De uma sala presidencial e do palco do festival Coachella saíram disparadas para a Internet imagens que terão chocado de frente e espalhado reações um pouco por todo o lado. Por um lado, o Presidente Macron de camisa meio aberta com o peito peludo à mostra, por outro, Harry Styles com um decotado macacão em paillettes arco-íris. Ninguém se magoou, pelo contrário, possíveis novas tendências se aproximam. De um destes senhores já conhecíamos o estilo arrojado, do outro, ainda estamos a processar a informação.
Soazig de La Moissonnière é a fotógrafa oficial do Presidente da República francês, Emmanuel Macron, e publicou este sábado, na sua conta de Instagram uma série de fotografias de bastidores a que deu a legenda “um dia com o candidato”. Entre elas estava uma fotografia que muito tem dado que falar e que mostra Macron recostado num sofá em tom amarelo mostarda, com um ar muito bem disposto e sorridente, numa posição descontraída, como se estivesse numa animada conversa, e com metade da camisa aberta. O que realmente está a causar sensação não são os quatro botões desabotoados, mas sim o peito peludo que eles deixam à mostra.
O Telegraph chama-lhe “the war chest” (o peito da guerra) e “he-vage, the male cleavage” (um trocadilho, já que “cleavage” significa “decote” e “he” significa “ele” ou “masculino”). Estaremos perante uma nova tendência ou uma ação de campanha? Estaria o presidente descontraído ou em busca de novos votantes? Afinal Macron acaba de sair de uma vencedora primeira volta das presidenciais, mas com poucos pontos de vantagem sobre Marine Le Pen, com quem vai disputar a segunda volta no próximo dia 24 de abril — com as sondagens renhidas, todos os votos contam. As fotografias de Soazig de La Moissonnière foram tiradas durante um dia de campanha, na cidade de Marselha.
Terão os slogans dado lugar aos acessórios de moda? Depois da gravata vermelha de Donald Trump e dos óculos escuros Aviator de Joe Biden, a mais recente figura da política a chamar a atenção sobre o seu vestuário foi Volodomyr Zelensky. O Presidente da Ucrânia, trocou os fatos pelo camuflado, por motivos que nada têm a ver com estilo, mas sim porque assumiu um uniforme militar desde que o seu país está em guerra. Agora é Macron que protagoniza as notícias não pelas suas ideias políticas, mas pela sua aparência.
Em janeiro de 2021 o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, deixou-se fotografar a tomar a sua vacina contra a Covid-19 de camisa aberta, com o peito peludo à mostra, mas não houve reações como as que o presidente Macron provocou. Talvez seja o famoso “je ne sais quoi” que só os franceses têm.
Emmanuel Macron. O “patrão” da França Lda. voltará a ser coroado Presidente-Rei?
A revista GQ norte-americana, uma autoridade no que ao estilo masculino diz respeito, colocou o músico Harry Styles no primeiro lugar de uma série de momentos de moda que passaram pelo palco do festival Coachella por estes dias. O cantor inglês usou um macacão Gucci em paillettes de várias cores, numa espécie de tendência Disco do século XXI trabalhada pelo gosto eclético de Alessandro Michele, o criador atualmente ao leme da marca italiana. O look está a dar que falar e também é dotado de um profundo decote que deixava o peito liso a descoberto, mas as escolhas de moda de Styles são sempre surpreendentes, despojadas de preconceito e com a aprovação dos críticos de moda. Vale a pena lembrar que o jovem de 28 anos já foi capa da Vogue norte-americana e é uma das figuras de proa de um novo ideal de estilo masculino. Assim como é Timothée Chalamet.
No palco do festival Coachella, ao primeiro dia de festival, Harry Styles voltou a arrojar no estilo © Getty Images
A GQ também colocou o ator no topo de uma lista dos homens mais bem vestidos dos Óscares 2022, na passada noite de 27 de março. O jovem usou um conjunto Louis Vuitton composto por calças e casaco. No entanto, o cuidado look não teve direito a camisa e deixava, em vez disso, ver o peito liso onde balançava um fio com um pendente.
Na década de 1960, ícones que ainda hoje se mantém referência, como Mick Jagger, David Bowie e os quatro fantásticos Beatles, apostavam todo o seu cuidado capilar no cabelo, parte das suas imagens de marca. Já nos anos 80 a “gym fever” abriu caminho para os corpos tonificados e peitos à mostra, com pelos, claro, porque na altura o ideal de masculinidade assim o exigia. E vale a pena lembrar que o bigode também estava em alta, ícones da época como Tom Selleck e Burt Reynolds, provam-no. E quem não se lembra de ver David Hasselhoff a correr na praia nos episódios das Maré Vivas?
O ator Sean Connery na pele de 007, durante a rodagem de “Só se vive duas vezes” © Getty Images
A viragem de milénio implicou uma mudança nos ideais de beleza e tudo se simplificou. A saga 007 é um exemplo de como estas questões foram evoluindo, as cinco décadas que separam Sean Connery de Daniel Craig estão estampadas nos abdominais de ambos. Nos relvados de futebol os ases da modalidade tornaram-se modelos para os seus fãs e o dramático movimento de tirar a camisola, depois de marcar o golo, começou a mostrar peitos bem moldados onde as tatuagens tomavam o lugar outrora ocupado por pelos. Depois veio a febre Marvel e com ela muitos músculos, porque os super-heróis do século XXI são dotados de corpos esculpidos em horas de ginásio (e uma alimentação saudável e muitas horas de sono, como mandam as regras da vida saudável) que sobressaem sob t-shirts justas ou camisas. Contudo, os decotes masculinos e os peitos peludos estão fora dos guias de estilo há algum tempo, embora Simon Cowell se tenha esforçado por manter a tendência viva nos vários balcões de jurados que tem presidido ao longo dos últimos anos.
As tendências são cíclicas, os gostos mudam e a palavra “vintage” veio simplificar a vida a todos os que se recusam a largar looks de épocas passadas. Desta inesperada discussão, que pode ser rotulada com as etiquetas “política”, “estilo” ou “nostalgia”, parece seguro assumir que os decotes masculinos estão a ficar na moda. Quanto aos cuidados com o peito, as referências divergem. E quanto ao futuro político de Macron, só domingo saberemos. Mas como a moda, tal como a política, está sempre um passo à frente da questão do momento, talvez possa ficar no ar se os bigodes (ou mesmo as patilhas) também terão direito ao seu revival.
