mil milhões de dólares à Ucrânia para ajudar no combate contra a Rússia;
  • Em Portugal, a Embaixada russa falou pela primeira vez desde o início da invasão na Ucrânia pedindo aos portugueses para não confiar “na propaganda ocidental estilo Goebbels” e rejeitando a ocupação do território ucraniano pelos russos: “A verdade é completamente diferente”. Escreve a Embaixada no Facebook que são as forças armadas da Ucrânia — apoiado por grupos “neonazis” — quem está a cometer “crimes contra a humanidade e violações do direito internacional”.

O que aconteceu durante a tarde

  • Uma maternidade em Mariupol foi bombardeada esta tarde pelas forças russas. O Presidente da Ucrânia, o município da cidade e um conselheiro de Zelensky partilharam vários vídeos onde é possível ver a unidade destruída. Volodymyr Zelensky diz que “há adultos e crianças nos escombros”;
  • Ao final da manhã, Zelensky voltou a apontar o dedo ao Ocidente, referindo que, caso não fechem o espaço aéreo ucraniano, serão “responsáveis pela catástrofe humanitária”;
  • A UE anunciou novas sanções que visam a Bielorrússia e a Rússia: três bancos bielorrussos retirados do SWIFT, mais 14 oligarcas russos alvo de sanções, bielorrussos impedidos de fazer depósitos acima dos 100 mil euros são algumas das medidas restritivas avançadas esta quarta-feira;
  • Durante a tarde surgiram vários relatos de que os corredores humanos de Mariupol e Izyum não estariam a ser cumpridos. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia disse que a Rússia estava a impedir a retirada das pessoas de Mariupol e que estava a bombardear a localidade. O mesmo foi relatado pelo autarca de Mariupol, que disse ainda que os russos tinham armadilhado o corredor humanitário. Uma autoridade regional de Izyum falou em “explosões nas redondezas” e que, por isso, não foi possível retirar os moradores da cidade em segurança e levá-los para Lozova. A possibilidade de ataques russos deixou 50 autocarros “presos em Bucha”, uma das localidade que iria ser hoje evacuada para a capital ucraniana;
  • chanceler alemão falou, esta quarta-feira, ao telefone com o Presidente russo. Segundo a AFP, que cita o Kremlin, Olaf Scholz e Vladimir Putin debateram os “esforços diplomáticos” relativamente ao conflito na Ucrânia e os corredores humanitários para retirar civis de cidades ucranianas;
  • A Agência Internacional de Energia Atómica foi informada sobre a Central Nuclear de Chernobyl ter ficado sem ligação a rede de energia elétrica, mas disse que não via “um impacto crítico na segurança” resultante desse blackout energético;
  • A guerra na Ucrânia provocou a morte de pelo menos 516 civis até terça-feira, incluindo 41 crianças. É o mais recente balanço das Nações Unidas relativamente às vítimas do conflito na Ucrânia;
  • Mais de 400 ucranianos foram detidos em Kherson pelas forças russas após “forte resistência dos moradores” da cidade;
  • O porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, contrariou o que Vladimir Putin e confirmou a “presença de recrutas de unidades das forças armadas russas” na “operação militar especial em território da Ucrânia”;
  • A Rússia acusou os Estados Unidos da América de estarem a “travar uma guerra” com Moscovo no plano económico — e prometeu que vai reagir em consonância com isso;
  • Alemanha recusou enviar aviões militares para a Ucrânia. Olaf Scholz disse o país “tem de considerar com muito cuidado o que pode fazer em particular e que os aviões de combate não fazem parte” dos planos do país;
  • Portugal concedeu até hoje mais de 4.000 pedidos de proteção temporária a pessoas vindas da Ucrânia;
  • China vai enviar ajuda humanitária para a Ucrânia, incluindo alimentos e bens de primeira necessidade, no valor de cinco milhões de yuans (721.000 euros), enquanto se continua a opor às sanções impostas à Rússia;
  • A holandesa Heineken suspendeu as operações na Rússia;
  • Fórum Económico Mundial anunciou que vai suspender relações com a Rússia;
  • Nikita Mazepin quebrou o silêncio sobre a saída da Fórmula 1: “Fiquei sem o sonho pelo qual lutei durante 18 anos da minha vida.”

O que aconteceu durante a manhã

  • A União Europeia fez saber que vai avançar com novas sanções à Rússia e algumas medidas já foram conhecidas e passarão por restrições de viagens e bens congelados para cerca de 100 personalidades russas. Serão também banidos três bancos bielorrussos do SWIFT;
  • A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiro russo, Maria Zakharova, deu uma conferência de imprensa onde disse que a presença de laboratórios biológicos na Ucrânia sob a liderança norte-americana “muda completamente o papel de Washington” e é “um instrumento de ameaça direta à Rússia”. Acusou mesmo os EUA de estarem a fazer um programa de “armamento biológico” na Ucrânia e voltou a avisar o Ocidente sobre o risco de enviarem ajuda militar àquele país;
  • Na mesma conferência de imprensa, Maria Zakharova repetiu que a intenção da Rússia não é derrubar o Governo da Ucrânia, mas sim “desmilitarizar” o país;
  • Entre as 9h da manhã e as 21h ucranianas (7h e as 19h de Lisboa) há um cessar-fogo em vigor — confirmado por ambas as partes — para que sejam possível retirar pessoas de algumas das cidades mais afectadas neste conflito. São seis os corredores humanitários cobertos pelo cessar-fogo;
  • O britânico The Guardian cita o presidente da câmara de Sumy, Oleksandr Lysenko, a afirmar que os corredores humanitários já começaram a funcionar naquela localidade, conduzindo as pessoas em direção a Poltava;
  • Os ministros dos Negócios Estrangeiros de Rússia e Ucrânia, Sergei Lavrov e Dimitro Kuleba, vão encontrar-se para uma cimeira tripartida promovida pela Turquia. O encontro vai acontecer esta quinta-feira na cidade turca Antalya.

