Atualizado com declarações de António Costa à Lusa.

Portugal está a negociar “ao mais alto nível” com os governos da Alemanha e da Polónia para que a distribuição de gás passe a ser feita a partir do porto de Sines aos países da Europa que são mais dependentes da energia russa, noticia esta sexta-feira o jornal Público. 

Para fazer face — ainda que parcialmente — à dependência que vários países europeus têm da energia da Rússia, o Governo português acredita que o porto de Sines poderia receber gás dos EUA e transferi-lo depois para outros países, através de navios mais pequenos. O gás seria assim transportado através de Sines através do transhippment, que significa “transbordo”. Neste momento, os países privilegiados por Portugal para este projeto são a Alemanha e a Polónia.

“O estudo técnico está completo” e trata-se de “uma solução viável, flexível e alternativa, pois Sines tem uma posição geográfica central no Atlântico”, disse fonte do Governo ao Público, que acrescenta que “os portos do Norte da Europa estão muito congestionados e acomodar um número grande de navios de maior capacidade é um risco”.

De visita à Polónia, António Costa confirmou os contactos com este e outros países da Europa.

“Precisamos de respostas imediatas: Estamos a discutir com o Governo polaco, assim como com outros governos europeus, a possibilidade de utilizar o porto de Sines como uma plataforma de transferência a partir de grandes navios metaneiros para outros de média e pequena dimensões. Esses navios mais pequenos terão melhores condições para operar nas zonas mais congestionadas do mar do Norte e do Báltico”, especificou o primeiro-ministro português.

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O primeiro-ministro salientou que a questão da energia foi uma das principais em análise nas conversações que manteve esta manhã com o seu homólogo polaco. Como solução, em concreto, os dois primeiros-ministros consideraram viável a ideia de esse abastecimento energético aos países da Europa de leste ser feita a partir do porto de Sines, com o líder do executivo polaco a salientar a capacidade logística dos terminais portuários do seu país em termos de receção e descarga.

Neste ponto, classificou como prioritário o investimento nas interconexões entre a Península Ibérica e o resto da Europa, não só para abastecimento do gás natural proveniente dos Estados Unidos e da Nigéria, mas também, no futuro, para a capacidade nacional de produção de hidrogénio verde, “a baixo custo, beneficiando da facilidade em produção de energia solar”.

A 8 de abril, António Costa e Silva, ministro da Economia, já tinha afirmado que Sines poderia ser um local de importação de gás. O plano para fazer deste porto o distribuidor de gás para a Polónia e Alemanha vai ser financiado pelos fundos do PRR e do PT2030. Todavia, se existirem contratos de exploração que possam ser financiados por privados, a articulação de fundos poderá ser dispensada.

Para além das negociações com a Polónia e a Alemanha, Portugal define como uma “prioridade” ultrapassar o veto de França para conseguir passar o gás de Sines através dos Pirinéus. O eurodeputado Pedro Marques relembrou ao Público que falta “vontade política” dos franceses para que tal aconteça.

Já esta semana, para apoiar investimentos que ajudem a terminar com a dependência da energia russa, Bruxelas aprovou o plano RepowerEU com um reforço do financiamento de 300 mil milhões de euros.

Que “power” tem a Europa para se livrar da energia russa