Hoje em dia, quando Cristiano Ronaldo falha um jogo, os programas de comentário desportivo em Inglaterra têm tema para toda a semana. Antigos jogadores, antigos treinadores e antigos dirigentes unem-se à volta do assunto, quase sempre em uníssono, quase sempre com uma única ideia para transmitir: o regresso do avançado português ao Manchester United está a ficar muito aquém das expectativas.
Ora, no fim de semana passado, logo depois da pausa para os compromissos das seleções, Cristiano Ronaldo proporcionou mais um desses momentos ao falhar a receção do Manchester United ao Leicester por estar com “sintomas gripais”. Os red devils não foram além de um empate, o jogador português partilhou fotografias em família nas redes sociais e Wayne Rooney, antigo colega de Ronaldo em Old Trafford, liderou as considerações menos positivas.
Just a couple of #MUFC legends catching up ????@Cristiano ???? @RioFerdy5#EVEMUN pic.twitter.com/GSnboT6hD2
— Manchester United (@ManUtd) April 9, 2022
“O regresso dele não está a resultar. Marcou golos importantes na fase inicial da Liga dos Campeões, marcou um hat-trick contra o Tottenham… Mas, se estamos a olhar para o futuro do clube, tens de ter jogadores mais novos e famintos por levantar o Manchester United durante os próximos dois ou três anos. O Cristiano está a ficar velho. Ele já não é o jogador que era nos seus 20 anos. Acontece, faz parte do futebol. É uma ameaça em situações de golo mas, no que toca ao resto do jogo, eles precisam de mais. Precisam de jogadores novos e com fome”, disse o atual treinador do Derby County, que atua no Championship, na Sky Sports.
Cristiano Ronaldo voltava este sábado ao onze inicial de Ralf Rangnick, em Liverpool e contra o Everton, mas não sem antes ter deixado uma resposta a Rooney. Numa publicação que o agora treinador fez no Instagram, onde surge ao lado de Jamie Carragher no programa “Monday Night Football” da Sky Sports — o antigo defesa do Liverpool que é também costuma ser dos primeiros a criticá-lo –, Ronaldo comentou “two jealous”, dois invejosos, deixando claro aquilo que pensa sobre o que ouve.
Contra o Everton e depois de uma semana em que Erik ten Hag foi novamente associado ao futuro do comando técnico da equipa, o Manchester United tinha mais um jogo crucial nas contas do apuramento direto para a Liga dos Campeões. Com Ronaldo de volta, Ralf Rangnick fazia seis (!) alterações face à equipa que havia empatado com o Leicester na jornada anterior e trocou Diogo Dalot, Luke Shaw, Varane, McTominay, Pogba e Elanga por Wan-Bissaka, Alex Telles, Lindelöf, Matic e Rashford. Do outro lado, com Anthony Gordon, Calvert-Lewin e Richarlison no ataque, Frank Lampard continuava a demanda que pretende deixar o Everton longe do fantasma da despromoção.
O Manchester United começou melhor, com duas oportunidades ainda dentro do quarto de hora inicial: Rashford rematou para uma defesa atenta de Pickford (9′) e o mesmo Rashford, na sequência de um cruzamento de Bruno Fernandes na esquerda, cabeceou para nova intervenção do guarda-redes inglês (12′). O ímpeto dos red devils esgotou-se à medida que o relógio avançou e o golo não apareceu e a equipa foi sentindo cada vez mais dificuldades na hora de ligar o jogo e potenciar a comunicação entre o meio-campo e o ataque. O Everton, que ia defendendo com muita agressividade, começou a conseguir aproveitar melhor o espaço e libertar-se da pressão adversária — acabando por chegar ao golo na primeira ocasião de perigo que criou.
Richarlison desequilibrou na esquerda e cruzou para a entrada da grande área, onde Iwobi facilitou o espaço e a oportunidade para Anthony Gordon: o jovem avançado rematou, a bola desviou em Maguire e enganou De Gea, inaugurando o marcador em Goodison Park (27′). O jogo mudou depois do golo, criando mais confrontos na zona do meio-campo e deixando o Everton com um ligeiro ascendente que quase foi materializado no aumentar da vantagem com um remate de longe de Richarlison que De Gea defendeu (36′). Até ao intervalo, sem que o resultado voltasse a mexer, Ralf Rangnick ainda foi forçado a fazer a primeira substituição devido a problemas físicos de Fred, lançando Pogba.
O Manchester United voltou para a segunda parte com mais bola, de forma natural, mas praticamente sem consequências práticas nem fluxo ofensivo suficiente para chegar sequer ao empate. O Everton mantinha-se muito certinho a defender mas abdicou por completo de atacar, restringindo-se ao próprio meio-campo para resguardar uma vantagem valiosa, e Rangnick decidiu mexer já depois da hora de jogo ao trocar Matic e Rashford por Mata e Elanga. Lampard respondeu com Demarai Gray, que entrou para substituir Calvert-Lewin, e já pouco aconteceu até ao fim.
Mesmo a perder, os red devils só criaram uma oportunidade de golo em toda a segunda parte, com um remate de Ronaldo já nos descontos (90+3′), acumularam bolas longas e cruzamentos sem consequências nem finalizações e somaram o terceiro jogo consecutivo sem ganhar para todas as competições. Seja Erik ten Hag ou qualquer outro treinador, alguém tem de salvar o Manchester United de um abismo de ideias, criatividade e até de futuro.
Defeat at Goodison Park.#MUFC | #EVEMUN
— Manchester United (@ManUtd) April 9, 2022