A Ucrânia tem um novo procurador geral para o Combate à Corrupção. Oleksandr Klymenko vai liderar a SAPO, uma unidade teoricamente independente do poder político que supervisiona todas as investigações judiciais a casos de corrupção no país. Foi formalmente nomeado esta semana.

A história é contada pelo jornal The Kyiv Independent, que explica o relevo da nomeação e os bastidores da escolha de Oleksandr Klymenko para o corpo. Segundo o diário ucraniano, há praticamente dois anos (desde agosto de 2020) que este organismo estava sem um líder, algo que teve um impacto nocivo no combate à corrupção na Ucrânia ao longo desse período.

O antecessor, Nazar Kholodnytsky, deixou o cargo envolto em polémica, acusado por ativistas anti-corrupção e especialistas da sociedade civil de conivência com este crime ao obstaculizar e travar investigações em curso.

A nomeação de um responsável para supervisionar as investigações judiciais a casos de corrupção na Ucrânia foi uma das principais exigências da União Europeia para conceder ao país o estatuto de candidato à adesão à UE, explica o The Kyiv Independent, que indica também que especialistas ocidentais estiveram envolvidos no processo de seleção de Oleksandr Klymenko para o cargo.

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Esse processo de seleção foi, porém, acidentado e teve contornos rocambolescos. Além de especialistas ocidentais, o painel incluía elementos pró-Governo que atrasaram o processo de escolha quando o nome de Andriy Kostin, antigo legislador (agora Procurador Geral da Ucrânia) ligado ao partido de Zelensky, foi vetado pelos peritos ocidentais pela sua associação ao poder político e a Volodymyr Zelensky.

Segundo o The Kyiv Independent, os integrantes pró-governo do painel de seleção faltaram a reuniões durante meses, atrasando a nomeação, e vetaram a maioria dos candidatos independentes do poder político.

Mesmo após a escolha de Oleksandr Klymenko, um dos poucos candidatos que resistiram a vetos quer dos responsáveis ucranianos quer dos responsáveis ocidentais, a entrada em funções foi atrasada durante meses face às previsões iniciais. Só a pressão mais recente feita pela União Europeia e Comissão Europeia permitiu resolver o impasse.

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As dúvidas sobre o modus operandi de Oleksandr Klymenko como principal responsável do país no combate à corrupção são significativas. Apesar de Klymenko, de 35 anos, ter no currículo várias investigações em processos complexos de suspeitas de corrupção de altas figuras do poder político e judicial da Ucrânia — liderou inclusive uma investigação a um chefe de gabinete adjunto de Zelensky, Oleh Tatarov, por suspeitas de subornos —, o seu processo de seleção terá gerado dúvidas sobre o que poderá ser a atuação no cargo.

De acordo com o The Kyiv Independent, Klymenko não era o candidato mais bem colocado para a nomeação, mas acabou por beneficiar dos vetos a outros candidatos, feitos por membros pró-Governo do painel de seleção. Ao contrário de outros candidatos, o seu nome não foi vetado pelos elementos que atrasaram o processo e propuseram um candidato alinhado com o poder político, o que, por si só, levantou questões. Mesmo que a conduta prévia de Oleksandr Klymenko na condução de investigações em casos de corrupção seja globalmente elogiada na Ucrânia.