É a primeira vez que surge uma acusação do género e que poderá colocar a China num dos lados do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. De acordo com o jornal britânico The Times, que cita informações dos serviços de informação de Kiev, Pequim terá levado a cabo um ciberataque a instalações militares e nucleares ucranianas dias antes da invasão russa começar.

Com este ciberataque, mais de 600 sites que pertencem ao ministério da Defesa ucraniano foram atacados, e houve tentativas para atingir outros setores do governo de Kiev — como os bancos nacionais, o ministério das Finanças ou o setor ferroviário do país. O objetivo passava por roubar dados, que dariam pistas sobre como prejudicar a infraestrutura civil ucraniana.

De acordo com os serviços de informação ucranianos, foi a partir do fim dos Jogos Olímpicos de Inverno que se notou um maior volume de tentativas de ciberataques, maior parte russos, mas também alguns chineses. “As intrusões particularmente preocupantes incluem as campanhas” da China “dirigidas à Inspetoria Reguladora Nuclear do Estado e o site de investigação ucraniano focado em resíduos nucleares”, lê-se num memorando do governo ucraniano a que o Times teve acesso.

Todas estas informações apontam para o facto de a China ter sido informada da invasão russa antecipadamente. Dias após a invasão à Ucrânia, foi noticiado que Pequim terá pedido a Moscovo para adiar o início da guerra para depois dos Jogos Olímpicos, apesar de tal informação ter sido desmentida por fontes chinesas.

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China terá pedido à Rússia para adiar a invasão para depois do final dos Jogos Olímpicos de inverno

Ouvido pelo Times, Steve Tsang, diretor do Instituto Soas China em Londres, disse que o “número de pessoas envolvidas em ciberoperações é enorme”, indicando que o Partido Comunista Chinês tem vários funcionários que se dedicam a este tipo de operações. “Se eles tiverem a trabalhar na Ucrânia estão a trabalhar em apoio dos russos”, afirmou, acrescentando que as “implicações” deste ato podem levar a sanções do Ocidente.

Por agora, os serviços de informação ocidentais não confirmaram oficialmente a existência de ciberataques chineses à Ucrânia, mas o “centro nacional de cibersegurança” do Reino Unido está “investigar estas alegações com os parceiros internacionais”. Pela parte dos Estados Unidos, de acordo com o Telegraph, os sereviços de informação apontam para veracidade da existência de ataques informáticos chineses na Ucrânia.

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A China nunca condenou a invasão da Rússia à Ucrânia, mas também nunca a apoiou oficialmente. Na Assembleia Geral das Nações Unidas, os diplomatas de Pequim abstiveram-se na condenação da invasão russa.

Contudo, o Ocidente tem deixado vários alertas à China. Ainda esta sexta-feira, a União Europeia avisou que, caso Pequim decida apoiar Moscovo, sofrerá consequências. Na mesma linha, estão as declarações de Joe Biden do passado dia 18 de março, em que o chefe de Estado norte-americano alertou para as “implicações” e para as posições que a China sofreria caso apoiasse a Rússia.

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A China e a Rússia assinaram, no passado dia 4 de fevereiro, um documento em que denunciam a influência desestabilizadora dos EUA e das alianças militares na Europa e na Ásia, afirmando-se “contrários a qualquer futuro alargamento da NATO”.