Na madrugada de domingo, entrará em vigor o horário de verão — os ponteiros do relógio devem ser adiantados uma hora para que amanheça e anoiteça mais tarde.

Em Portugal Continental e no Arquipélago da Madeira, esta mudança deve ser feita às 01h00, girando-se o ponteiro para que passe a marcar 02h00. Já no Arquipélago dos Açores, deverá passar-se das 00h00 diretamente para as 01h00.

Esta mudança de hora que acontece todos os anos na madrugada do último domingo do mês de março, e depois novamente no último domingo do mês de outubro, foi implementada pela primeira vez pela Alemanha e pelo império Austro-Húngaro em abril de 1916. Um mês depois, foi a vez de França e Reino Unido seguirem o exemplo da Europa Central e adotarem dois horários diferentes durante o ano.

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Este ‘duplo horário anual’ , que foi adotado inicialmente com um objetivo — o de poupar energia em tempos de guerra — tem sido alvo de debate ao longo dos últimos anos, e poderá mesmo vir a terminar nos Estados Unidos da América, país onde a ideia de criar um horário de verão surgiu pela primeira vez.

Senado dos EUA ‘sonolento’ aprova horário de verão permanente

Nos Estados Unidos da América, a mudança de hora para o Daylight Saving Time-– nome dado ao horário de verão, que em inglês significa “Horário que Poupa Luz do Dia” — deu-se no passado domingo.

Senado dos EUA aprova lei que pode acabar com a mudança de hora

Na semana passada, contudo, foi aprovada por unanimidade pelo Senado norte-americano uma legislação que poderá terminar com a mudança de horário duas vezes por ano. Caso esta nova medida seja aprovada pela Câmara dos Representantes e posteriormente promulgada pelo Presidente norte-americano Joe Biden, poderá entrar em vigor em novembro de 2023.

Temos de nos questionar ao fim deste tempo: porque é que continuamos a fazê-lo?”, afirmou, segundo o New York Times, o senador do Estado da Florida e responsável pela legislação, Marco Rubio. “A preferência da maioria do povo americano é apenas parar com as mudanças constantes [de hora].”

A Lei da Proteção da Luz Solar — nome dado à legislação agora aprovada no Senado — prevê que a mudança horário durante o outono seja suspensa, passando a adotar-se permanentemente o horário de verão. Esta medida não conseguiu, contudo, uma convergência de opiniões na comunidade científica. Se algumas pessoas defendem que este horário permite que se utilize de forma mais eficiente a luz solar disponível até ao final do dia, cientistas dedicados ao estudo do sono, segundo o New York Times, defendem que a Standard Time, correspondente ao horário de inverno, está mais enquadrada com a progressão do sol.

As manhãs luminosas ajudam as pessoas a “acordar e a manterem-se em alerta”, escreve o jornal nova-iorquino, “enquanto que noites escuras ajudam na produção de melatonina, hormona que influência o sono“, pelo que se existir demasiada luminosidade durante a noite, poderá ser mais difícil adormecer, assim como manhãs mais escuras entorpecem o estado de alerta das pessoas.

O Daylight Saving Time [horário de verão], em relação às consequências para a saúde, é a pior escolha”, afirmou Joseph Takahashi, do departamento de neurociência do Instituto O’Donnell Brain, na Universidade do Texas. “Deixa-nos permanentemente dessincronizados com o ambiente natural.”

Adiada a hora H para uma decisão unânime na UE

Uma proposta para terminar com a mudança de hora tinha foi apresentada em 2018, com o apoio do Parlamento Europeu, pela Comissão Europeia, mas a divergência de opiniões entre os diferentes Estados-membros acabou por suspender qualquer avanço definitivo.

Em 2017, um estudo publicado na Dinamarca, que analisou dados relativos a problemas psiquiátricos de 185 mil pessoas entre 1995 e 2012, concluiu que a passagem para o horário de inverno estava associada a um aumento de 11% nos episódios depressivos, aumento este que demorava 10 semanas a dissipar-se. Já a transição para o horário de verão não registava qualquer efeito.

A proposta para adotar apenas um horário surgiu em 2018 depois de um inquérito realizado a 4.6 milhões de cidadãos da União Europeia ter revelado a vontade da maioria em terminar com a mudança de hora, conta a Euronews.

O Brexit também complicou a situação com a hipótese de haver duas horas diferentes na República da Irlanda e na Irlanda do Norte governada pelo Reino Unido”, esclareceu canal de notícias.

Em 2018, António Costa anunciou, apoiado por um relatório do Observatório Astronómico de Lisboa, em agosto do mesmo ano, que as alterações de hora manter-se-iam no país.

Ao Observador, o diretor do observatório, Rui Agostinho, explicou, na altura, que manter a hora de verão o ano inteiro significaria que o sol iria nascer perto das 09h00 em dezembro, influenciando negativamente quem trabalha e estuda de manhã, tendo as pessoas que se ‘obrigar’ a despertar e a quebrar um ciclo biológico que, em função de não haver luz solar, condiciona o corpo a querer manter-se a dormir. Já o horário de inverno permanente teria outras implicações para a sociedade.

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Se deixarmos correr este fuso horário o ano todo, durante o verão há duas situações que não vão agradar às pessoas: o sol vai nascer às 05h da manhã, o que faz com que haja uma luz solar desaproveitada porque ainda estamos a dormir; por outro lado, o sol vai pôr-se uma hora mais cedo também”, explicou Rui Agostinho.

Benjamin Franklin sonhou, a guerra apressou e o petróleo consolidou

A mudança da hora foi teorizada pela primeira vez em 1784 por Benjamin Franklin, no artigo “Economical Project for Diminishing the Cost of Light” (“Projeto Económico para Diminuir o Custo da Luz”), publicado no Journal de Paris.

Durante a Primeira Grande Guerra, o horário de verão foi adotado por diversos países da Europa para poupar na iluminação das fábricas e das casas, dado viver-se numa economia de guerra, que levou à falta de muita matéria-prima e à redução dos lucros na indústria.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a adoção de dois horários anuais ou apenas um acabou por ser implementada e abolida várias vezes, consolidando-se apenas em 1974. Isto porque, com a crise energética de 1973, houve uma necessidade de racionalizar os produtos energéticos como a gasolina, e a hora de verão permitia mais uma hora de luz solar e, portanto, menos consumo de eletricidade e de combustíveis.

Desde 2011, todos os países da Europa, com exceção da Islândia, implementam o duplo horário ao longo do ano, tendo que ajustar os relógios no último domingo de março e de outubro.

Segundo o Observatório Astronómico de Lisboa, as datas em que se dá a transição de um horário para o outro, até 2026 (inclusive), são as seguintes:

2022: domingo 27 de março e domingo 30 de outubro,
2023: domingo 26 de março e domingo 29 de outubro,
2024: domingo 31 de março e domingo 27 de outubro,
2025: domingo 30 de março e domingo 26 de outubro,
2026: domingo 29 de março e domingo 25 de outubro.