“É tempo de dizer basta e tomar decisões urgentes”. Foi assim que Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), começou a apresentação do estudo, efetuado pela consultora EY, que avalia “O custo da não decisão sobre a implementação do novo aeroporto de Lisboa”.

Na hipótese mais otimista, das quatro estudadas, a perda potencial acumulada de riqueza gerada (VAB) atinge os 6,8 mil milhões de euros, juntamente com a não criação de 27,7 mil empregos anuais e a uma perda de receita fiscal de 1,9 mil milhões de euros. Este cenário mais otimista avalia a possibilidade Portela +1, disponível em 2028, ou seja, se a decisão de construção fosse tomada imediatamente e a recuperação do turismo fosse rápida.

“O gap entre a procura e a capacidade do Aeroporto Humberto Delgado poderá atingir os 9 milhões no total dos quatro anos, implicando uma perda de cerca de 3 milhões de turistas estrangeiros”, refere o estudo.

Num cenário mais extremo, em que a procura turística será rápida, ultrapassando a de 2019 em 2023, mas a decisão sobre a construção do aeroporto continue adiada, as perdas potenciais de VAB chegam aos 21,4 mil milhões de euros, e a não criação de emprego atinge os 40 mil postos anuais. A receita fiscal perdida chega aos seis mil milhões de euros. Neste cenário, Lisboa só teria um novo aeroporto em 2034 ou a opção Portela +1 só estaria disponível nesta data.

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Aqui, “a perda de passageiros poderá atingir os 58 milhões de passageiros entre 2022 e 2034 (média de 4,5 milhões de passageiros/ano), o que elevaria a perda de turistas estrangeiros para quase 17 milhões nesse período”.

O estudo apresenta mais dois cenários. No entanto, segundo Francisco Calheiros, essas opções já não estão em cima da mesa, uma vez que avaliam a hipótese de uma recuperação lenta do turismo, em que os valores de 2019 só serão verificados em 2025, o que não se verifica. O cenário que prevê uma decisão rápida (2028) e uma recuperação lenta determina perdas de 3,5 mil milhões de euros, mais de 21 mil empregos e 973 milhões de euros de receita fiscal.

Já o cenário que avalia uma decisão adiada (2034) e uma recuperação lenta indica que a perda de VAB poderia chegar a 16,8 mil milhões de euros, não seriam criados 37,3 mil empregos e a perda de receita fiscal de 4,7 mil milhões de euros.

“Já não nos livramos de perder 6,8 mil milhões no cenário melhor, disto já não nos livramos”, lamentou o presidente da CTP.

Para chegar a estes valores, foram considerados os “impactos económicos resultantes das despesas realizadas em território nacional por turistas estrangeiros movimentados pelo Aeroporto de Lisboa, acrescidos dos impactos económicos associados às atividades aeroportuárias localizadas no Aeroporto Humberto Delgado”.

Questionado sobre as opções em cima da mesa, nomeadamente a do aeroporto de Beja, Francisco Calheiros realçou que o objetivo do estudo não é estudar alternativas. “Há estudos para tudo. Não estamos a discutir nem Beja, nem Alverca, nem Montijo nem Alcochete. O que estamos a apelar é que tem de haver uma decisão. Não quero entrar na discussão das alternativas. O facto de estarmos a decidir há 53 anos não é aceitável. Chega”, sublinhou.

CTP sabia da decisão do ministro

A decisão publicada em despacho a 29 de junho, e depois revogada a pedido do primeiro-ministro no dia seguinte, e que previa a construção imediata do Montijo e o encerramento da Portela e do Montijo em 2034, após a construção do aeroporto de Alcochete, era do conhecimento do presidente da CTP. Questionado pelos jornalistas sobre se tinha conhecimento da decisão de Pedro Nuno Santos, Francisco Calheiros admitiu que sim. “Soube no dia anterior” pelo ministro, revelou na conferência de apresentação do estudo. “Tivemos uma conversa com o senhor ministro, que disse que ia anunciar a decisão de arrancar com o aeroporto do Montijo, razão pela muito rapidamente congratulámos, porque é uma decisão”, revelou.

“Aplaudimos a decisão e voltávamos a aplaudir. O que estamos a pedir é uma decisão. Quero focar esta discussão no conteúdo e não na forma”, realçou. Antes de apresentar o estudo publicamente, a CTP levou-o ao Governo ao Presidente da República e ao PSD. “Foi explicado que a recuperação lenta já não está em cima da mesa”.

A decisão vertida no despacho revogado “é a que mais se assemelha” à decisão rápida referida no estudo, a que prevê perdas de 7 mil milhões de euros se houver Montijo até 2028. “O que eu acho que o ministro das Infraestruturas quis dizer foi que, para já vamos ter Montijo. Estamos a falar de quase 60 milhões de turistas, com Portela mais Montijo. Entendi que, para não estarmos mais 53 anos a decidir o futuro aeroporto, quando Portela mais Montijo esgotar, a alternativa do Governo era fazer Alcochete”.