O debate era sobre o acolhimento de refugiados em Setúbal mas rapidamente se tornou sobre a vida do “novo” PSD. Com os sociais-democratas a contribuírem para o chumbo da criação de uma Comissão de Inquérito, André Ventura lembrou que a ideia é defendida pelo presidente eleito, Luís Montenegro, pressionando os sociais-democratas a fazerem o que o novo líder entende. André Coelho Lima, deputado e a vice de Rui Rio, lembrou que “até ver, quem fala pelo PSD somos nós, os que aqui estão”, aconselhando o Chega a não se meter na vida interna do partido.

A ideia surgiu durante a campanha para as eleições diretas do PSD, pela boca de Luís Montenegro, mas foi o Chega que esta quarta-feira levou a ideia a debate na Assembleia da República. Luís Montenegro desafiou a oposição parlamentar “a poder avaliar a possibilidade de constituir uma comissão parlamentar de inquérito sobre este caso”. Na altura, confrontando com as declarações do então candidato, Rui Rio escusou-se a fazer comentários, não disfarçando algum mal-estar.

Com o PSD a fazer saber que se vai abster, secundando assim o PS na rejeição da comissão de inquérito, André Ventura apontou aos sociais-democratas. O presidente do Chega classificou como “muito curioso” que a ideia não tenha sido do próprio partido mas sim “do novo presidente social-democrata”, lamentando que “se mude de posições em cada momento”.

Na resposta André Coelho Lima, que é também vice-presidente da bancada, lembrou a André Ventura que quem manda no PSD ainda são os sociais-democratas e não o líder do Chega. O PSD entende que uma comissão neste momento é “oportunista”, mas não afasta, para já, a apresentação de uma proposta própria no futuro, assim continuem a estar em falta os esclarecimentos por parte do primeiro-ministro.

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Voltando a André Ventura, o líder do Chega entende que António Costa já devia ter prestado esclarecimentos na Assembleia da República, sobre as informações que tem e que a sua presença na comissão é necessária “para que o Governo explique o que sabia e que não disse a esta casa [ao Parlamento]”.

Também o Bloco de Esquerda criticou a iniciativa do Chega, com Pedro Filipe Soares a dizer que “não alimenta reais expectativas sobre os resultados desta comissão de inquérito”, ainda que reconhecendo que “o Governo ainda deve respostas ao país”.

O PCP disse entender que há questões por responder e desafiou a ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, a responder às acusações com o presidente da Câmara de Setúbal. Recorde-se que a autarquia sadina acusou a socialista de ter feito “afirmações falsas” no Parlamento e exigindo que se retratasse.

O Executivo socialista defende-se com os vários inquéritos em curso. A secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Rodrigues, considera que “as diligências que o Ministério Público iniciou a 10 de maio” tornam redundante a realização de uma comissão de inquérito.

A Iniciativa Liberal não colhe este argumento e critica o papel da bancada do PS, acusando os socialistas de terem “bloqueado o papel fiscalizador do Parlamento“. Para os liberais, esse gesto só “aumenta o cadastro de inimputabilidade” dos socialistas.

* Artigo atualizado às 10h53 com a esclarecimento sobre o sentido das palavras de André Coelho Lima, que se referia ao Chega e não à nova direção do PSD