O que aconteceu de madrugada

  • Em Kiev a manhã (são cerca de 9 da manhã agora) tocam novamente sirenes a avisar para um possível ataque aéreo russo. Tem sido assim não só na capital ucraniana, durante esta madrugada também se ouviram sirenes em Zhytomyr e Vasylkiv. Pelas 4 da manhã portuguesas, o The Kyiv Independent noticiou um ataque aéreo em Vinnytsia, a 260 km de Kiev, mas não há informações sobre consequências no local;
  • As atualizações matinais da Defesa ucraniana dão conta de resistência eficaz em Kiev, evitando que os russos “conseguissem avanços significativos” e também no braço de ferro aéreo contra a moderna frota russa, de acordo com o relatório do Ministério da Defesa da Ucrânia;
  • O Estado-Maior Geral das Forças Armadas da Ucrânia, também no seu ponto de situação, deu conta dos sucessos da resistência ucraniana e até de “pânico” entre os militares russos devido a perdas humanas e de equipamentos militares;
  • Continuam, no entanto, cercadas as cidades de Kharkiv, Chernihiv, Sumy e Mariupol pelas tropas russas e a sofrer “pesados bombardeamentos”, segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia;
  • No dia de hoje vai manter-se o corredor humanitário em Sumy, região que foi atacada esta terça-feira, bem como nas outras cidades cercadas. A Rússia prometeu mais uma vez, agora esta manhã, que vai cumprir o cessar-fogo para garantir a saída de civis em segurança;
  • O governador de Sumy disse esta madrugada que conseguiram sair da região cerca de cinco mil pessoas;
  • Continua a suspensão de operações na Rússia por parte de várias empresas internacionais. Esta madruga ficou a saber-se que também o KFC, a Pizza Hut e a Universal Music seguiram o exemplo de outras multinacionais.
  • Durante a madrugada foi noticiado o envio pelos Estados Unidos de duas baterias de mísseis Patriot (mísseis guiados de defesa anti-aérea) para a Polónia, numa ação “defensiva” que visa prevenir potenciais ameaças a aliados da NATO neste conflito;
  • O ministro do Interior da Ucrânia anunciou que os cidadãos estrangeiros que se voluntariem para combater n país ganham direito a cidadania ucraniana.

O que aconteceu durante a noite?

  • A Rússia anunciou um cessar-fogo humanitário para esta quarta-feira. As tropas russas deverão interromper os ataques em território ucraniano a partir das 9h locais (7h em Lisboa) para permitir a saída em segurança dos civis ucranianos de algumas cidades cercadas e sob ataque. Ao longo dos últimos dias, várias tentativas de cessar-fogo para o estabelecimento de corredores humanitários têm falhado devido à continuação dos ataques armados da Rússia.
  • O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu ao Presidente norte-americano, Joe Biden, a decisão de aplicar um embargo às importações de petróleo russo. Para Zelensky, a decisão norte-americana (a que se seguiu uma decisão semelhante no Reino Unido) é um “ataque ao coração da máquina de guerra de Putin”. União Europeia ainda não decidiu fazer o mesmo.
  • A Polónia decidiu colocar todos os seus caças MiG-29 (modelo soviético que as forças armadas ucranianas dominam) ao dispor dos EUA, para que possam ser enviados para ajudar a Ucrânia a defender-se da invasão. Em troca, a Polónia pediu aos EUA que lhe cedesse caças ocidentais (como F-16) para compensar a perda dos aviões soviéticos. Porém, o Pentágono já veio dizer que a proposta é pouco sustentável, uma vez que enviar aviões da NATO para o conflito levanta problemas à segurança de toda a aliança.
  • As forças armadas ucranianas afirmaram que, nas últimas 24 horas, a Rússia “diminuiu o ritmo de sua operação militar”, recorrendo a agora a “ataques com mísseis e bombas contra a infraestrutura civil”.
  • O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, telefonou aos Presidentes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, em mais uma tentativa de mediação do conflito.
  • O líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, foi recebido com protestos na fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, durante uma visita a refugiados ucranianos, devido às suas antigas posições pró-Putin.
  • Várias empresas globais, como a Coca-Cola, a Starbucks, a Ferrari, a Lamborghini e a Rolex, juntaram-se ao conjunto de empresas que está a suspender a sua atividade na Rússia.
  • A Rússia está prestes a entrar em incumprimento no pagamento da dívida, de acordo com a agência de rating Fitch.
  • A FIFA anunciou que a Polónia vai avançar diretamente para a final do play-off de acesso ao Mundial 2022 de futebol, depois de a Rússia ter sido excluída da competição em retaliação pela invasão da Ucrânia.
  • O jornal norte-americano The New York Times anunciou que iria retirar os seus funcionários da Rússia depois de o país ter implementado nova legislação que mina a liberdade de imprensa — por exemplo, criminalizando (e punindo com penas de prisão) o uso da palavra “guerra” para descrever a guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia.
  • O ex-presidente da República de Portugal António Ramalho Eanes considerou que a Europa “devia ter respondio com mais força” à ameaça de Putin, que classificou como “um homem em quem não se pode confiar”.
  • Também em Portugal, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, afastou para já o reforço da presença militar portuguesa na região do conflito.