Se o general Dvornikov nunca foi nomeado, então o general Dvornikov não pode ser afastado. Moscovo nunca confirmou as informações divulgadas pelo Ocidente e, agora, o silêncio é igual. No fim de semana de 9 e 10 de abril (45.º e 46º dias de guerra), os serviços secretos dos EUA avançaram que o “Carniceiro da Síria”, cognome do general, tinha sido escolhido para liderar a guerra na Ucrânia. Agora, as mesma fontes, citadas pelo The New York Times, dizem que o general não é visto há duas semanas. Um grupo de investigadores russos independente já tinha alertado, no final de maio, que Dvornikov já não comandava as tropas russas.

O general terá sido substituído por Gennady Zhidko, segundo o Conflict Intelligence Team (CIT), uma equipa de bloggers que se dedica a investigar o regime de Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e que colabora com diversos meios de comunicação internacionais como a BBC, a Sky News, a agência Reuters, ou a Der Spiegel. Tal como acontece com muitas outras informações, esta mudança no comando não é confirmada pelo Kremlin.

Discreto, estratega, confiável: quem é Aleksander Dvornikov, o novo homem de Putin à frente da guerra

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A questão que se coloca é o que terá acontecido a Aleksandr Vladimirovich Dvornikov. Conhecido como o “Carniceiro da Síria”, devido à quantidade de mortos civis que fez em Aleppo, durante a guerra naquele país, uma das suas primeiras ordens, ao ganhar o controlo das tropas na Ucrânia, terá sido também um massacre: o ataque com mísseis a uma estação de comboios em Kramatorsk, onde morreram mais de 50 civis, incluindo 5 crianças.

Dvornikov é um herói de guerra russo e um militar consagrado com experiência na Síria, algo que não é incomum entre os generais russos. Como já escreveu o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), think thank nos Estados Unidos, todos os atuais comandantes de distrito militar da Rússia fizeram pelo menos uma comissão na Síria.

“Parece ter sido política militar russa fazer rotação de oficiais superiores durante o serviço na Síria”, escreviam Mason Clark, Karolina Hird e George Barros — analistas do ISW — quando Dvornikov foi escolhido. O general, sublinhavam, era o mais graduado dos três comandantes de distrito militar envolvidos na invasão, e Moscovo estava a concentrar os esforços de guerra na região que o militar já comandava, o Donbass. “Se Putin tivesse escolhido outro oficial para comandar todo o esforço de guerra, provavelmente teria de substituir Dvornikov”, defendiam.

Morto pela Ucrânia?

As autoridades ucranianas alegam ter eliminado doze generais russos desde 24 de fevereiro, data em que Vladimir Putin ordenou a invasão do país — um número que deixa os analistas militares surpreendidos, já que não é habitual tantas altas patentes serem eliminadas pelo adversário.

Na maioria dos casos, alguns confirmados, outros disputados, a Ucrânia tem divulgado a identidade dos generais mortos. O nome de Dvornikov não apareceu, até agora, em nenhuma lista. Seria de esperar que o exército ucraniano anunciasse a morte do general, caso o tivesse abatido.

Outra hipótese sobre a mesa, é que o Kremlin o tenha afastado do cargo, já que é sabido que Vladimir Putin tem por hábito afastar os seus adversários. O problema desta hipótese é que Dvornikov e o Presidente russo são tidos como próximos e não haveria um motivo óbvio de desacordo entre os dois.

O Conflict Intelligence Team, quando avançou que o general Zhidko era quem comandava a operação militar na Ucrânia, disse não ter conhecimento do motivo que levou ao desaparecimento de Dvornikov. A replicação da estratégia usada na Síria, de rotação dos militares no comando, poderia ser a explicação mais simples e óbvia.

A única certeza é que o general Dvornikov não é visto há quase duas semanas, nem no terreno, nem no Kremlin.