O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu esta terça-feira à comunidade internacional para não comprar à Rússia “cereais roubados” ao seu país e avisou que isso implica “cumplicidade” com os crimes russos.

“A Rússia rouba cereais da Ucrânia, carrega-os em navios, atravessa o [estreito do] Bósforo e tenta vendê-los no estrangeiro”, denunciou Kuleba, numa mensagem divulgada na rede social Twitter.

O ministro ucraniano pediu à comunidade internacional para que “se mantenha vigilante” e rejeite “este tipo de oferta”, já que não o fazer implica tornar-se “cúmplice dos crimes russos”.

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“Roubar nunca trouxe sorte a ninguém”, concluiu o chefe da diplomacia ucraniana na mesma mensagem, publicada depois da divulgação de imagens de satélite que mostram um presumível roubo, por parte da Rússia, de cereais da Ucrânia, um dos maiores exportadores mundiais deste alimento.

As imagens foram mostradas na segunda-feira pela televisão norte-americana CNN e terão sido recolhidas no porto de Sebastopol, na península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Nas imagens transmitidas pelo canal norte-americano é possível ver dois navios de bandeira russa a atracar e a carregar o que se acredita serem cereais ucranianos roubados.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já tinha acusado a Rússia de aproveitar o conflito para “roubar paulatinamente” produtos alimentares ucranianos e vendê-los.

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A CNN reconheceu que é difícil ter a certeza se o navio está a ser carregado com cereais ucranianos roubados, mas a Crimeia produz poucos cereais, ao contrário de outras regiões ucranianas como Kherson e Zaporijia, próximas da península e agora também controladas pelas forças russas.

No Twitter, contudo, O Centro Estratégico de Comunicações (Stratcom) do Ministério da Informação e da Cultura da Ucrânia afirmou que as imagens “mostram grãos de cereais ucranianos roubados a serem carregados em navios russos na Crimeia“.

Segundo a Sky News, as imagens foram captadas nos dias 19 e 21 de maio, e nelas é possível ver os cargueiros da Rússia “Matros Pozynich” e “Matros Koshka”.

Antes do início da guerra, o trigo russo e ucraniano representava quase 30% do comércio mundial, sendo a Ucrânia o quarto maior exportador mundial de milho e o quinto maior de trigo, de acordo com dados do Departamento de Estado norte-americano.

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, que ajuda a combater a insegurança alimentar global, compra cerca de metade do trigo da Ucrânia todos os anos, tendo alertado que se registarão consequências terríveis se os portos ucranianos não forem reabertos.

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A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A guerra na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas das suas casas — cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,3 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também as Nações Unidas disseram que cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

(Notícia atualizada às 22h00 com as imagens dos alegados cargueiros a roubaram os cereais ucranianos.)