A Nigéria avisou a Galp que vai sofrer mais falhas na entrega de gás natural liquefeito (GNL). Em comunicado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, a empresa portuguesa indica que foi avisada de que as cheias que atingiram a Nigéria vão provocar uma redução substancial na produção e fornecimento de GNL por parte do seu maior fornecedor.
Neste momento, a Galp diz não ter informação para avaliar o potencial impacto deste evento, que pode no entanto, “resultar em mais disrupções nas suas fontes de fornecimento”. Os contratos de compra de gás à Nigéria são os responsáveis pelo abastecimento do mercado regulado de gás natural em Portugal, para o qual muitas famílias estão a regressar para fugir à escalada dos preços no mercado livre.
Já esta manhã a empresa esclareceu que “está a monitorizar os desenvolvimentos na Nigéria. Não é claro neste momento quando é que as operações locais serão restauradas ou se os impactos deste evento poderão resultar em ruturas adicionais de abastecimento para a Galp.»
Para além do abastecimento aos clientes do mercado regulado, o contrato de Nigéria é também o responsável pelo fornecimento à Turbogás, a central de ciclo combinado que produz energia elétrica para o mercado regulado.
O Governo já reagiu a este anúncio, indicando que não tem neste momento indicação de quebra nos fornecimentos da Nigéria, realçando que não há escassez no mercado.
Nigéria. Governo diz que não há confirmação de redução de gás e afasta escassez no mercado
Falhas no gás podem comprometer eletricidade
Desde o ano passado que a Nigéria tem vindo a falhar entregas de gás natural à Galp por razões operacionais. O risco de perturbações no abastecimento levou já o Governo e os gestores da empresa a deslocarem~se ao país para garantir a segurança destes fornecimentos.
No entanto, agora o que está em causa são motivos de força maior invocados pela empresa Nigeria LNG por causa das inundações que estão a afetar a produção de gás natural naquele país. Esta situação surge num quadro de grandes dificuldades na diversificação de fontes de fornecimento de gás natural decorrentes dos cortes nas entregas à Europa por parte da Rússia.
Ao mesmo tempo que coincide com um período de grande dependência do sistema elétrico das centrais a gás por causa seca que travou a produção hidrolétrica em 15 barragens. Há um ano, Portugal desligou a última central a carvão, o Pego, ficando dependente da produção das centrais a gás e das importações de eletricidade de Espanha para cobrir a procura que não é abastecida por fontes renováveis.
Alternativas de abastecimento mais difíceis e mais caras
Portugal tem sempre sublinhado que a dependência do gás russo é muito reduzida, mas o país não evita o impacto nos preços. O preço do gás que vier a ser adquirido para substituir o GNL da Nigéria será sempre substancialmente mais caro porque está exposto ao mercado spot, enquanto os contratos de take or pay com este fornecedor garantem preços mais baixos.
A Argélia, outro fornecedor histórico de Portugal interrompeu a venda ao nosso país via gasoduto no ano passado por causa das tensões com Espanha.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), entre março e agosto de 2022, o período da guerra na Ucrânia, os quatro principais fornecedores da gás foram os Estados Unidos (peso de 40,3%), Trindade e Tobago (22,8%), Nigéria (19,6%) e Guiné Equatorial (12,9%). No entanto, no ano passado a Nigéria foi o maior fornecedor de gás a Portugal.
A Galp lamenta o impacto humanitário que as cheias estão a ter no país africano e vai continuar a monitorizar a situação e promete dar informação sobre mais desenvolvimentos.