A ONU está a investigar o suposto envio de crianças ucranianas para a Rússia, onde seriam oferecidas para adoção a famílias russas, disse a Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Perante o Conselho de Direitos Humanos, cuja 50ª sessão está a decorrer em Genebra, a Alta-Comissária, Michelle Bachelet, explicou que o seu gabinete está “a analisar as acusações de deportações forçadas de crianças da Ucrânia para a Federação Russa”.
De acordo com estas acusações, algumas crianças foram “sequestradas de orfanatos para serem oferecidas para adoção na Rússia”.
Segundo Bachelet, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos não tem condições de confirmar estas acusações, nem o número de crianças em causa.
Vários milhares de crianças supostamente foram levadas da Ucrânia para a Rússia desde o início da invasão do território ucraniano pelas tropas russas, em 24 de fevereiro.
Em março, a ONU já chamava a atenção para o risco de adoção forçada de crianças ucranianas, em particular as cerca de 91 mil que viviam em orfanatos no início do conflito, principalmente nas regiões a leste do país, em guerra desde 2014.
Estamos preocupados com as supostas intenções das autoridades russas de permitir a realocação de crianças ucranianas a famílias que vivem na Federação Russa, pois parece não incluir medidas de reunificação familiar e nem respeitar os melhores interesses da criança”, disse Bachelet ao Conselho de Direitos Humanos.
“Continuaremos a vigiar a situação de perto”, concluiu.
“A adoção nunca deve ocorrer durante ou imediatamente após uma emergência humanitária”, alertou esta semana a diretora regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para a Europa e Ásia Central, Asfhan Khan.
Essas crianças não podem ser declaradas como órfãs, pois “qualquer decisão de mover uma criança deve ser baseada nos seus melhores interesses e qualquer movimento deve ser voluntário”, afirmou Asfhan Khan.
Em relação às crianças “que foram enviadas para a Rússia, estamos a trabalhar em estreita colaboração com mediadores e redes para ver como podemos documentar melhor estes casos“, explicou a diretora regional do UNICEF, acrescentando que atualmente não é possível ter acesso a essas crianças.